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Pedro Chagas Freitas sobre falecimento do pai: “Houve médicos que o viram como uma cama ocupada”

“Se este meu texto servir para pelo menos um médico olhar mais para os olhos do doente e menos para o número que tem na bata, já valeu a pena tê-lo escrito.”

Ana Ramos
3 min leitura
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Pedro Chagas Freitas revelou na semana passada que o seu pai faleceu e, este domingo, confessou que não terá recebido o tratamento devido no hospital.

“O meu pai morreu. Ainda não consigo dizê-lo. Consegui, agora, escrevê-lo pela primeira vez. O meu pai morreu. Foi há uma semana. Ainda não sei o que faço com o que sinto. Foi há uma semana”, começou por escrever.

“O meu pai morreu num hospital público. Eu, que tanto defendi, que tanto defendo, o SNS e todos os que nele trabalham, terei de escrever o que não queria, o que pessoa nenhuma gostaria de escrever. Pela primeira vez num hospital, e infelizmente já passei por lá muitos dias, senti insensibilidade, uma quase indiferença perante a dor do outro. Pela primeira vez, senti uma ‘desempatia descoroçoante’”, afirmou Pedro Chagas Freitas.

“Não sei se o destino dele seria outro se houvesse sensibilidade, mas sei que houve insensibilidade. Isso vi com os meus olhos, quando estava lá, de mão dada com ele, horas a fio. Ninguém me contou; eu senti-o, eu senti-a. Sei pouco de medicina, mas há coisas que eu sei. Sei que houve médicos que o viram como uma cama ocupada, não como uma pessoa; sei que houve médicos que o viram como um pedaço de uma estatística, não como uma pessoa; sei que não o respeitaram como deveriam, que não o sentiram como deveriam, que não o trataram como o tratariam se ele fosse o pai deles, não o meu”, descreveu Pedro Chagas Freitas.

“O meu pai morreu. Sou mais tristeza do que revolta, não sei se por feitio se por falta de força. Não irei procurar vinganças descabidas, não irei iniciar uma caça às bruxas destemperada. Procurarei apenas libertar de mim a impotência de quem viu uma vida, devagar, diante dos seus olhos, desaparecer. A culpa, muitas vezes, tem de morrer solteira”, acredita Pedro Chagas Freitas.

“De nada vale encontrar culpados para o que já acabou. Não adianta juntar mais dor à dor, cavar mais um buraco quando já se está no fundo. Interessa-me fazer das minhas lágrimas um edifício, não uma chacina”, acrescentou Pedro Chagas Freitas.

“Se este meu texto servir para pelo menos um médico olhar mais para os olhos do doente e menos para o número que tem na bata, já valeu a pena tê-lo escrito”, rematou.

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