fbpx

Maria Botelho Moniz recorda luto: “Eu não acreditava que pudesse sair dali”

"Questionas tudo", contou Maria Botelho Moniz.

Ana Ramos
4 min leitura
Instagram

Maria Botelho Moniz foi a convidada do mais recente episódio do podcast de Rui Maria Pêgo, “Debaixo da Língua”, e falou sobre o luto.

A dada altura da conversa, o melhor amigo da apresentadora referiu: “Quando o teu luto começa com a morte do teu namorado, isso é uma coisa que é evidente para ti? Achaste que o trabalho te salvaria e que te orientaria ou percebeste que ‘ok, isto agora vão ser muitos meses, muitas etapas’?”.

“No início mesmo início, eu achei: ‘Eu nunca vou sair deste buraco. É impossível eu recuperar disto. A única coisa que me vai manter viva e que me vai manter de pé é o meu trabalho’. Eu não pensei: ‘Eu vou atirar-me ao trabalho e, ao mesmo tempo, fazer este processo porque, do outro lado do túnel, há a luz. Não, não havia luz, eu estou no fundo do poço, mas eu sei que tenho de continuar a viver”, respondeu Maria Botelho Moniz.

“Portanto, eu vou viver através do meu trabalho, porque, no meu trabalho, não é sobre mim, é sobre quem está à minha frente a ser entrevistado, é sobre os meus convidados, é sobre a banda que está em palco, é sobre o conteúdo que eu tenho de produzir. E, enquanto eu estou a trabalhar, eu não estou a pensar na escuridão que é a minha vida”, continuou Maria Botelho Moniz.

“Depois, ao longo de todo o processo, tu começas a ver uma luzinha lá ao fundo, mas o trabalho, para mim, foi sempre o motor, foi sempre o que me tirou de casa”, sublinhou a comunicadora, que, em 2014, perdeu o seu namorado da altura, vítima de um acidente de mota.

“Eu não acreditei durante muito tempo. Eu não acreditava que pudesse sair dali, que pudesse dar a volta à vida, por muito que eu acreditasse para os outros. Porque, se tivesse acontecido a ti, eu era a primeira pessoa a dizer-te: ‘Isso vai melhorar, tu vais sair daqui, vais sair deste sítio’. Mas, quando és tu que lá estás, é tão solitário, é tão escuro, é tão angustiante que a tua vida passa a ser aquilo e acho que tu só notas que houve uma luz quando, de repente, já estás do outro lado”, confessou Maria Botelho Moniz.

Maria Botelho Moniz lembrou que, nessa fase, questionava “os pequenos momentos de felicidade, mas já quando eles estão a acontecer”: “Tu não os vês a aproximar. Eu, pelo menos, não vi”.

“Questionas tudo, o porquê de estares a rir, não tens direito. A pessoa já não está, cá, já não vá rir. (…) Essa coisa de ‘agora, vão achar que eu já estou bem’ atormentava-me. Não é que eu quisesse que me dessem colo constantemente, mas e se eu precisar? Vão atirar-me isto à cara: ‘Então, mas no outro dia estavas ótima, estavas a rir’. Não vão perceber esta montanha-russa. E questionas tudo e a culpa é enorme”, revelou ainda Maria Botelho Moniz.

Rui Maria Pêgo explicou que trouxe este tema para a conversa por um motivo: “Acho que nós ainda não sabemos falar do luto, porque acho que nós, enquanto sociedade – embora sejamos mais tristes do que outras culturas, falar da morte não é uma coisa para a qual sejamos educados”.

“Deste uma entrevista ao Observador sobre o luto que eu achei muito generoso da tua parte”, reparou o comunicador. “Que será agora um livro”, anunciou Maria Botelho Moniz.

Veja aqui o episódio.