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Liliana Queiroz recorda depressão: “Não sentia que a minha existência fosse necessária”

"Eu não tenho que, obrigatoriamente, ter uma vida triste porque ambos os meus pais tiveram um fim triste", disse Liliana Queiroz.

Ana Ramos
9 min leitura
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Liliana Queiroz, Miss Playboy e ex-concorrente do “Big Brother VIP”, foi uma das convidadas de Maria Botelho Moniz, no programa “Goucha” desta segunda-feira, na TVI, e recordou a sua infância com pais toxicodependentes e a depressão pela qual passou.

“Foi uma infância um bocadinho perturbadora, mas bastante cuidada. Ao mesmo tempo que via esta situação de toxicodependência, toda a minha família tentava proteger-me ao máximo dessa mesma situação”, começou por dizer, referindo que nunca viu “coisas demasiado agressivas”.

“Não tinha noção. A partir de uma certa idade é que me foi explicado que havia droga envolvida e, por mais estranho que pareça, para mim, droga, naquela altura, naquela idade, eu pensei: ‘O quê? Uma doença?’”, continuou Liliana Queiroz. “Afinal, é uma escolha, mas só passados alguns anos é que eu comecei, de facto, a reparar que teria sido uma escolha deles e eu não poderia fazer quase nada a não ser estar ali”, referiu.

A modelo recordou ainda um momento da sua infância que foi decisivo: “Lembro-me de abrir a porta e de ver, de facto, qualquer coisa como pratas a queimar. Aquilo, para mim, era algo suspeito. Senti que algo não estava bem para a minha mãe encostar a porta e perguntei”. Liliana Queiroz perguntou a uma tia “o que seria aquela prática que ela estava a fazer”.

“Foi aí que a minha família soube. Na altura, não me responderam absolutamente nada. Tomaram uma atitude, puseram-me na casa dos meus avós paternos para tentarem tratar-se e desintoxicar, a partir do momento em que eu disse à família toda o que se andava a passar na realidade”, lembrou.

Liliana Queiroz contou que tinha um sentimento de culpa: “A minha avó dizia, muitas vezes ‘A culpa é tua. Por que não disseste mais cedo?’. Mas a culpa, na realidade, não era minha. Hoje em dia, consigo olhar para trás e como é que, em criança, eu poderia ter a noção de ser tão mau? Eu não fazia ideia… quando falavam em drogas, eu pensava que era uma doença. Mas eu sabia que havia ali qualquer coisa que não devia dizer, mas a curiosidade era maior e eu assim perguntei”.

Contudo, Liliana Queiroz sublinhou que sempre recebeu amor dos seus pais: “Sempre foram meiguinhos comigo e sempre se preocuparam com a minha educação, apesar de tudo o que estava a acontecer na vida deles. Apesar das más escolhas, eu seria sempre uma prioridade para eles, principalmente, da parte do meu pai”.

Quando teve de ir morar para casa dos avós, a atriz disse que “não estava à espera desta mudança” e que sentiu “um pouco de abandono”, uma vez que era “muito ligada” aos pais e “muito mimada”. “O meu avô era extremamente meiguinho, a minha avó era bastante ríspida, à maneira antiga, mas com muito amor ali metido no meio”, continuou.

Liliana Queiroz afirmou que levou esta experiência “como uma aprendizagem”: “Acho que não é bem o aprender, mas o esculpir-nos. Se queremos ser alguém melhor ou se vamos querer ser deprimentes para sempre e andar uma vida inteira a lamentar tais situações, porque acho que não vale a pena”.

“Poderia ter tido más escolhas, porque não tive uma base familiar que me indicasse, de facto, ‘Liliana, isto é uma boa escolha, Liliana, isto é uma má escolha’. Nunca tive. Tive bastantes medos”, descreveu, indicando que sempre conseguiu criar uma linha do “equilíbrio emocional” do que não queria para si.

“Não a culpo”

Aos 15 anos, a mãe de Liliana Queiroz faleceu, o que fez com que ficasse “bastante revoltada, na altura”: “Foi o primeiro impacto, o primeiro trapézio que dei grande na vida. Foi daquelas situações que pensamos que só acontecem aos outros”.

“Eu já sabia o porquê e a causa e isso claro que é sempre uma revolta, o saber o porquê que ela faleceu mais cedo. Não a culpo porque é uma escolha. Mas achei: ‘Como mãe, como pudeste fazer isso? Como pudeste escolher entre uma coisa e outra e escolheste o errado?’. Não tive muita tolerância para pensar. Hoje em dia, é diferente, sou mãe”, comentou.

Para Liliana Queiroz, o pai sempre foi um “grande pilar” na sua vida e esteve, nessa altura, “bastante firme, que conseguiu controlar ali alguma instabilidade emocional” que a modelo “já começava a aparentar logo ali” após a morte da mãe. “O meu pai esteve sempre ali, manteve-se rijo, tanto que ele sempre foi o meu melhor amigo… O controlo emocional que ele tinha, o foco emocional que ele tinha era de tanta proteção para comigo, que ele conseguia controlar as próprias emoções para me poder aclamar e dizer ‘está tudo bem’. Com o dizer ‘está tudo bem’, estava tudo bem realmente”, acrescentou.

“Não queria existir”

Contudo, aos 25 anos, o pai de Liliana Queiroz acabou também por falecer: “Aí, foi quando me tiraram o chão… tinha acabado de ganhar o concurso internacional, estava a fazer imensas coisas aqui em Portugal em televisão”.

“Na altura, não quis contar a ninguém. Mantive-me sempre no anonimato até chegar o ‘Big Brother’. Foi aí que souberam a causa”, continuou.

Nesta altura, Liliana Queiroz passou por uma “fase negra”, durante cerca de sete anos, por uma “depressão muito grande”. “Naqueles dois primeiros anos, sei que, na altura, já morava sozinha, voltei a morar com a minha avó para ser mais cuidada, ter um pouco mais de atenção. Quando voltei, também não me sentia da casa, que não pertencia ali, depois de o meu pai falecer”, afirmou.

“Percebi que estava numa depressão. Não foi de imediato, mas todos os sintomas e pensamentos que eu tinha consegui sempre identificar que seria uma depressão bastante grande que eu tinha. Fazia de tudo para dormir… dormir e comer”, recordou.

“Não queria existir. Na altura, não sentia que a minha existência fosse necessária a alguém ou até mesmo a mim. Houve uns longos anos em que eu senti-me completamente desapoiada… queria desaparecer várias vezes”, descreveu.

No entanto, Liliana Queiroz contou que o que a fez sair dessa fase foi o amor que sente pelo pai: “Por mais contraditório que isto possa parecer, o amor que tenho pelo meu pai permite-me – como se fosse um género de esquizofrenia -, como se ouvisse o meu pai a dizer assim: ‘Estás a ser palerma. Nem eu nem a tua mãe queríamos isto para ti’. E é a este pensamento que eu me agarro muitas vezes nesse tempo”. “O que é que o meu pai queria realmente para mim? Não queria que ele ficasse com algum remorso de me ver triste, angustiada, o que fosse. Eu sabia que ele queria que eu fosse feliz, acima de tudo”, completou.

“Eu não tenho que, obrigatoriamente, ter uma vida triste porque ambos os meus pais tiveram um fim triste. Eu posso mudar as coisas, eu posso reverter a história”, rematou, explicando que tudo isso demora. “Demora-se tempo a esculpir-nos para essa situação, o aceitar, o aprender a não lamentar, que a experiência das coisas más são necessárias… Foram tudo coisas que eu tive de aprender nesses anos”, concluiu.

Entretanto, Liliana Queiroz foi desafiada a entrar no “Big Brother VIP”.

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