AntĂłnio Marinho e Pinto esteve, esta segunda-feira, Ă conversa com Manuel LuĂs Goucha, na TVI, e falou sobre as divergĂȘncias polĂticas que tinha com o pai.
O seu âbatismo polĂticoâ decorreu no Porto, numa manifestação: âAparece a polĂcia de vĂĄrios lados, Ă pancada. Abriram-me a cabeça em dois sĂtios. Eu tinha 17/18 anos e, a partir daĂ, nĂŁo houve regressoâ.
Marinho e Pinto recordou o tempo que passou em Coimbra, quando era jovem e tinha uma âvida cultural intensaâ. âForam tempos em que nĂłs, jovens, sentĂamos que devĂamos intervir e devĂamos atuarâ, sublinhou.
âA polĂcia ocupou a associação acadĂ©mica e, a dada altura, um chefe da polĂcia diz: âTodos vĂŁo ter de sair e vĂŁo ter de se identificar Ă saĂdaâ. Dei um passo em frente, virei as costas para a polĂcia e disse aos colegas: âNĂŁo temos nem de sair nem de nos identificarmos! Isto Ă© nosso! Isto Ă© a nossa associaçãoâ, recordou, referindo que, de seguida, a polĂcia espancou-o e levou-o para a esquadra.
âO meu pai era uma pessoa que gostava do regime. Foi um choque enorme quando soube que eu tinha sido preso pela PIDE, em Coimbra, por ser comunista. E nĂŁo falĂĄmos mais durante quase 17 anosâ, lembrou Marinho e Pinto.
Certo dia, Marinho e Pinto decidiu viajar atĂ© ao Brasil, onde o pai vivia, para resolver-se com ele: âPensei âsĂł tenho este pai, este Ă© o meu paiââ. âApresentei-me lĂĄ de surpresa e demos aquele abraço de pai e filho, aquele abraço de 17 anos de ausĂȘnciaâ, disse.
âNĂŁo foi uma coisa um contra o outro. Ele nĂŁo respondeu Ă minha carta, eu nĂŁo respondi Ă dele. Mas ele nunca deixou de ser o meu pai, eu nunca deixei de olhar para ele como meu pai e ele nunca deixou de olhar para mimâ, explicou Marinho e Pinto a Manuel LuĂs Goucha.
âEu achava que ele nĂŁo tinha razĂŁo. Achava que aquilo que ele acreditou no tempo dele estava a desmoronar-se e tinha de se desmoronar, porque, por todo o mundo, era esse o sinalâ, disse ainda Marinho e Pinto, referindo que, por vezes, Ă© preciso âeste esforçoâ de se colocar âno lugar do outroâ.