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Salvador Martinha sobre polémica com Rui Sinel de Cordes: “De repente, levo com um calhau”

“Até hoje, acho que aquilo foi um blackout."

Ana Ramos
15 min leitura
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Salvador Martinha comentou, no mais recente episódio do seu podcast, “Ar Livre”, sobre a polémica acerca do espetáculo “Morro Amanhã”, com Rui Sinel de Cordes.

O humorista começou por desabafar que a semana foi “louca” e “muito pesada” e que ainda está a processar tudo o que aconteceu.

“É uma coisa, para mim, complicada porque eu sempre acreditei, desde o início do meu percurso, sempre fui fiel a este pensamento, que é: trabalhar, apresentar o meu trabalho, estar calado. Apresentar o meu trabalho, estar calado. Ou seja, sempre acreditei que este era o processo mais honesto, que era fazer o meu trabalho, deixar o nosso trabalho falar por si e tudo o que existe à volta do trabalho, todo o folclore que existe a pairar sobre determinado projeto é, para mim, folclore”, comentou Salvador Martinha.

Contudo, Salvador Martinha decidiu contar o que se passou, na sua perspetiva e admitiu: “Fiz este espetáculo e talvez tenha sido a primeira vez na vida que isto me fugiu completamente do controlo, tanto é que eu vou ter de falar sobre o que rodeou o espetáculo”.

O objetivo do espetáculo em causa, segundo o humorista, era fazer uma homenagem a Ricardo Vilão, que faleceu no ano passado e chegou a integrar um grupo de stand up comedy com Salvador Martinha, Rui Sinel de Cordes e Luís Franco-Bastos. “Sentimo-nos na necessidade de homenagear este amigo que nós gostamos tanto, porque foi muito importante para nós, o Ricardo Vilão”, declarou.

“Uma das conclusões que retirámos é que nós não íamos terminar com nenhuma conclusão, nem com uma lição de moral. Porque nós ainda estávamos a processar, portanto, não é à luz de dois ou três meses do desaparecimento de um amigo que temos alguma conclusão, ou seja, íamos partilhar uma série de dúvidas, mas, acima de tudo, íamos frisar, porque é que esta pessoa foi tão importante para nós”, descreveu Salvador Martinha, referindo que a ideia não era fazer stand up e, sim, “uma espécie de conversa”.

“Fizemos essa série de encontros e foram bons encontros, nostálgicos, muitos abraços, muitas memórias. Eu fiquei a perceber que tanto o Rui e o Luís Franco-Bastos têm uma memória muito melhor do que a minha”, acrescentou Salvador Martinha, referindo que estava “quase em exclusivo” a dedicar-se àquele trabalho.

“Foi trend do Twitter, trend do Google. Durante 48 horas, senti que foi a notícia. A notícia mais falada em Portugal… se calhar, é porque eu estava envolvido. Se calhar, não foi, não é? Quero acreditar que foram as buscas ao Miguel Albuquerque na Madeira, mas, pronto, quando se passa connosco, sentimos que é estamos no epicentro do problema”, continuou Salvador Martinha.

Salvador Martinha referiu que estavam um pouco “nervosos” por estarem a fazer um espetáculo na forma de conversa entre os três para homenagearam um amigo que tinha falecido não há muitos meses, mas que pareciam “seguros”.

“Primeiros 50 minutos, é pá excelente, estava a correr bem. Malta, estava a correr bem, eu estava excitado, eu estava estava excitado. Temos aqui um formato, eu lembro-me de ter pensado: ‘Temos aqui um formato’”, recordou Salvador Martinha.

“Depois, eu não consigo precisar bem. Malta, não consigo. Acho que foi progressivo, ou seja, nós vamos ficando excitados ao longo do espetáculo. O Rui começou a ficar excitado. (…) Normal, o Rui é intenso. Isso também foi falado no espetáculo da intensidade do Rui. Até chegou a ser elogiada a intensidade do Rui. Eu falei disso, falei que eu gostava de atuar com o Rui daquela intensidade antes dos bastidores”, relatou Salvador Martinha.

“O Rui não deixava a falar. Eu falava, ele não deixava falar, interrompia, estava muito excitado. Mas eu até aí estava bem e acho que o Bastos estava bem. (…) E ele estava a meio de uma história e o Rui interrompeu 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8. Não estava a deixá-lo e o Bastos sempre a brincar com ele, sempre apertar com ele também, porque o Bastos é aquela máquina de comédia. O Bastos nunca perde, o Bastos nunca perdeu. As piadas do princípio ao fim da noite é impressionante”, continuou ainda Salvador Martinha, acrescentando que acabou por ficar um pouco irritado com a situação.

“Nós temos um alinhamento para seguir para a frente. Ó pá, e aquilo não estava a fluir porque estávamos ali em loops de interrupções. Aquilo chateou-me, mas, pronto, pensei: ‘Isto é a intensidade. Loucura, sim”, sublinhou Salvador Martinha.

De seguida, Salvador Martinha contou que o público estava a aperceber-se do seu “desconforto”: “As pessoas estavam a falar também estavam a dizer assim, as pessoas falam. Falaram por nós. Se é o que foi, o que eu sinto, as pessoas estavam a ver que nós estávamos incomodados e que estávamos a contar histórias. Depois, tínhamos que olhar para o lado para lidar com uma interrupção, e começaram a dizer ‘Cala-te. Cala-te, Rui’”.

Entretanto, Salvador Martinha referiu que Rui Sinel de Cordes reagiu: “E o que vivemos ali foi entre a chapada dos Óscares e aquela vez em que o Kramer enlouqueceu e – não sei se se lembram desse episódio – carregou num gajo do público”.

Salvador Martinha destacou que aquela era “uma noite emotiva e que mexia com muita coisa” e lembrou que chegou a chamar a atenção dos seus dois colegas: “Malta, atenção a isto. Nós somos um grupo de músicos que não tocamos há muito tempo juntos, portanto, nós, quando começarmos a falar, as primeiras notas vão ser um bocado enferrujadas e é natural que que nós falhemos notas até ao fim”.

“Pronto e o público reagiu, disse: ‘Malta, também quero ouvir o piano e o violino’. Foi isto que se passou. O Rui passou-se, não é?! E tem ali um momento em que descarrega uma energia super negativa, uma raiva em cima de uma pessoa da plateia. Pá, uma coisa que não vale agora a pena estar a repetir as palavras, porque foi o momento em que uma pessoa, pá, colapsou. Acho que não estava lá totalmente quando fez aquilo”, comentou Salvador Martinha.

“Até hoje, acho que aquilo foi um blackout. Acho que entrámos ali num momento de blackout. Da 1:00 até às 2:00 deste espetáculo, houve ali um blackout, pronto, portanto, agora não interessa dizer quais foram as palavras. Mas entramos ali naquele momento que foi o momento de irritação”, considerou Salvador Martinha.

“Quando vivemos aquilo, como estamos num espetáculo de humor e tudo o que estava para trás era gargalhar, tudo o que é dito no espetáculo de humor, há ali um período em que ainda parece que está a contar como humor”, acrescentou Salvador Martinha.

“A senhora indignou-se, levantou-se, disse que ‘isto era uma vergonha’ e saiu da sala com as quatro amigas ou umas pessoas saíram lá em cima. Umas pessoas que saíram ao lado: ‘Uma vergonha, uma vergonha, uma vergonha’. Disseram para aí 15 pessoas, não sei, 20 pessoas. E ficou um gelo na sala”, pormenorizou ainda Salvador Martinha.

Os três decidiram continuar com o espetáculo: “Nós estamos treinados para continuar. (…) E fica ali uma leve linha de ‘Isto foi humor, não foi?’. Com o tempo, percebemos que não é um momento de humor, que foi um colapso de uma pessoa que estava em palco”.

“Continuamos com aquilo que sabemos fazer, em perceber onde é que estava o humor daquilo. Então, o que se passou foi pormo-nos lugar do público. Foi isso que nós fizemos. E começámos quase um roast ao Rui”, retratou Salvador Martinha.

Apesar disso, Salvador Martinha achou que Rui Sinel de Cordes não “estava a perceber bem” o que se tinha passado: “O Rui não pareceu acalmar com aquilo, ou seja, parece que o blackout continuou”.

“Nunca tinha visto uma coisa assim. De repente, acabou. As pessoas levantaram-se, pareciam flechas”, disse Salvador Martinha, referindo que, nos camarins, deram “na cabeça” do colega.

“Aquilo, de facto, foi uma noite inacreditável, que nunca ninguém se vai esquecer. E, pronto, acabou aquela noite, rapidamente nos despedimos das pessoas. Fomos para casa ainda a perceber. Dormimos todos mal. No dia a seguir, o Rui mandou-nos um áudio a pedir desculpa”, reavivou Salvador Martinha

“Falhámos redondamente, porque falhámos naquilo que era a nossa missão, que era homenagear um amigo. Então nós éramos para homenagear um amigo e a noite não foi sobre o Ricardo Vilão. A noite, no dia a seguir, é sobre o Rui. E é isto que eu fiquei muito f*dido. O espetáculo tornou-se sobre o Rui. Não era o objetivo. Isto magoou-me e isto chateou-me, isto enraiveceu-me”, desabafou Salvador Martinha.

Salvador Martinha confessou ter decidido cancelar o espetáculo no Porto: “No primeiro, falhámos. Isto tornou-se o espetáculo sobre o Rui. O que o segundo vai ser é uma segunda parte do Rui. Não, não vou permitir isto”. “Então, ia ser um espetáculo sobre uma redenção, mas a homenagem do Vilão não vai servir para uma redenção. (…) Há tempo para haver redenção, mas não era o local próprio. Então, eu e o Bastos chegámos à conclusão de que não íamos fazer a noite e só por isso é que foi cancelado”, afirmou.

“Não estamos a falar de um espetáculo cancelado por um teatro, não foi o público que cancelou o espetáculo. Foi um espetáculo em que eu e o Bastos não vimos realizadas as condições para fazer um espetáculo, porque isto nós fazemos quando somos profissionais. Reunimos condições para fazer espetáculos, condições estão reunidas, fazemos um espetáculo. As condições não estão reunidas. Perdemos ali a boa vibe do grupo e deste projeto”, prosseguiu Salvador Martinha.

“Queria pedir desculpa a todas as pessoas que foram por não termos conseguido o propósito do nosso espetáculo. Falhámos”, rematou Salvador Martinha.

“Eu estava no momento mais feliz da minha vida. Eu juro-vos e aí é por isso é que eu estou muito chateado. O que eu sinto é que subi com dois amigos ao Everest na altura mais feliz da minha vida e, quando estava a dizer aos meus amigos lá em cima ‘Malta, estou. Pá, que bom’, estou na fase baixa da minha vida. De repente, levo com um calhau. É que vindo, nem sei de onde veio… do espaço caiu um calhau. Há naqueles calhaus que caem do espaço e caiu-me um calhau na cabeça e só cai um calhau por ano e caiu no Monte Everest, quando eu estava lá”, ironizou Salvador Martinha.

“Isto mexeu muito comigo. Eu olho para mim, ao espelho e vejo uma olheira cavada. E é engraçado porque eu até tenho dormido. Ou seja, deito-me, acordo oito horas depois, mas acordo com olheiras. É impressionante. (…) Estou triste, estou com raiva, mas estou com uma vontade enorme de de inverter isto”, garantiu Salvador Martinha, acrescentando que não quer “que se vá para vitimizações” ou “aproveitamentos desta situação”.

“Agora, é seguir em frente. Perdi a respiração, sabem. Parece que estou a nadar há horas e, de repente, fiquei sem ar. É isto. Obrigado por me ouvirem”, agradeceu Salvador Martinha.

“Isto é um momento que pode acontecer a qualquer pessoa. Vocês podem amanhã ter um amigo assim”, aludiu Salvador Martinha.

“Nunca tinha feito um episódio assim na minha vida. Nunca falei tanto tempo assim do episódio tão quente. Já falei aqui de episódios, vários episódios que me marcaram na vida, mas sempre já quando tinha passado muito tempo”, concluiu Salvador Martinha.

No dia a seguir ao ocorrido, Salvador Martinha contou que jornalistas ligavam-lhe para obterem declarações sobre o assunto: “A imprensa que nunca me ligou tanto na vida. Isso é que é engraçado, é que nunca ninguém liga para o positivo. O negativo supera sempre o positivo, que é uma m*rda que me irrita. Nunca me ligaram tanto jornalistas, só atendi um”.

Veja aqui o episódio do podcast completo.

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