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Nem Jorge Martinez, nem Rammstein! Tantra já usavam pirotecnia em 1981

Jorge Martinez é acusado de distorcer a história" e de "desrespeitar os verdadeiros pioneiros da pirotecnia em palco, que contribuíram significativamente para a indústria da música portuguesa".

Duarte Costa
5 min leitura
Instagram

Jorge Martinez costuma recorrer à pirotecnia de mão nos seus espetáculos e “acusou” a banda alemã Rammstein de o ter imitado no concerto que esta deu recentemente no Estádio da Luz, em Lisboa.

Rammstein imitam Jorge Martinez com pirotecnia de mão em palco. Fica aqui mais uma bofetada de luva branca. 14 anos à frente em termos de inovação, num país doente e sem qualquer imaginação“, escreveu no Instagram.

Recordo ainda os mais esquecidos de que fui o primeiro artista a usar pirotecnia em Portugal, efeitos iguais aos usadas nos concertos de Michael Jackson, Rolling Stones, etc. As televisão deviam ter respeito pelo Jorge Martinez, um artista ímpar“, acrescentou.

Numa outra publicação, Jorge Martinez indicou ainda que já utiliza pirotecnia desde 1989, com o grupo Jorge Rocha & Lipstick, e que os Rammstein só foram fundados mais tarde, em 1994.

O comunicado, noticiado em primeira mão pelo A Televisão, foi posteriormente replicado em vários órgãos de comunicação social e não ficou indiferente a muitos, tendo atingido um grande mediatismo a nível nacional.

Nesse sentido, acabou por chegar à redação do A Televisão uma nota assinada por “alguém que é músico amador há mais de 25 anos“, que tem “uma Tese de Mestrado em Ciências da Comunicação sobre o Rock e o Metal em Portugal“, e que “prefere manter-se anónimo” porque “ao contrário de Jorge Martinez, ainda tem uma ponta de vergonha na cara“.

Recentemente, acusou os famosos Rammstein de terem roubado a sua ideia, afirmando falsamente que foi ele o pioneiro no uso de pirotecnia de palco no país. No entanto, essas afirmações ignoram ostensivamente o legado de bandas como os Tantra e os UHF, que foram os verdadeiros pioneiros do uso de pirotecnia em palco nas décadas de 70 e 80 do século XX“, explicou.

Os Tantra, banda seminal e revolucionária que surgiu nos anos 70, foram os percursores do rock progressivo, e há quem diga do heavy metal português. Nesse espírito, para além da música revolucionária, o aspeto visual também foi pioneiro. Percursores do uso de máscaras e efeitos pirotécnicos, são considerados os pioneiros da pirotecnia em espectáculos ao vivo, alguns com transmissão televisiva, onde o vocalista, Frodo, alter-ego de Manuel Cardoso, lançava pirotecnia das mãos, numa performance verdadeiramente revolucionária e original, já em 1981, oito anos antes do que Jorge Martinez alega ter feito“, revelou,

Outra banda que desempenhou um papel fundamental na introdução da pirotecnia de palco em Portugal foram os UHF. Como destaca o investigador Ricardo Miguel Bernardes Andrade, na sua Tese de Doutoramento em Ciências Musicais Variante de Etnomusicologia, «Ar de Rock: o boom do rock em Portugal do início da década de 1980», os UHF foram das primeiras bandas a profissionalizar os espectáculos, ao ponto de serem um exemplo para outras bandas“, informou.

O autor da denúncia lamentou ainda que Jorge Martinez esteja a “distorcer a história” e a “desrespeitar os verdadeiros pioneiros da pirotecnia em palco, que contribuíram significativamente para a indústria da música portuguesa“.

Jorge Martinez não foi de facto o pioneiro do uso de pirotecnia em Portugal. Limitou-se a repetir o que verdadeiros pioneiros fizeram anos antes, de forma mais criativa e original e verdadeiramente corajosa. Jorge Martinez pode querer aproveitar-se do mediatismo dos Rammstein e tentar chamar a atenção para ele, algo que é já uma marca sua, sem grandes proveitos, diga-se de passagem. Não pode é fazê-lo à custa da memória coletiva da história da música popular em Portugal, querendo ganhar um lugar que não lhe pertence, nunca pertenceu nem pertencerá“, rematou.

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