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Lágrimas! Judite Sousa sente-se culpada pela morte do filho

Judite Sousa abriu o coração numa emotiva conversa a Daniel Oliveira. A jornalista sente-se culpada pela morte do filho...

A Televisão
8 min leitura

Este sábado, Judite Sousa abriu o coração a Daniel Oliveira para o ‘Alta Definição’, da SIC.

O seu único filho morreu aos 29 anos na sequência de um acidente numa piscina. A jornalista falou sobre os seus oito anos de sofrimentos, desde a morte de André Sousa Bessa. Judite Sousa falou sobre o seu mais recente livro ‘Pedaços de Vida’ e contou que “foi o mais difícil que escreveu“. “Um livro que me sai das entranhas, que me sai da alma, se é que a alma existe“, acrescentou.

Com este livro eu encerro o capítulo da morte do meu filho. Não voltarei às redes sociais publicar imagens ou escrever mensagens sobre o meu filho“, explicou.

“Como é que estou viva?”

Daniel Oliveira quis saber que perguntas é que Judite Sousa faz a si mesma, ao que esta revelou: “Como é que estou viva? Como é que consigo estar viva? Eu já estive muito perto da morte nestes oito anos. Consigo estar viva porque algo me diz que ainda não chegou o momento.

Mais adiante na entrevista, a jornalista recordou o dia da morte do filho. “Chegarmos a um hospital às 5 horas da manhã e o médico vir ao nosso encontro e dizer-nos que o nosso filho morreu quando nós, uma hora antes, a última coisa que pensaríamos era que esse momento pudesse vir a acontecer 1 hora depois“, recordou.

Outro momento da conversa, foi sobre as diferentes fases de luto pelas quais Judite Sousa passou e Daniel Oliveira abordou um tema do livro ‘Pedaços de Vida’. “A Judite fala no livro de um processo muito violento que tem a ver com um sentimento de culpa que por vezes invade os pais. Mas esse sentimento de culpa faz também parte do processo?“, perguntou o apresentador.

A jornalista notou que “desde o momento em que se tornam pais, passam a viver um sentimento de culpa em relação aos filhos“.

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“A culpa é minha”

Visivelmente emocionada, Judite Sousa falou sobre o processo que passou e de como esse foi esse sentimento de culpa durante vários anos após a morte do filho. “A culpa faz parte da relação pai/mãe e filhos a partir do momento em que somos pais, mas quando se dá uma morte então a dimensão do sentimento de culpa torna-se imensuravelmente superior porque a pessoa morreu. ‘Morreu porquê?’, ‘Em que é que eu falhei?'”, explicou.

De lágrimas no rosto, Judite Sousa abriu o coração para falar sobre um pensamento que teve durante anos. “Eu estive anos a pensar nisto: ‘se naquela sexta-feira, dia 27 de junho, eu tivesse tido um jantar importante que levasse o meu filho a dizer ‘não, eu não vou à festa, eu vou ao jantar da minha mãe’ ele não tinha morrido’. A culpa é isto, Daniel. ‘E se?’“.

Comovido com o momento, Daniel Oliveira deu a mãe à jornalista. “Não é culpa sua, Judite… de todo“, disse. “Mas é isto que passa pela cabeça de um pai e de uma mãe. Eu, durante anos, dei comigo a pensar: ‘Se eu não me tivesse divorciado, se calhar o André estava vivo, se calhar naquele fim de semana tínhamos ido a Paris’“, explicou Judite Sousa.

‘A culpa é minha, ele morreu por minha culpa’. É isso a culpa Daniel“, rematou. Veja o vídeo aqui.

Judite Sousa recordou ainda o filme ‘O Caçador’, sobre a guerra no Vietname. “Há um soldado americano que todas as noites vai com uns colegas a um bar e fazem umas brincadeiras e a brincadeira é o revólver apontado à cabeça, ele brinca com o gatilho da arma. Eu, de certa forma, revejo-me naquele soldado americano. Ao longo destes oito anos, acho que tive muitas vezes uma arma apontada à cabeça“, afirmou.

Num emotivo relato, a jornalista admitiu que chegou a ponderar “eliminar a dor pela via do suicídio”. “Nós, seres humanos, em 2023, não queremos ouvir falar da morte nem ouvir falar do suicídio. Não queremos ser confrontados com a nossa finitude se a nossa finitude acontecer num momento das nossas vidas em que não é suposto acontecer. Por isso é que os pais de filhos que morrem ou se entregam ao isolamento, à solidão, ou ficam naturalmente sozinhos e as pessoas vão saindo das suas vidas“, confessou Judite Sousa.

“Aconteceram-me as duas coisas: houve momentos nestes oito anos em que eu não quis ver ninguém, faz parte do processo de luto, e houve momentos em que eu quis ver pessoas que me diziam algo, que me eram importantes, mas elas não estavam. Não quiseram estar porque ninguém quer estar ao lado de uma pessoa que está em sofrimento psicológico”, recordou.

A vida já é tão difícil, já é tão competitiva, tão exigente, que nós não queremos acrescentar às dificuldades das nossas vidas às dificuldades das vidas dos outros. Senti que houve pessoas nestes últimos oito anos que me fizeram sentir exatamente aquilo que eu estou a dizer“, disse ainda.

“Tu estás mal educada, tu és agressiva”

Na conversa com Daniel Oliveira, recordou também uma fase do luto, a revolta.

“Durante estes oito anos, principalmente nos cinco anos, pessoas que eram próximas de mim diziam-me: ‘Tu estás mal educada, tu és agressiva, tu falas connosco como se nós tivéssemos culpa, tu tratas as pessoas mal'”, disse Judite Sousa, que não percebia porque estava a “falhar em termos humanos”, até que ouviu a entrevista da atriz Custódia Gallego, que também perdeu o filho, Baltazar.

Quando ela diz que entrou num processo de revolta e tratava mal toda a gente. O que ela dizia a ela própria foi exatamente aquilo que eu senti. Para os outros o mundo continua igual, os outros continuam com os filhos deles, os outros continuam a levar os filhos à praia e eu fiquei sem o meu. Eu sou uma revoltada. Sou uma revoltada em relação à minha narrativa e sou uma revoltada em relação aos outros. Porque é que eu fiquei amputada e os outros também não ficam amputados?“, acrescentou.

“É como se eu deseje que os outros passem pelo mesmo sofrimento que eu estou a vivenciar. Isto dito desta forma é horrível, é esta a explicação psicológica para uma das fases do luto patológico. É isto que diz a literatura médica”, contou.

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