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COVID-19! Pivô da SIC escreve sobre a aplicação e desabafa: “Estamos cansados”

Duarte Costa
5 min leitura
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Paulo Garcia, jornalista da SIC, escreveu um longo desabafo sobre o COVID-19 e toda a polémica que envolve a aplicação ‘Stay Away Covid’. Acredita que não é eficaz e deixou ainda um alerta: “Estamos todos muito cansados”.

Leia aqui o texto completo:

Confesso a minha tristeza como cidadão, como pai e ainda como alguém que tem responsabilidade pública enquanto jornalista, perante tantas alarvidades que vou ouvindo.
Não seria tão grave se algumas e, se calhar, as piores não surgissem de quem tem a responsabilidade e a obrigação de ajudar explicando, comentando, reportando, aos que por várias razões não sabem, não conhecem, não têm acesso rápido às coisas. Já dando de barato um político, que muito respeito e que não estou livre de um dia, em desespero de causa, ter necessidade de nele votar porque está na primeira linha de sucessão, que se mostrou muito ofendido porque a ‘dita’ aplicação milagrosa não ‘apitou’ na reunião do Conselho de Estado, a avisá-lo de que havia ali infetados à solta.
Claro que ‘aquilo’ não apita nem apitará nunca. Primeira conclusão: ninguém sabe, ninguém conhece a aplicação, ninguém levou a ‘dita’ aplicação a sério o suficiente para perceber o que ela vale. E é aqui que ela não faz sentido e não no resto. Porque se um dia, obrigados ou não, tivermos de andar de telemóvel ao alto, na rua, à procura dos infetados que desgraçaram a vida a alguém que amamos, vamos fazê-lo.
Se chegarmos ao ponto, obrigados ou não, de ter a necessidade de nos fiscalizarmos uns aos outros em relação à máscara que está no bolso em vez de tapar o que deve tapar iremos fazê-lo, provavelmente metendo-lhes as máscaras pela garganta abaixo, que se lixem as ‘liberdades e as garantias’ que servem para aqui, mas já não servem para as milhões de aplicações que aceitámos ter nos nossos ‘brinquedos móveis’ e que, para termos acesso àquelas brincadeiras que gostamos, temos de fornecer a entidades que jamais saberemos quem são até o número das cuecas.
Estamos numa batalha pela sobrevivência, continuamos a lutar por algo que continuamos a desconhecer. E é aqui que a alarvidade, a ignorância se torna criminosa. Horas e horas de tanto especialista em tudo menos no que realmente nisto não bate certo e é tão simples: para além de só ser acessível para quem tem dinheiro para os telemóveis mais espertos e caros, esta aplicação não serve. Não resolve nada e porquê? Porque quem a tem e que por hipótese até esteja infetado, só aciona o código que lá está se quiser.
Isto é: alguém está infetado, até tem a aplicação instalada, tem o código para poder acionar, mas entende que não quer partilhar com ninguém que está infetado. E poderá continuar a andar na rua infetado na mesma, junto de outras pessoas que até poderão ter a aplicação, com o Bluetooth ligado como manda a regra, mas se se recusar a partilhar essa informação através da ‘dita’ aplicação para toda a comunidade não acionando o código respectivo, e não é obrigada a fazê-lo, ‘aquilo’ não serve para nada.
Como se calcula facilmente, a ‘dita’ aplicação não tem poderes de adivinhação ou divinos capazes de sacar do ar a infeção. Alguém tem de meter lá aquilo, meter os dados para que a dita aplicação cumpra a sua função. Uma coisa tão complexa, tão discutida por gente tão especializada em tudo, tão receosa das suas liberdades pessoais e coletivas, este papão que nos vai buscar à cama ou à casa de banho, que nos invade a privacidade, que está de olho nos nossos podres privados, afinal morre em algo tão simples: é totalmente ineficaz !
Agora, o que nos dava jeito era uma aplicação que nos ajudasse a ter fé nisto tudo. Uma aplicação que nos ajudasse a ultrapassar o cansaço, o medo, a saturação. Uma aplicação que nos alertasse para os cretinos e os idiotas que continuam a levar isto a brincar. Para os que falam do que desconhecem. Mas não há aplicações para a estupidez, porque lá está: os ‘ditos’ tinham de meter o código na ‘dita’ para nós os conhecermos à légua. Porque estamos todos muito cansados. Todos!
Covid-19
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