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Marta Fernandes fala abertamente sobre os ataques de pânico que sofreu

Ângela Coelho
7 min leitura

Foi na semana passada que Marta Fernandes confessou que sofreu de ataques de pânico durante alguns anos. A atriz partilhou nas redes sociais uma condição que a levou a passar por momentos menos bons. Uma fase que decidiu expor publicamente no programa Júlia, da SIC, esta quinta-feira, dia 21 de março.

Inicialmente, a atriz começou por revelar que hoje sente-se mais confortável para falar abertamente sobre o sucedido. “Os ataques de pânico não são uma doença. São um síndrome de alguma coisa”, explicou, referindo que estes ataques podem surgir “em qualquer momento da vida”.

O primeiro ataque de pânico que teve foi “pós-Chiquititas” – novela protagonizada por si, em 2008. Até essa altura, nunca tinha tido nenhum ataque deste género, apesar de confessar que desde sempre foi uma pessoa ansiosa.

“Estava sozinha em casa. A sensação que se tem é que se está a sofrer de qualquer coisa muito grave. Que vamos morrer. Falta-nos o ar, sentimos uma pressão no peito muito grande. Comecei a tremer, náuseas, desconforto abdominal, o meu coração começava a acelerar, a boca seca, frio… E ficava paralisada”, lembrou, enumerando todos os sintomas que se sente durante um ataque de pânico.

“Na altura estava com tosse há algum tempo. Estava em casa e tinha tido um ataque de tosse há minutos. Achei mesmo que estava a ter uma crise respiratória, qualquer coisa”, recordou ainda, falando da primeira vez que teve um ataque. Depois, com a ajuda de uma amiga, deslocou-se ao hospital.

“No hospital fiz um raio-x aos pulmões, mediram-me a tensão, fiz um eletrocardiograma. E no final não tinha nada e estava tudo bem, estava muito saudável e os médicos disseram que eu provavelmente tinha tido uma crise de ansiedade. Receitaram-me um ansiolítico e disseram-me para tomar em SOS. Mas aquilo para mim era impensável. Portanto, nunca tomei, mas tomei uma decisão. Cheguei a casa e comprei um voo para Madrid e fui-me embora no dia seguinte porque achava que precisava de respirar”, continuou a atriz.

No entanto, viajar para outro lugar e tentar desligar-se da rotina atarefada não foi a solução, tendo sofrido estes ataques durante dez anos.

A sua presença no programa de Júlia Pinheiro não serviu apenas para partilhar o seu testemunho, mas também expor publicamente o sentimento de alguém que vive com esta condição.

“[Pensam que] quem tem ataques de pânico é fraquinho e é doidinho. […] E na verdade o que sinto comigo é precisamente o contrário. É por querer tanto e por ter tanta vontade e energia que estas coisas me começaram a acontecer. Era como se a minha mente fosse mais rápida do que aquilo que alguma vez eu conseguiria atingir. Nunca tive vergonha. Tinha receio de ter consequências a nível profissional”, disse, referindo que “em nenhuma área profissional as pessoas escolhem trabalhar com pessoas em quem não confiam ou que consideram que não estão capazes”.

“E isto preocupava-me e por isso é que nunca falei no assunto e trabalhei sempre. Nunca parei de trabalhar. Aliás, quando estava a trabalhar era quando me sentia melhor porque estava a fazer alguma coisa, tinha outro foco e a adrenalina ia para outro sítio. O problema do pânico é esse: há uma descarga de adrenalina brutal porque o medo provoca a adrenalina e é o medo que nos faz fugir”, acrescentou.

Na altura apenas contou à família e a alguns colegas mais próximos. No seu caso, gostava de estar acompanhada e os ataques chegavam durante a noite, quando estava a dormir. Aliás, conta, acordava com os sintomas.

Apesar de não querer ajuda, principalmente da medicação, Marta fez psicoterapia. Andou durante anos com os comprimidos SOS na mala e chegou a meter alguns debaixo da língua. No entanto, acabava por os retirar da boca e deitá-los fora.

Em 2010 foi mãe pela primeira vez, da pequena Maria, e foi dois anos depois, quando estava a preparar o segundo aniversário da menina, que sofreu um ataque de pânico muito violento. “Achei que era cansaço porque estava a preparar a festa”, confessou, acrescentando que passado alguns dias voltou a sofrer outro ataque.

Durante a conversa, a atriz recordou ainda que um dos ataques que teve foi enquanto estava a conduzir. Na altura estava com duas crianças no carro e teve que pedir ajuda ao pai.

O pior ano da sua vida foi quando a mãe morreu, após ter lutado contra um linfoma, e “foi depois de ter passado pela experiência da doença dela e pela perda que se encheu de coragem como nunca tinha tido até então”. Hoje sabe que pode voltar a sofrer um ataque, mas sente-se mais forte.

Marta alerta para o facto de haver muitas crianças a sofrer de ansiedade e deixou ainda uma mensagem a todas as pessoas que estão a passar pelo mesmo.

“Quero dizer que é possível ser-se feliz, sofrendo de ataques de pânico. Há muito sol depois daquela tempestade. Eu sou exemplo disso. A coragem está completamente dentro de nós. É preciso ajuda. Não se passa por isto sozinho. E ser honesto com os médicos, terapeutas porque isto é uma coisa que se trabalha em conjunto para se chegar a um sítio muito bom. Não controlamos nada, temos que viver um dia de cada vez e ser felizes”, rematou.