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Entrevista: Tozé Martinho

Pedro Vendeira
10 min leitura

O argumentista e advogado, autor da novela mais vista de sempre, ‘A Outra’, na TVI, protagonizada por Margarida Marinho, confessa que “gostava de realizar um filme”

Como se escreve uma novela?

Escreve-se uma novela inventando a ideia, aquilo a que os americanos chamam ‘story line’ (o fio condutor da história) e, depois, tem de se vestir a novela com personagens adequadas. Tudo isto é um jogo de equilíbrios, como na vida real. Lançada a questão, tudo se processa como na vida real.
Com que meios e com quantas pessoas escreve ‘A Outra’?
O autor tem de se rodear de colaboradores muito bons, neste caso cinco pessoas muito experientes e que sabem ler com exactidão as sugestões e as definições que lhes dou. É preciso ter uma capacidade de trabalho muito grande. É um trabalho exaustivo, masestimulante. Como se inspirou para escrever ‘A Outra’?

Como me inspirei para as outras todas.

Mas como despertou em si a ideia para esta história?

Esta história trata da justiça, fala de vingança. A moral é ‘cá se fazem, cá se pagam’?

De facto, cá se fazem e cá se pagam. Avida regula os factos por si. E um autor também tem de os regular na vida destas pessoas. Eu digo ‘pessoas’ e não personagens, porque são as pessoas, os actores, que têm de sentir as emoções como se fossem reais. As personagens não podem ser manietadas como se fossem marionetas. Têm de ser reais. Em tudo na vida, é o ser que conta. Quando um homem, na vida real, diz a uma mulher: ‘Eu estou apaixonado por ti’, ela tem que olhar para ele nos olhos e perceber que aquilo que ele está a dizer é verdade, que está a ser, não a parecer. Portanto, a personagem tem de ser, não pode parecer.

Nas suas histórias, faz sempre questão de que as personagens sejam e não apenas pareçam?

Sim. Se fizer uma ronda pelas personagens de todas as novelas que eu escrevi, vê que todas as personagens não pareceram. Foram, mesmo. Não quer dizer que, às vezes, não falhe. Mas, se isso acontece, prefiro mudar a personagem, dar-lhe outra raiz qualquer do que vê-la mal representada.

Está satisfeito com os actores de ‘A Outra’?

Muito satisfeito.

Já imaginava a Teresa protagonizada pela Margarida Marinho?

Foi uma grande luta para que fosse a Margarida Marinho a fazer esse papel, porque eu achei que ela era a pessoa certa. E até lhe cheguei a telefonar e a incentivá-la para aceitar.

Também via o Nuno Homem de Sá para o protagonista masculino, Rafael?

Sim, mas foi uma ideia conjunta com o José Eduardo Moniz. E uma ideia feliz, porque o Nuno está a fazer muito bem esse papel.

Esperava tamanho sucesso?

Nós nunca esperamos, na realidade, um sucesso, quando criamos uma coisa.

Mas tinha ideia de que era uma história forte?

Isso confesso que tinha.

A Teresa consuma a vingança até aofim? Terá um final feliz? Fica grávida, como na vida real?

Não lhe posso adiantar isso. Diz-se tanta coisa! Já li tantos absurdos nalgumas revistas…
Teve de alterar o fio condutor da história por causa da gravidez das Margaridas (Marinho e Vila-Nova)? Obviamente que temos de adaptar o texto às circunstâncias.

Para além de autor, também é actor em ‘A Outra’. O que move o seu personagem, Vasco? É um grande amor? Ele volta a ver a Teresa, ou Senhora (Maria José Pascoal)?

Há um grande amor, sim, mas não posso dizer mais nada.

Quantas horas escrevem o Tozé e a sua equipa, em média, por semana?

Cada pessoa da equipa terá de dedicar a isto cinco a seis horas por dia, fins-de-semana incluídos.

Escreve sempre em casa?

Muitas vezes, sim, mas, quando tenho de viajar, escrevo no avião ou no carro, com alguém a guiar, claro! É, de facto, uma actividade muito dura. Creio que a palavra é essa.

A sua mãe, Teresa Ramalho, também lhe dá ideias para as novelas?

Faz uma ou outra sugestão, ocasionalmente, e quando a novela já está no ar.

E já entrou em novelas suas?

Sim, algumas vezes. Eu gosto imenso que ela represente nos meus trabalhos. Háum sentimento de envolvência.

Ela entra em ‘A Outra’?

Sim, tem uma pequena participação.

O Tozé e a sua mãe começaram a fazer TV juntos. Quer recordar?

Foi no concurso ‘A Visita da Cornélia’, penso que em 1976. Mas já tinha feito teatro e cinema amador.

Estudou Realização em Nova Iorque. Qual o seu primeiro argumento?

Comecei a escrever argumentos logo no princípio da minha carreira. O primeiro projectoemcuja construção colaborei activamente foi na telenovela ‘Palavras Cruzadas’.

E em termos de realização?

Realizei algumas coisas, mas isso não é relevante.

O que gostaria de fazer nessa área?

Gostava de realizar um filme.

E a advocacia, veio depois disso?

Sim. Eu tenhouma grande paixão pela justiça, por toda a engrenagem que a veste. E, embora tivesse estudado Veterinária, no princípio da minha carreira, quando queria ser engenheiro técnico agrário, e também Economia, mas, de facto, essas não eram as minhas profissões.No ano passado, estive com a caneta para me inscrever no doutoramento em Ciência Política.

Mas desistiu?

Sim, porque não tinha tempo para mais.

Exerce advocacia?

Sim. Mas tive de passar alguns processos a colegas meus, porque, conscientemente, não tinha tempo para eles.

Especializou-se em alguma área?

Fiz a minha agregação à Ordem dos Advogados em Direito Genético. Há muito poucos advogados que tivessem escolhido essa área. Quando me sentei para fazer a prova, os professores disseram-me:“Dr. Martinho, prepare-se, que nos vai dar uma aula, porque sabemos verdadeiramente muito pouco de Direito Genético”. E tive excelente nota.

Já defendeu algum caso nessa área do Direito Genético?

Não. Trata-se de uma área que está muito pouco desenvolvida em Portugal e nunca tive essa oportunidade. De resto, esta é mais uma área de pesquisa científica para agregar depois à Lei. Mas a Lei, em Portugal, não regula isso. É lamentável, mas há uma lacuna nesta área, apesar de hoje a genética ser fundamental, nomeadamente nos casos da paternidade e do crime.

Mundo, ‘Roseira Brava’ e outros êxitos da TVI. Foi actor em todas, mas estreou-se em ‘Vila Faia’.

TOZÉ É AFICCIONADO DESDE MUITO NOVO

‘FUI FORCADO E TOUREIRO A CAVALO AMADOR’

Gosta de touradas. Já foi forcado?

Fui forcado, mas durante pouco tempo, porque me lesionei e, depois, fui mobilizado para África.
Como foi a sua experiência nas touradas? O que recorda desse tempo? Toureei a cavalo como toureiro amador e tenho uma família em que o meu padrasto, João Ramalho, e a casa onde eu cresci, cria touros bravos.

Onde fica essa casa onde cresceu?

Em Salvaterra de Magos.

Então, o facto de ter crescido no Ribatejo aproximou-o dos touros e dos cavalos?

Sim. Vivia nesse ambiente.

PERFIL

‘VILA FAIA’, O INÍCIO

Tozé Martinho nasceu a 5 de Dezembro de 1947, em Lisboa, filho de Maria Teresa Ramalho (Tareka) e de António Caetano Oliveira Martinho. É irmão da escritora Ana Maria Magalhães e do cirurgião plástico Manuel Maria Martinho, e meio-irmão de Teresa Margarida e Helena Rita Ramalho. Casado com Ana Rita Martinho, é pai de Rita, jornalista, e António Martinho, operador de câmara. O neto Gonçalo tem 14 anos. Tozé Martinho estudou Direcção de Televisão e Cinema em Nova Iorque. Escreveu ‘Dei-te Quase Tudo’, ‘Amanhecer’, ‘Todo o Tempo do
Há só uma coisa que quero referir: é a excelente relação que tenho com o dr. José Eduardo Moniz e que é profícua, porque eu tenho uma ideia, ele tem outra, juntamos as duas e isso permite-nos chegar a ideias concretas.

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Amante da tecnologia e apaixonado pela caixinha mágica desde miúdo. pedro.vendeira@atelevisao.com