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Judite Sousa sobre a morte do filho: “Fui destratada e não me venham dizer que me vitimizo”

Duarte Costa
7 min leitura
Instagram

Judite Sousa diz que “uma mãe e um pai que perdem um filho não se vitimizam”. São, antes, “por natureza da tragédia”, vítimas “para sempre”.

Judite Sousa publicou uma nova fotografia do filho nas redes sociais e foi alvo de comentário por parte de Luís Osório. Num texto que partilhou na rede social Facebook, o comunicador mostrou-se completamente consciente do sofrimento da jornalista da CNN Portugal, que perdeu o único filho em 2014.

Grata às palavras de Luís Osório, Judite Sousa reagiu com um desabafo através da rede social Instagram. “Não conheço pessoalmente o Luís Osório. Conheci o pai que tive a oportunidade de entrevistar na RTP. Acabo de ler um texto que escreveu sobre a minha perda na TSF. Venho, através das minhas redes sociais, agradecer-lhe publicamente o que escreveu e a profundidade com que o fez. Agradeço“, escreveu.

Nas últimas semanas, e num programa de televisão, uma mulher esteve 50 minutos a chorar compulsivamente sobre a morte do seu único filho. Junto dos que me são mais próximos não recebi nenhuma mensagem de empatia. Pelo contrário: fui destratada sem o mínimo de compaixão, a começar num alegado programa de humor e a acabar no meu ambiente de trabalho“, continuou, numa referência ao Extremamente Desagradável de Joana Marques, na Rádio Renascença.

E não me venham dizer que me vitimizo. Uma mãe e um pai que perdem um filho não se vitimizam. São, por natureza da tragédia, vítimas. Para sempre. Agora, uma pessoa que nunca me viu, que só me conhece da televisão, escreveu sobre o meu inferno. É verdade, Luís. Faz dia 29 oito anos. Para mim, foi ontem, é hoje, será amanhã. Obrigada, Luís Osório“, acrescentou ainda Judite Sousa.

Leia aqui as palavras de Luís Osório sobre Judite Sousa:

POSTAL DO DIA – O inferno de Judite de Sousa

  1. O único filho de Judite de Sousa chamava-se André.
    Na próxima semana faz 8 anos que morreu por culpa de um mergulho mal calculado ou de uma queda numa piscina de verão.
    A vida da sua mãe nunca mais foi a mesma – como poderia sê-lo?
    Como aguentar a morte de um filho e prosseguir?
    Sempre que nela penso coloco-me no seu lugar e não consigo sequer imaginar – ser mãe ou ser pai é sempre um exercício difícil entre o que de bom nos traz e o medo que passamos a carregar. Vão sair à noite e não conseguimos dormir sossegados, há um telefonema e assustamo-nos e será sempre assim, desde que são bebés e acordamos sobressaltados a achar que caíram da cama.
    Será assim até à nossa morte.
    Sempre a inquietação, sempre a angústia.
    Por um lado, a enorme felicidade pelas suas pequenas e grandes vitórias, por outro a tristeza pelos fracassos ou o medo de os perdermos.
  2. Mas para a morte de um filho nunca há palavras.
    Não existem por não terem sido feitas.
    Por ser impossível imaginá-las.
    Um filho pode perder os seus pais e sabemos que existe uma palavra: órfão.
    Mas uma mãe que vê o seu filho morrer, uma mãe ou um pai que vê o seu filho partir não tem o que chamar por nada existir para lá do inominável abismo, do horror absoluto.
    A jornalista Judite de Sousa viu o seu único filho morrer faz na próxima semana oito anos.
    Para ela deve ter sido ontem.
    Impossível que não tenha sido ontem.
  3. Mas a Judite prosseguiu.
    Conseguiu voltar a levantar-se todas as manhãs, voltou a trabalhar, voltou a fazer reportagens e a apresentar telejornais.
    Já não é a mesma Judite, perdemos o brilho que os seus olhos nos traziam, aquela luz era a sua marca de água.
    Isso ela deixou de poder oferecer, mas prosseguiu e cada vez que aparece não nos traz apenas as notícias, mas uma lição que talvez pudéssemos aproveitar melhor, a lição de uma mulher que mergulhou num abismo e se conseguiu levantar e recomeçar.
    Todas as manhãs.
    Todos os dias.
    Todos os meses.
    A lição de uma mulher que mostrou ser mais do que certamente algum dia imaginou ser.
  4. E esta semana soubemos ainda uma outra coisa.
    Que miúdos talentosos, mas com famílias sem dinheiro, foram apoiados por uma bolsa que Judite criou com o nome do seu filho André.
    Todos os anos, desde 2014, a jornalista disponibiliza uma verba que é canalizada pela SBE – escola de Economia e Gestão da Universidade Nova – para um jovem estudante com dificuldades económicas.
    Soubemos esta semana ainda uma outra coisa.
    Que todo o dinheiro e património de Judite de Sousa será, depois da sua morte, canalizado para essa bolsa que assim perpetuará o sentido de vida do seu André.
  5. Oito anos depois da morte do seu único filho, ela conseguiu afinal muito mais do que se levantar todos os dias.
    Enfrentou o Adamastor e transformou-o em vida.
    E isso não ofereceu apenas um sentido à história do seu filho.
    Ofereceu um sentido à sua própria história.
    E ofereceu-nos a nós a possibilidade de através do seu exemplo sermos mais, de conseguirmos ser mais enquanto aqui estamos.
    A sua herança será a partir de agora não apenas a vitoriosa carreira, mas também o modo como enfrentou o inferno.
    Foi isso que a transformou numa mulher maior.

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