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Ruben Aguiar relata situação na cadeia: “Cheguei a ser queimado com água quente por um recluso”

"Os reclusos cantavam todas as noites as minhas músicas. Eu ouvia as minhas canções e dava-me para chorar."

Ana Ramos
10 min leitura

Ruben Aguiar esteve à conversa com Manuel Luís Goucha, numa entrevista que foi transmitida esta segunda-feira, na TVI, e relatou a sua passagem pelo Estabelecimento Prisional do Montijo.

“Fiquei numa cela cinco dias trancado, 22 horas por dia. Depois, tínhamos uma hora de manhã para ir ao pátio, sempre sozinho, e uma hora à tarde e, depois, tinha de fazer as refeições todas dentro da cela”, descreveu o cantor, que foi acusado de tentativa de homicídio.

“São dias dramáticos, é aprender a sobreviver e, depois, é estar a pensar: ‘Mas por que razão? Eu não matei ninguém, eu não tentei matar ninguém… porquê a mim?’”, comentou Ruben Aguiar.

“Eu chorava todo o dia. Só pensava nos meus filhos. Eu passo, basicamente, desde que eles nasceram, a lhes ensinar o que é que é o bem, a passar os princípios e valores que o meu pai me transmitiu, para estudar, para trabalhar, para ser uma pessoa do bem, ser uma pessoa humilde, trabalhadora. E, depois, deparo-me com uma campanha de injúrias e difamação a me quererem transmitir uma pessoa que eu não sou, que eu nunca fui”, desabafou Ruben Aguiar.

Ruben Aguiar contou também que os outros reclusos acabaram por saber que estava naquele estabelecimento prisional, uma vez que têm acesso à televisão e à rádio e defendeu: “Houve muito interesse também em tornar este um caso mediático e, então, por isso é que eu também fui detido”.

“Nesse aspeto, eu também sou uma pessoa que sei dar-me bem com todas as pessoas e não faço mal a ninguém, também não vou aceitar que me façam mal. E sei lidar bem com situações ditas normais dentro da cadeia, onde há bandidos e onde há isto… Ninguém me abordou, por exemplo, como o agressor”, garantiu Ruben Aguiar.

Contudo, Ruben Aguiar admitiu que “houve situações piores dentro da cadeia”: “Não vou negar, mas, dentro da cadeia, os reclusos cantavam todas as noites as minhas músicas”. “Eu ouvia as minhas canções e dava-me para chorar. Chorava muito”, confessou.

Depois, Ruben Aguiar passou para uma cela maior, uma camarata com oito homens: “São seres humanos como todos os outros. Sabem respeitar e também querem ser respeitados”.

“Aparentemente, tudo parecia bem dentro da cela só que, bem no final da minha estadia no Estabelecimento Prisional do Montijo, eu ainda cheguei a ser queimado com água quente por um recluso”, revelou Ruben Aguiar.

Ruben Aguiar explicou que “não havia privacidade” na cela, “nem sanita havia, era aquelas bases de inox”, mas assegurou que aquela camarata “estava sempre higienizada”: “Levei várias rusgas dentro da minha camarata e a gente ficava todo nu”.

“Para eu ter uma visita da minha mulher, eu tinha de ficar todo nu em frente dos guardas todos e ainda fazer agachamentos”, acrescentou Ruben Aguiar, referindo que “não é humilhação”. “É uma situação triste. Eu não me sentia humilhado, mas sentia-me triste: ‘Porquê isto?’”, disse.

“A minha família para me ir visitar, a minha mulher para me ir visitar tinha de se movimentar aqui da Madeira todas as semanas, duas vezes à semana. Estamos a falar que as viagens para Lisboa não são propriamente 50 nem 60 euros, gastava à volta de 1000 euros semanais para eu ter uma visita e fui deixado ali ao abandono. Fui aprender a sobreviver”, descreveu Ruben Aguiar.

Nos dias em que podia receber visitas, duravam cerca de uma hora e Ruben Aguiar referiu que “a hora parecia um minuto e os dias pareciam semanas: “Aquilo vive-se tão intenso lá dentro… É muita coisa junta, é muita coisa a acontecer”.

“Foi, literalmente, aprender a sobreviver. Ali tenho de aprender a sobreviver mesmo, pior do que na tropa. Todo o dia foi aprender a lidar, foi lidar com outra nova realidade”, comentou Ruben Aguiar, indicando que “aquilo é mesmo o inferno”.

Enquanto esteve nesse estabelecimento prisional, Ruben Aguiar contou com os conselhos de um dos reclusos, que sublinhou: “Ali dentro da cadeia não tens amigos e, depois, tens de criar uma rotina para o tempo passar, senão o teu psicológico começa a fraquejar e começas a ser nada e a ser como muitos que estão lá que dependem de medicamentos. Não tens reação e, então, criei a minha rotina”.

“Acordava cedo, chorava todos os dias, não tinha como não. Todos os dias, acordava, via aquelas grades, não via os meus filhos… Era aquele sentimento, mesmo que conseguisse por certos segundos e minutos esquecer disso, mas, quando estava no meu momento mais de silêncio, a cabeça voltava sempre ao mesmo e a minha cabeça era sempre para os meus filhos e a saudade deles, a minha mãe, o meu pai”, recordou Ruben Aguiar.

Depois de acordar, pelas cinco horas da manhã, Ruben Aguiar aproveitava para compor “sempre alguma coisa”, já que “o resto da camarata estava toda a dormir”: “Ia pensando no que eu estava a viver, no que eu já vivi. Escrevia a letra e já ia idealizando a própria melodia e, consequentemente, também para quem tem conhecimento de piano, guitarra ou bateria já fui idealizando mais ou menos na minha cabeça como é que eu queria aquela coisa”.

Depois de dois meses no Estabelecimento Prisional do Montijo, Ruben Aguiar passou para prisão domiciliária, com pulseira eletrónica, no Algarve, onde ficou dois meses em casa de um casal amigo e só mais tarde foi transferido para a sua casa na Madeira.

Ruben Aguiar confessou que, “pelo menos um EP, o Estabelecimento do Montijo vai dar”: “Tem ali músicas que transmitem bastante sentimento”. Por agora, o cantor está a “harmonizar” aquilo que compôs, mas garante que o álbum já está pronto e sairá em “breve”.

“O Ruben sai com a personalidade igual de quando entrou, porque eu não posso perder a minha identificação. Agora, posso dizer que o Ruben que saiu, depois, comecei a ver certos e determinados comentários, saiu um Ruben mais frio e que não vai ter tantas asas para amigos quando isso”, acredita Ruben Aguiar.

Ruben Aguiar admitiu que perdeu algumas coisas que já ajudou no passado: “Depois, parece que se sentiram glorificadas de eu ter este percalço na minha vida. Uma mentira dita várias vezes vira verdade”.

“Aliás, eu tenho uma gratidão enorme pelos meus fãs e pelo público em geral, só que eu vi certos comentários na minha própria página, pessoas que foram para ali transmitir ódio e rancor por, única e exclusivamente, influência da imprensa”, considerou Ruben Aguiar.

Desde que regressou a sua casa, Ruben Aguiar tem recebido visitas de pessoas que se têm manifestado preocupadas e deixou também uma mensagem especial aos fãs e público em geral que o tem apoiado: “Tenho uma gratidão enorme a todos os meus fãs e a todo o público em geral”.

Atualmente, Ruben Aguiar está a aguardar julgamento, que deverá acontecer em fevereiro: “Espero já em março estar de volta ao meu ativo e ao meu trabalho. Que se apure a verdade e que, efetivamente, se declare que eu, efetivamente, não matei ninguém”.

“Jamais, em tempo algum, iria passar por cima de uma pessoa e não ia parar e nunca na minha vida sequer iria tentar magoar alguém. Tenho esperança e tenho fé que a justiça em Portugal, efetivamente, funcione e tenho o vídeo que prova que o homem mentiu a dizer que estava no passeio e de costas. Ele não estava no passeio”, garantiu Ruben Aguiar. “Eu estava numa zona fora do meu habitar natural, fui agredido e fui preso”, acrescentou, afirmando que se está “a sentir tão injustiçado”.

“Eu não tenho receio porque eu sei o que fiz e que não foi nada do que transmitiram e tenho a consciência tranquila porque eu nunca tentaria matar ninguém”, rematou Ruben Aguiar.

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