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Paula Neves: “‘Porquê que não das um filho ao teu marido?’ foi das coisas mais violentas que já ouvi”

"Resolvi para mim e para ele está resolvido", disse Paula Neves.

Ana Ramos
4 min leitura
SIC

Paula Neves foi uma das convidadas de Júlia Pinheiro, na SIC, esta segunda-feira, e falou sobre a infertilidade.

A atriz contou que, ao chegar à casa dos 30 anos, começou a pensar na possibilidade de ser mãe: “Nós, às tantas, com uma questão de calendário – ‘Estou a chegar aos 30. Ele já tem mais quatro do que eu. Faz sentido?’ É agora, não é? ‘Pois, é agora’. Então, vou deixar de tomar anticoncecional. ‘Está bem’. Então, ‘bora, vamos ver o que é que dava”.

“E nunca mais dava, nunca mais dava, não acontecia nada e nós começamos a pensar: ‘Não é que eu queira, mas porquê que não acontece? Tu começas a pensar… mas está alguma coisa errada? E médico, médico, exames e isto e aquilo. Não se descobria nada de especial nem em mim, nem nele”, explicou Paula Neves, referindo que chegaram a tomar “umas coisas”, mas “não acontecia nada”.

“Até que esgotámos o que era possível fazer através da ginecologia. E tínhamos de entrar para o universo da infertilidade e lá fomos nós. Não esperávamos nada, mas estávamos um bocado naquela, às tantas, até quase de teima: ‘Mas por que não? O que é que está a acontecer? É estranho’”, continuou.

Depois, Paula Neves descreveu o que se vive no âmbito dos tratamentos para a infertilidade: “Aí, a coisa avança bastante mais e entras num universo que é a coisa mais antinatural e violenta que existe e, ou tu tens uma grande vontade e um grande desejo para colmatar e equiparar a violência absurda que aquilo é, ou então não se aguenta”.

“Nós não tínhamos essa vontade e, portanto, o bocadinho que andámos na infertilidade foi caro, foi exigente, foi difícil, foi agressivo e foi horrível para a nossa intimidade. E nós, de repente: ‘Espera lá, nós não tínhamos nenhum problema e agora estamos cheios de problemas. Vamos voltar atrás’”, contou Paula Neves, referindo que teve uma conversa com o marido e decidiram não continuar com os tratamentos.

“Foi um peso que se libertou de nós, foi uma coisa que saiu dos nossos ombros. Percebemos que não era para nós. (…) E, depois, é uma coisa engraçada porque ninguém sabe de quem é que é ou porquê que não. Não deu. Na combinação, não deu”, comentou.

“Eu não tenho instinto maternal, eu não tenho vontade de ser mãe, eu não tenho capacidade para adotar emocionalmente”, declarou Paula Neves, referindo que lidar com a situação “tem sido um processo” não tanto interno, mas “de lidar com a expectativa dos outros”.

A atriz recordou ainda alguns comentários que já recebeu sobre o facto de não ter filhos: “Foi sem maldade, mas ainda não havia tanta sensibilidade para tratar destes assuntos, nem abertura e eu ouvi muitas vezes ‘Porquê que não dás um filho ao teu marido?’. E foi das coisas mais violentas que eu já ouvi e só me apetecia dizer ‘Porque não consigo, não é porque não quero’. Mas resolvi para mim e para ele está resolvido”.

“Esta ‘fraqueza’ vista pela sociedade ou encarada assim pela sociedade, de alguma forma, ao assumi-la para mim, deu-me força, porque fiquei mais segura de mim. Mas toda a gente me diz uma ou outra coisa que também me assusta muito e essa confesso que ainda não está resolvida: ‘Não tens medo da velhice?’. Mas, caramba, as pessoas andam a ter filhos para não ficarem sozinhas na velhice? Todos morremos sozinhos”, rematou Paula Neves.

Veja aqui uma parte da conversa.

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