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Xana Abreu recorda diagnóstico de cancro e o fim de ‘Xana Toc Toc’: “Chegou a minha hora”

A Televisão
8 min leitura

Xana Abreu, mais conhecida como Xana Toc Toc foi a convidada de Daniel Oliveira no programa ‘Alta Definição’, da SIC.

Xana Abreu, também conhecida como Xana Toc Toc abriu o coração numa conversa emotiva com Daniel Oliveira no programa ‘Alta Definição’, da SIC.

A artista falou sobre a infância marcada pelo abandono do pai — que não sabe se está vivo ou morto —, da relação conturbada com a mãe e da dura batalha contra o cancro.

Quando era pequenina diziam que eu era pessoa muito sociável, mas muito carente. Vem da infância, o meu pai foi-se embora tinha eu um ano. De certa forma senti-me responsável pela separação dos meus pais. Sempre soube que não era uma criança bem-vinda para o meu pai. Quando nasci ele foi embora. É difícil uma criança saber disto. Sempre me fez muita falta”, lembra.

Aos seis anos apareceu e desapareceu, no mesmo dia. Lembro-me de chorar baba e ranho. Lembro-me das lágrimas que deitei nas escadas do meu prédio. Queria ir a correr atrás do meu pai, sabia que ele ia embora para sempre”, lamenta Xana Abreu. Mais tarde, o seu pai voltou. “Aos 17 anos apareceu outra vez, mas eu tive a decisão de não o voltar a ver. Já não era pai, era uma pessoa estranha. Preferi não ter mais contacto com ele.

Desconheço o paradeiro, acho que ele já não está vivo”, confessa.

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A relação com a mãe

Apesar de ter vivido com a mãe e com o irmão mais velho, Xana Abreu considera que a mãe a culpava pela ausência do pai. “Era um amar dela, muito próprio”, afirma.

Agora que a minha mãe partiu, percebo coisas que não percebia antes. Percebo o amor todo que ela tinha por mim, mas na altura ela tirava-me a liberdade. Liberdade de expressão, de sair à rua. Nunca podia sair, sentia-me prisioneira da minha mãe. Sentia que ela não me queria ver feliz. A minha mãe era uma pessoa muito nervosa. Batia-me bastante. A minha família não sabe. Por qualquer coisinha. Eram nervos à flor da pele“, lamenta.

“Descarregava em mim. Mas pior era a psíquica. Fica marcada para sempre. Tinha um jeito de amar que me tirava toda a liberdade, fazia de mim prisioneira dela”, acrescenta.

Devido à infância pouco estável, Xana Abreu começou a ter ataques de pânico quando estava na universidade. “Passei, talvez por acumulação, por um esgotamento nervoso muito profundo.” “Procurei um psiquiatra na altura, estava no fundo do poço. Vivia com a minha mãe, mas o namorado da altura, que é o meu atual marido, levou-me para casa dele, com os pais dele. Foi difícil para mim. Estava apática, não tinha força”, recorda.

Grávida aos 19 anos

Xana Toc Toc engravidou aos 19 anos. “Quando estava na universidade descobri que estava grávida.” Um sonho que sempre teve desde nova. “Desde os 12 anos dizia que ia ser mãe de oito filhos”, conta Xana Abreu, acrescentando: “Quando tinha brigas com a minha mãe, dizia-lhe: estás-me a ensinar muita coisa, vou fazer tudo aquilo que não fazes comigo, vou dizer tudo o que não me dizes.”

Devido à depressão que tinha na altura, o médico que a seguia aconselhou-a a não ter o bebé. “O meu psiquiatra na altura disse: nem pensar, não podes ter este filho. Tinha que fazer um desmame [da medicação]. Cheguei a casa e pus os medicamentos todos de lado”, explica. “Tive uma gravidez muito difícil, no meio de um esgotamento e depressão profunda. Tinha medo que a minha filha nascesse nervosa.”

Mas acabou por acontecer o contrário. “A minha filha nasceu o bebé mais calmo do mundo. Nunca fez uma birra.

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O cancro

Mais tarde, enquanto cuidava da mãe, que lutava contra um cancro, apercebeu-se que algo não estava bem com a sua saúde. “Numa fase em que a minha mãe também estava doente, eu estava a cuidar dela. Comecei a ter uma dor na mama. Fui ver o que era, ao IPO, e o médico disse: “Isto é assim, menina, o seu cancro está a evoluir monstruosamente dia após dia”, recorda Xana Abreu.

Para a semana se calhar já não esta cá. Vai ficar na lista de espera para ser operada. Estava sem dinheiro, tinha acabado com o meu seguro de saúde. Pensei que tinha chegado a minha hora. Fui ao privado e a minha médica pegou em mim e disse: ‘hoje e amanhã vai fazer exames, terça vou-te operar.’ Senti uma coisa maternal nela”, disse.

Xana Abreu revela que teve de “pedir dinheiro emprestado” para fazer os tratamentos. “O meu dilema era: e agora? A minha mãe está doente e eu não posso ir lá. Disse ao meu marido para ir lá e fazer de conta que eu tinha ido viajar. Ela ligava-me a dizer: ‘já não queres saber de mim’. Tive que fazer quimioterapia e ausentar-me. Ela sentiu abandono da minha parte.

Mas uma amiga aconselhou-a a contar a verdade à mãe. “Disse à minha mãe. Ela partiu dias depois, piorou significativamente. Até hoje sinto essa culpa. Será que eu devia ter dito?”, questiona-se.

Ironicamente, no dia em que estava a ser operada, o primeiro disco da Xana Toc Toc foi para as lojas. A seguir fiz quimioterapia. Não as fiz todas, o meu corpo não estava a aguentar. Não estava cá. Enquanto o meu companheiro, agência e editora dizia que estava há 40 semanas no top 1 em Portugal, isso para mim não significava nada”, revela.

Depois comecei a erguer-me aos poucos. Perguntaram-me se tinha forças para os concertos e eu careca. Não estava preparada”, conta Xana Abreu.

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Mas mesmo estando careca decidiu fazer concertos. “Foi o concerto mais especial da minha vida, o primeiro no Coliseu do Porto. Ganhei forças. Entretanto a minha médica disse-me que tinha de ser operada outra vez. A ironia da minha vida. Estava a ser operada e o meu segundo CD estava a ir para as lojas. O meu cancro foi profundo, tive uma invalidez de 73%”, revela.

No ano passado, Xana Abreu tomou a decisão de sair do projeto. “Já não tenho saúde. Não consigo fazer os concertos, são demasiado puxados. No fim fico duas semanas na cama. Por mais que queira, já me esforcei demasiado estes 10 anos (…) Sinto que estou a matar o projeto e o amor da minha vida. E a mim. A Xana Toc Toc é uma extensão de mim”, desabafa.

Vou sair dos palcos enquanto ‘Xana Toc Toc’. Estou cansada de trabalhar muito. Cansada de fingir que estou sempre saudável, sempre bem. Muitas vezes estava em palco a ter vertigens e falta de ar. É muito sério”, remata Xana Abreu.

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