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Júlio Isidro e a morte de Jorge Sampaio: “Por medo de mim não desfilei perante o caixão”

Duarte Costa
4 min leitura
Reprodução

Júlio Isidro não marcou presença nas cerimónias fúnebres de Jorge Sampaio.

Foi com muita emoção que Júlio Isidro acompanhou, pela televisão, as cerimónias fúnebres do antigo Presidente da República Jorge Sampaio. O mítico apresentador de televisão não quis deslocar-se ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, com medo de que as “câmaras indiscretas” o apanhassem “de lágrimas a correr“, como lhe aconteceu durante todo o fim de semana.

Ainda assim, Júlio Isidro quis prestar uma última homenagem a Jorge Sampaio através de uma publicação que partilhou na rede social Facebook. Nela, recordou o dia no qual foi condecorado pelo antigo Presidente e referiu-se a ele como “uma pequenina luz que continua a brilhar“.

Não vou usar mais expressões elogiosas sobre a sua condição de cidadão e obra enquanto político. Tudo dito, tudo justo“, sublinhou num texto ao qual deu o título de “Partilhar lágrimas como abraços“.

Leia aqui:

«Senhor Presidente, não vou usar mais expressões elogiosas sobre a sua condição de cidadão e obra enquanto político. Tudo dito, tudo justo. Venho aqui dizer-lhe que não estive no seu velório e por razões óbvias, no ato final da sua homenagem nos Jerónimos. Fiquei em casa a olhar pela televisão, porque temos um ponto comum… somos de choro fácil.

Não quis que câmaras indiscretas me vissem de lágrimas a correr, como aconteceu comigo ontem e hoje. Vi-o em imagens retrospetivas a chorar, e chorei consigo.

Ouvi-o dizer que não há portugueses dispensáveis e admirei a sua capacidade para unir o que parece quase utópico, este país. Ouvi a Maria do Céu Guerra dizer “Uma pequenina luz” de Jorge de Sena e chorei, porque o sei quase de cor, e fiquei a saber que em comum temos este poema e o seu autor como dos nossos preferidos.

Fixei a frase do seu filho André quando disse que o pai foi um homem justo, corajoso, mas sem medo de chorar. Também assumo esse gesto em forma de abraço.

Escrevo estas palavras tão à maneira de quem não é da literatura, com a nossa foto à frente dos olhos no dia em que me condecorou com o título de comendador da Ordem do Infante… e não vou reproduzir a sua dedicatória.

Nunca pensei que tal pudesse acontecer a uma pessoa como eu que, tal como o senhor, “nunca quis ser herói” e não sou. Em dois dias consolidei a minha convicção de que o senhor “amou Portugal não pela força, mas pela sua fragilidade”, e percebi a razão de ser destes versos: uma pequenina luz bruxuleante e muda… Mas brilha. Não na distância. Aqui no meio de nós. Brilha.

Talvez por medo de mim próprio não desfilei perante o seu caixão, mas vi com olhos solidários o sofrimento cheio de dignidade da sua mulher Maria José e dos seus filhos Vera e André. Registei as mãos a suportarem a mãe de quem disseram: – À nossa mãe, sempre, sempre, estamos aqui para si e sempre consigo.

O dia está a morrer e o crepúsculo tinge o céu de cinza e vermelho suave. Mas há uma pequenina luz que continua a brilhar, a brilhar.» (Júlio Isidro)

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PARTILHAR LÁGRIMAS COMO ABRAÇOS.Senhor Presidente, não vou usar mais expressões elogiosas sobre a sua condição de…

Posted by Julio Isidro on Sunday, September 12, 2021