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Mãe da jovem que deu à luz em morte cerebral revela a história e as emoções a Cristina Ferreira

André Vilar
6 min leitura

Esta manhã Cristina Ferreira recebeu, no seu programa, Fátima Branco a avó do bebé milagre de quem toda a gente fala. Salvador nasceu, ao contrário do expectável, esta manhã fruto de Catarina Sequeira, a jovem que estava em morte cerebral desde dezembro de 2018.

A entrevista estava marcada há algum tempo e iria acontecer hoje por ser a véspera da data apontada para o nascimento da criança. No entanto, Fátima foi surpreendida, esta madrugada, com uma chamada do hospital a anunciar que o bebé iria nascer antes do previsto devido a algumas complicações verificadas.

Mesmo assim Fátima fez questão de aceitar o convite de Cristina Ferreira e estar à conversa com a apresentadora na reta final d’ O Programa da Cristina de hoje. A mãe de Catarina começou por confidenciar que acredita que o nascimento antecipado do bebé reflete, coincidentemente, a vontade da jovem: “Quando estava a chegar ao hospital pensei numa coisa. A Catarina foi uma pessoa que não gostava de se expôr muito. E digo ‘a comunicação social estava toda a vir amanhã para aqui e ela, mais uma vez, disse ‘não, ele vai nascer. E só quando estiver cá fora é que vocês vão saber'”, relatou Fátima visivelmente emocionada.

Cristina pediu para recuarem alguns meses atrás para perceber o que teria acontecido até ao dia de hoje na vida de Fátima e, claro está, na vida de Catarina. A jovem de 26 anos terá dado entrada no hospital no dia 20 de dezembro depois de uma crise de asma aguda. Fátima contou, a Cristina, uma situação vivida no terceiro dia da estadia da filha no hospital: “Eu estava com ela e disse assim ‘Catarina vamos fazer o seguinte: foste uma filha que em vida nunca me negaste nada, então vamos fazer um negócio. Tu vais para aqui e eu vou para aí’. Nesse dia ela verteu uma lágrima e eu senti um breve deslizar da mão dela por mim. E o que aconteceu é que eu sei que nesse dia a Catarina foi-se”.

Certo é que a morte cerebral foi confirmada apenas 6 dias depois, a 26 de dezembro de 2018. Nessa altura a família terá reunido com a Comissão de Ética e tomado a decisão de continuar com a gravidez servindo Catarina de ‘incubadora humana’. Embora tomada a decisão Fátima garante que toda a situação foi dolorosa e que terá até mesmo chegado a sugerir deixar que o hospital ficasse com o útero da filha, mas tirar o corpo da mesma daquela cama de hospital.

A mãe de Catarina aproveitou ainda para explicar a sua presença no programa da SIC: “Não estou aqui para partilhar a minha dor. Porque esta dor eu não a quero partilhar com ninguém. Esta dor é minha. Nem eu me demito dela. Esta dor não a vou partilhar. O que eu estou a partilhar é a homenagem, é a dar a conhecer quem era a Catarina”, explicou Fátima.

Sem sequer ser questionada por Cristina Ferreira, Fátima garantiu que, tão cedo, não se sente preparada para ver o neto nascido esta madrugada. “Quero fugir disto tudo”, assumiu a mãe de Catarina acrescentando: “primeiro tenho de deixar partir uma pessoa, para receber outra. O que mais me custa é que me digam ‘tem ali um bocadinho da sua filha’. Eu não sou mãe de bocadinhos. Ou é todo ou não é nada”.

Fátima garante que hoje, 28 de março, não é o dia da despedida, mas sim o dia em que diz “adeus” à visão de Catarina: “Quero chorá-la à vontade, saber onde está”. O dia é, também, de Salvador, o bebé milagre. Sobre o neto Fátima apenas adiante que, mais uma vez, Catarina conseguiu tudo o que queria: “Era um rapaz que ela queria ter. A Catarina quis aprender a andar de cavalo, andou a cavalo. A Catarina tirou a carta. A Catarina foi atleta. A Catarina foi uma filha excepcional, uma irmã excepcional e uma namorada excepcional. Conseguiu ser mãe e só não consegue acompanhar o filho”.

Confrontada por Cristina Ferreira sobre o nome do neto, Fátima não tem dúvidas: “Eu não entendo. De momento acho que é um nome que não tem lógica absolutamente nenhuma”, disse a mãe de Catarina visivelmente revoltada com a situação.

Por fim Fátima confessou-se magoada, triste e com necessidade de fazer o luto afastada de tudo e todos, sobretudo dos comentários que foi ouvindo na rua. Cristina Ferreira não conseguiu controlar a emoção e, ao oferecer a Fátima um ramo de flores amarelas – a cor de eleição de Catarina – desabou em lágrimas.