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Médico do ‘bebé sem rosto’: “Fiz as ecografias do vosso filho, mas não vi as malformações”

Íris Neto
4 min leitura

Marlene Simão e David foram pais de Rodrigo, o ‘bebé sem rosto’ no dia 7 de outubro do ano passado. A mãe do bebé deu uma grande entrevista a Júlia Pinheiro, que foi transmitida, esta segunda-feira, 1 de junho, na SIC.

Rodrigo nasceu sem nariz, globo ocular e parte do crânio. O médico obstetra Artur Carvalho, que acompanhou a gravidez, foi suspenso por seis meses, mas já pode exercer se assim o quiser.

Marlene, de 26 anos, começou por confessar que esta não foi uma gravidez planeada. “Foi um misto de sensações. Aceitámos. Não planeámos para ser agora. Queríamos organizar a vida”, afirmou.

Segundo a mãe do bebé, a gravidez decorreu com normalidade. As primeiras duas ecografias não revelaram nada de anormal.

Ao realizar a ecografia 5D, o susto começa. “O Rodrigo já estava em posição de nascer, virado para as minhas costas, mas depois não parava […] Víamos de perfil e não conseguíamos ver o nariz. A senhora pôs a possibilidade de ser por ele estar mesmo encostado e não conseguir ver o nariz”, relembrou.

Entretanto, 2 horas depois de realizar a ecografia, a clínica decidiu contactar Marlene e avisar que seria melhor ela ser vista por um médico.

“Ele disse que estava tudo bem e confirmou sempre que estava tudo bem […] Isso são ecografias emocionais, não querem dizer nada”, afirmou o médico aos pais de Rodrigo.

Ao longo da gravidez, nunca foram detetadas malformações. Rodrigo nasceu a 7 de outubro. A mãe recordou o momento. “Estávamos la na conversa com a parteira e dissemos: ‘vamos meter o Rodrigo em cima de si, da sua barriga’. Assim que o Rodrigo nasce e o colocam em cima de mim, olhei para a cara dele e a primeira coisa que me vem à cabeça é a ecografia 5 D”.

“Elas não se aperceberam. Quando eu comecei a dizer, olharam umas para as outras e ficaram sem reação: ‘Corta o cordão, tirem-no daqui’, afirmaram.

“O Rodrigo começou a engasgar-se e com dificuldades. Chamaram a pediatra e o David entretanto vai dar a volta para ver o Rodrigo e só me lembro de ele sair do quarto”, afirmou.

A mãe de David recorda que lhe disseram que “as malformações eram incompatíveis com a vida”.

O médico que acompanhou a gravidez foi pedir desculpa aos pais de Rodrigo. “Deram-me calmantes a mim e ao David e, entretanto, ele chegou lá e disse: ‘Peço desculpa. Fui eu que fiz as ecografias do vosso filho, mas não vi as malformações’”, recorda.

Durante os primeiros dias de vida de Rodrigo, as esperanças eram muito reduzidas. “Até ao momento em que eles vieram falar comigo, no dia a seguir, não sabia se o Rodrigo estava vivo ou morto […] A equipa disse que existiam poucas possibilidades de viver”, salientou.

“Jurei que não o ia deixar”, confessou. Entretanto, Rodrigo está a ser acompanhado no Hospital Dona Estefânia e poderá ter de ser operado devido à hidrocefalia, doença que perturba o bom funcionamento cerebral.

“A operação é muito arriscada. Vamos seguir com a operação porque é uma corrida contra o tempo. Se o Rodrigo não for operado, há possibilidade de a pressão no cérebro aumentar, adormecer e morrer”, confessou a mãe.

Júlia Pinheiro perguntou ainda a Marlene o que é que ela considerava justo. “A expulsão [do médico]”, respondeu prontamente.

“Eu não vou baixar os braços por ele e por todos os outros bebés”, concluiu a mãe coragem.