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Ricardo Araújo Pereira: “O que o humor faz é conseguir pôr uma distância entre nós e aquilo que nos acontece”

Ricardo Araújo Pereira recordou a morte dos cães.

Ana Ramos
5 min leitura

Ricardo Araújo Pereira foi um dos convidados do programa de Júlia Pinheiro transmitido esta terça-feira, que foi apresentado por Andreia Rodrigues, e falou sobre a forma como lida com a dor e o humor.

“O que o humor faz é conseguir, instantaneamente, pôr uma distância entre nós e aquilo que nos acontece, que permite que a gente quase que olhe para as coisas más que nos acontecem na vida como se estivessem a acontecer a outra pessoa e isso dá-nos uma espécie de imunidade contra o mal, o sofrimento”, comentou.

Ricardo Araújo Pereira recordou a morte dos seus cães, num curto espaço de tempo, durante a pandemia: “As pessoas que não têm animais, às vezes, ficam surpreendidas pela violência com que a gente sofre aquela perda. E, de facto, é duro, é bastante duro. Mas, repara, tem de se ultrapassar isso”.

“Eu tinha quatro cães e eram quase todos da mesma idade e, por isso, é natural que a vida chegue ao fim mais ou menos ao mesmo tempo e houve ali dois ou três que foi num espaço de um mês. Foi uma coisa mesmo terrível”, afirmou Ricardo Araújo Pereira.

O humorista lembrou o dia em que teve de fazer uma “decisão difícil”: “Sempre tive cães a minha vida toda e, por isso, já tive de tomar várias vezes essa decisão difícil e, então, o que eu faço agora é – levo umas caixas de fiambre laminado. Então, os últimos momentos dos meus cães são razoavelmente felizes porque eles pensam ‘Que raio de festa será esta que este tipo me está a dar coisas que normalmente não dava porque me fazem mal?!’”.

Na altura, vivia o mundo ainda a pandemia da Covid-19, Ricardo Araújo Pereira foi mandado parar por um agente da polícia e explicou a situação: “Só que não lhe pedi isto com este tom calmo que estou agora. Estava completamente devastado, a soluçar, com muita dificuldade para me fazer entender”. Contudo, o agente da polícia deixou-o passar e o humorista aproveitou o momento para lhe agradecer.

Questionado sobre a forma como lida com a perda e consegue continuar a sua vida, Ricardo Araújo Pereira referiu: “Arranja-se maneira. É preciso fazer aquilo”.

“Estamos a falar de perder um animal de estimação e, para nós, é uma coisa grande, mas, às vezes, a gente perde pessoas. Uma vez, estava a pensar sobre esse assunto – até porque tinha perdido uma pessoa – e li um texto em que um filósofo estava a falar sobre como é que a gente reage, qual é a maneira correta de reagir, a maneira sensata e o que ele dizia parece-me interessante”, contou Ricardo Araújo Pereira.

“Como é óbvio, é impossível a gente dizer ‘Não vou ficar abalado com isto’. A gente deve à pessoa que morreu continuar a viver a nossa vida. Há um tempo de dor aceitável para além do qual a pessoa que nos falta não quereria que ficássemos abalados, a sofrer dessa forma. Portanto, a gente quase que lhe deve o facto de continuar a viver com algum ânimo”, continuou Ricardo Araújo Pereira.

“Pus-me a pensar se era isso que eu quereria quando morrer e é, sem dúvida, isso que eu quero. O que eu quero é que as minhas filhas fiquem, sei lá, abaladas durante uns bons 10 minutos, mas que, depois, continuem a viver a sua vida. Elas devem-me isso, devem-me manter a alegria, porque não é pelo facto de eu ter morrido que a vida delas deve ser diferente”, acredita Ricardo Araújo Pereira.

Veja aqui uma parte da conversa.