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Paulo Nogueira explica razões que o levaram a sair do jornalismo: “A idade e o cansaço”

"Em menos de 20 anos, isto mudou de forma tão brutal… os diretos, toda a parte tecnológica e, depois, o resto não acompanhou."

Ana Ramos
6 min leitura
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Paulo Nogueira coordenou, em setembro, o último jornal da sua carreira e esteve, esta quarta-feira, no programa de Júlia Pinheiro, na SIC, onde falou sobre as razões que motivaram a sua saída.

O jornalista há 42 anos explicou que a decisão de se reformar foi “muito tardia e foi muito repentina”, mas que foi motivada, essencialmente, por dois fatores: “a idade e o cansaço”.

Paulo Nogueira começou a pensar no assunto, no ano passado, depois que um colega se reformou e conseguiu um acordo de saída: “Logo a seguir, fui saber, mas não disse nada a ninguém. Curiosidade pura”.

As “coisas conjugaram-se para acontecer” e, no dia 17 de setembro, coordenou o último jornal da sua carreira: “Só pude sair depois de ter feito aquele domingo, porque eu estava na escala dos fins de semana”.

“Resultado: Foi, de facto, depois do Papa, porque foi a seguir a agosto. A Jornada Mundial da Juventude foi também mais um grãozinho a pesar na balança porque foi quando, de repente, eu começo a pensar na possibilidade de sair e agarrar a oportunidade por outras razões. Não foi só porque sim, porque eu disse ao Ricardo [Costa]: ‘Eu adoro fazer o que faço e, se tivesse saúde, faria isto durante muitos anos, seguramente’”, contou Paulo Nogueira.

“Perante essa possibilidade de agarrar a hipótese de ir embora e em agosto estar envolvido em diversas dimensões de um evento como nós nunca fizemos na SIC… Eu assim: ‘Isto é um fecho de um ciclo e é bonito’. Há 42 anos, eu começava na Renascença, por coincidência, e, agora, fecho na Jornada Mundial, num desafio profissional que eu não voltarei a ter, possivelmente, desta dimensão, onde eu serei pivot, coordenador e repórter”, continuou Paulo Nogueira.

“Estava lá tudo! Até estava lá uma coisa que se faz com agrado nestes dias, que é acordar de madrugada, como tivemos de acordar vários dias para irmos. Estava lá tudo! Tinha sido a minha vida na televisão e na SIC e eu disse assim: ‘Bom, acho que é um sinal de que vou fechar com algo que fecha lindamente a carreira”, comentou Paulo Nogueira.

Sobre “a idade e o cansaço”, Paulo Nogueira sublinhou o facto de continuar “a fazer horários muito penosos, acordar às três da manhã para estar às quatro na SIC”: “Foram muitos anos com a preocupação de nunca me deitar cedo para poder estar em família, para poder estar com pessoas. Se fizer as contas às horas que dormi nos últimos 15 anos… Nem faço”.

“Depois, acho que houve ainda outra coisa que pesou, não quanto ao trabalho que fazia na SIC, alguma desilusão ou desencanto com o caminho que estamos a seguir em termos de informação”, destacou Paulo Nogueira.

“Sinto que, hoje, o jornalista perdeu peso, importância e quase que deixou de ser o intermediário entre a informação e o público, porque é tudo quase e direto. A nossa intervenção acaba por ser mínima, nós não fazemos filtro. As coisas estão a acontecer e as pessoas estão a ver no momento em que estão a acontecer”, defendeu Paulo Nogueira.

Paulo Nogueira confessou que se deu “lindamente com as mudanças tecnológicas”: “De repente, hoje, em menos de 20 anos, isto mudou de forma tão brutal… os diretos, toda a parte tecnológica e, depois, o resto não acompanhou”.

“A maneira como as pessoas hoje escolhem e selecionam o que querem ver ou ler já não tem a ver com aquele conceito que nós tínhamos que era o jornal ou a informação da noite… Não. Isso acabou, são 30 segundos a qualquer hora, às vezes, fora dos contextos, no computador, no telemóvel, nas redes sociais… com todos os perigos que têm… nós sabemos das notícias falsas, da falta de filtragem”, considerou ainda Paulo Nogueira.

Para o futuro, Paulo Nogueira pretende dar mais atenção à prática de exercício físico e ainda pensa em fazer um curso superior, além do facto de poder ter mais tempo para a família, sem fins de semanas ocupados.

“Ainda não sei. Já pensei em várias coisas. Eu sou uma pessoa de história, o meu sonho era ser arqueólogo, que nunca fui, mas tive o privilégio de ter uma profissão que me manteve sempre a viver a história que está a acontecer. Foram, de facto, 40 anos de extraordinários acontecimentos”, disse Paulo Nogueira.

Veja aqui e aqui uma parte da conversa.

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