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Vera de Melo: “Há muita gente em casa que acha que percebe de psicologia”

"Ninguém opina sobre uma perna partida, mas há tanta gente a opinar e a ligar o ‘achómetro’ sobre aquilo que é a psicologia."

Ana Ramos
4 min leitura
Vera de Melo/Instagram

No “Dois às 10” desta terça-feira, na TVI, enquanto comentava um caso que foi noticiado, Vera de Melo mostrou alguma indignação perante um tema.

“A maioria das pessoas que tem problemas psiquiátricos tem uma visão crítica face à doença, está devidamente medicado e, por isso, está controlado e estável emocionalmente. O problema são aqueles que têm problemas psiquiátricos, não têm uma visão crítica face à doença, não estão medicados ou tendo a doença e tendo sido prescrito um tratamento não o cumprem. Esses é que podem ser o problema, é com esses que, provavelmente, nos devemos preocupar e com tantos outros que têm doenças efetivas e que nem sequer estão diagnosticadas”, começou por dizer a psicóloga.

“Depois, também existe um erro que, na comunicação social, a toda a hora se diz que as pessoas têm problemas psiquiátricos. E é importante dizer que uma pessoa que tem dificuldade de controlo dos impulsos e nós conhecemos muitas com as quais trabalhamos diariamente até, que dizem coisas sem pensar, têm dificuldade de controlo dos impulsos e não se diz que têm uma perturbação psiquiátrica”, reparou Vera de Melo.

“Acho que quando nós não sabemos – e isto acontece muito – o que é que a pessoa tem é difícil fazer o diagnóstico. Na nossa cabeça, não encaixa num determinado quadrado ou num determinado modelo, dizemos que tem um problema psicológico ou um problema psiquiátrico e isto não pode acontecer”, sublinhou Vera de Melo, explicando que “para a pessoa ter um problema psiquiátrico, tem de ter um diagnóstico e, muitas vezes, parte-se de um sintoma e esse sintoma tem de perdurar no tempo”.

“Imagine, a pessoa agora está muito triste, chora muito e as pessoas dizem: ‘Tens uma depressão’. Não chega! Os sintomas têm de perdurar tempo, um tempo suficiente para que se possa fazer esse mesmo diagnóstico”, continuou Vera de Melo.

“Há muita gente sentada, em casa e nos locais de trabalho, que acha que percebe de psicologia e que acha que percebe de psiquiatria, só porque leram os livros e viram umas coisas no Google, mas não é verdade”, acrescentou Vera de Melo.

“É preciso estudar-se uma vida inteira e por isso é que os psicólogos e os psiquiatras estudam uma vida inteira e, mesmo assim, ainda têm dúvidas. Ainda bem que têm e por isso é que trabalhamos em equipa para se conseguir fazer efetivamente diagnósticos, porque senão cometemos erros”, afirmou Vera de Melo, destacando que “a pessoa é uma complexidade”.

“Os problemas psiquiátricos não são visíveis. Se eu tiver uma perna partida ou um braço, um olho, alguma coisa, é visível, é palpável. Porque ninguém diz nem ninguém opina sobre uma perna partida, mas há tanta gente a opinar e a ligar o ‘achómetro’ sobre aquilo que é a psicologia, achando que sabe, mas não sabe nada”, rematou Vera de Melo.

Veja aqui uma parte da conversa.