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Ao falar sobre racismo, Matay partilha comentário do filho: “Olha, papá, eu não quero ser mais preto”

"Quando lhe dizem isto, o erro está do lado de lá."

Ana Ramos
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Matay esteve, esta quarta-feira, no programa de Júlia Pinheiro, na SIC, e falou sobre o racismo que sofreu e que também os seus filhos sofrem.

“Os meus filhos já viveram situações de racismo”, começou por contar o cantor.

“O meu filho mais velho, com cinco anos, na escola, rotina normal, banho… estou a limpar, a secar o corpo, ele diz-me assim: ‘Olha, papá, eu não quero ser mais preto’”, recordou Matay.

“Nunca tinha sentido sequer necessidade… mesmo em casa, nunca tínhamos falado sobre esta questão da diferença da cor, a questão da cultura… Sempre foi uma coisa que, naturalmente, vamos vivendo, mas que não tinha sentido necessidade de abordar esta questão. Eu já vivi essa mesma situação de não querer ser mais preto! Eu já o vivi há 30 anos”, continuou Matay.

“O que se responde é tentar encontrar aqui formas de valorizar aquilo que somos, mostrar-lhe que não há nada de errado com a cor dele, com a cultura que ele também traz, não diretamente, mas indiretamente”, acrescentou Matay.

“E mostrar-lhe, sobretudo, que está tudo certo. Quando lhe dizem isto, o erro está do lado de lá”, sublinhou.

“Depois, eu chego à escola – e é aquilo que mora o problema -, quando eu conto esta questão à professora, na altura, educadora de infância, que me diz o seguinte: ‘Olhe, pai, eu falei com a menina que disse isto e a menina disse que não disse isto ao Santiago, mas também não se preocupe que eu já apertei com o Santiago até que ele me disse que, afinal, ela não lhe tinha dito nada disso’”, lembrou Matay.

“Com certeza… foi apertar com o meu filho para que ele lhe tivesse dito aquilo que queria ouvir. ‘Ah! Pai, sabe que temos de ter calma, porque eu já estou nisto há muitos anos… Temos de preparar melhor as crianças’. E eu disse assim: ‘Então, mas, se fosse consigo, o que é que faria?’”, questionou Matay.

“Sabe o que é que ela me respondeu? Disse-me que aquilo que ele devia ter respondido é que não é preto, que é castanhinho… E estamos a falar aqui de uma pessoa que está, portanto, na base da formação de uma pessoa, futuro adulto, com vários anos de experiência. Sabe-se lá que outras histórias ela terá vivido e que outros posicionamentos ela terá tido”, completou Matay.

Matay referiu também que, hoje em dia, consegue detetar o preconceito em alguns comentários: “Eu cheiro isto ao longe. Eu sei disso, porque eu treinei isto a vida toda”.

“Não tem só a ver com se é uma pessoa próxima ou não… é a forma como se fiz e há uma energia que se coloca nas palavras. É essa energia que eu conheço”, rematou Matay.

Veja aqui uma parte da conversa.

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