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Gustavo Carona: “Foram raros os dias em que preferi não estar morto”

Gustavo Carona foi notícia durante a pandemia, várias vezes, pelas mensagens que transmitiu...

Duarte Costa
3 min leitura
Reprodução YouTube

Gustavo Carona, o médico anestesista e intensivista do Hospital de Matosinhos que esteve em destaque pelos apelos que lançou durante a pandemia, recordou um texto que partilhou há um ano e no qual se pronunciou sobre a doença crónica que o incapacitou de exercer a profissão.

Olhei para trás para nunca mais voltar. Tudo o que eu tinha, sim, tinha, deixei para trás. Tudo o que eu mais queria, tudo por aquilo que toda a vida lutei com unhas e dentes, foi-me tirado pela doença mais sinistra, mais cínica, mais maquiavélica que alguém pode ter. São muito raros os dias em que não preferia estar morto a ter de viver na tortura de não poder fazer o que eu sei fazer na vida, e viver com dores 24 sobre 24 horas“, lê-se no início do texto.

A única coisa que protege o meu coração de continuar a bater, é a minha vontade de não ser egoísta. Se não magoasse ninguém, já tinha ido à minha vida. Sei como o faria. Aguentava as dores só mais um bocado para ir até África uma última vez. Gostava de entrar nas profundezas da África negra, só mais uma vez. E deitar-me no chão de uma pequena aldeia a ver a vida a acontecer…“, acrescentou, antes de confidenciar qual a mensagem que colocaria no bilhete de despedida.

Enojam-me as pessoas que não sabem sair do seu umbigo, e agradeço pela vida que tive, por me terem ensinado que a única riqueza está no coração. E que por um dia, mas só um dia, os ricos sejam pobres, os fortes sejam fracos, os europeus sejam africanos, só para ver o que diriam da vida e da sua justiça. E quem não se banhar em vergonha pelo desprezo dos seus irmãos que estão mesmo a seu lado… que tenha dor crónica, como eu tenho. Fui feliz enquanto cá andei. Recomendo que troquem conforto por paixão“, escreveu Gustavo Carona.

Mas não vou. Não ainda. Vou tentar mais um ano. E depois vou para África, o que eu mais gostava era que fosse na Somália, mas pode ser noutro qualquer país. Espero que seja para trabalhar. Mas se não conseguir ser médico, vou ver a vida a passar“, lê-se ainda na mesma publicação.

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