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Manuel Luís Goucha: “É óbvio que a maior parte das pessoas não foi ver a conversa”

A. Oliveira
5 min leitura

Manuel Luís Goucha, sem papas na língua, reagiu no início do programa de hoje de Você na TV às críticas negativas que estão a ser feitas tanto ao programa, como aos apresentadores e à TVI, na sequência do convite feito a Mário Machado para marcar presença no programa.

Ainda antes de entrar no ar, o histórico apresentador falou com jornal Público, numa entrevista onde relativiza a polémica e sublinha que é nas redes sociais que crescem os extremistas, sejam eles de direita ou de esquerda.

O apresentador contou que a escolha foi do jornalista da TVI que conduz a rubrica semanal e que a liberdade democrática de expressar opiniões deverá estar acima de gostos e preferências, tendo assumido a postura do contraditório durante a rubrica. “Eu e a Maria [Cerqueira Gomes] fizemos sempre o contraditório. Se não havia aqui um elemento que contradissesse as suas convicções assumimos esse papel. E fizemo-lo de forma muito clara. Nem a Maria nem eu nos revemos nas ideias do convidado. Mas as ideias, por muito perigosas que sejam, devem ser debatidas e contrariadas com outras ideias que nos parecem justas e que a própria História e práticas democráticas nos provaram que são justas”, disse.

Manuel Luís Goucha defende que a confusão se instalou graças às redes sociais. “Quem viu a conversa teve uma opinião. Da parte da tarde, as coisas inflamaram-se, mas eu sei que a maior parte não ouviu a conversa. É a manipulação, muito vinculada pelas redes sociais. Nem eu nem a Maria convidámos Mário Machado, mas a partir do momento em que ele é nosso convidado temos uma conversa e vamos enfrentar os argumentos. A discussão que se gerou foi sobretudo centrada nas redes sociais e é óbvio que a maior parte das pessoas não foi ver a conversa. Porque se fosse percebia que tanto a Maria como eu fomos muito firmes a contestar os pontos de vista. Fizemos aquilo que depois foi feito na TVI24, com um membro da SOS Racismo”.

Recorrendo à eleição de Bolsonaro, o apresentador das manhãs recorda que “as ideias de Bolsonaro vingaram sem um debate televisivo. Eu sou da opinião que não devemos ter medo dos debates televisivos, pelo contrário. É uma oportunidade de ouro para confrontar argumentos e ideias. Chama-se a isso viver em democracia. Se não, através das redes sociais, estas ideias podem colher frutos como colheram”.

Sobre um eventual branqueamento ao levar Mário Machado ao programa, diz “Nem eu nem a Maria branqueámos a conversa. É preciso ser contundentes na defesa dos valores da liberdade. Eu não quero ditadores no meu país, sejam de direita ou de esquerda. Uns e outros, em nome de ideologias, restringem a liberdade de pensamento e anulam a individualidade em nome de um colectivo.”

De forma a rematar a questão em torno do tema, Manuel Luís Goucha recordou que já conversou com homens de direita e que as suas opções e convicções foram sempre firmes. “Delas não cedo, a não ser que me provem que estão erradas. Não branqueio ditaduras nem ditadores, nem de direita nem de esquerda, mas a ideologia do politicamente correcto é perigosa — a não ser que viole a Constituição. Eu expliquei que o racismo e a xenofobia eram inconstitucionais”, acrescentou.

Já sobre a sondagem na sua página oficial de Facebook com a pergunta “Precisamos de um novo Salazar?”, o apresentador esclarece que “fui eu que pedi uma sondagem com aquela pergunta, como peço se é a favor da corrida de touros. A maioria, como eu estava à espera, disse que não queria um ditador. Qual é o problema? É bom recordar que num programa recente da RTP, os telespectadores elegeram a figura de Salazar como o maior português de sempre. Concordei? Claro que não. Mas é uma figura que faz parte da nossa História, uma figura incontornável do século XX. É bom que se fale dela com tudo aquilo que ela implica. Até para não voltarmos a ter outros Salazares”.