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José Milhazes no Alta Definição: “Não me lembro de afetos por parte do meu pai”

"Eu trabalhava na lavandaria, na tabacaria, onde fosse necessário para comprar os manuais", confessou José Milhazes.

A Televisão
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Neste sábado, a SIC decidiu repetir a entrevista feita a José Milhazes para o programa “Alta definição”. O jornalista e comentarista falou sobre a sua vida pessoal e profissional, e desabafou sobre alguns acontecimentos da infância.

Todos conhecem a tua voz, tens noção?“, começou por perguntar Daniel Oliveira.

No início fui criticado devido ao meu sotaque do norte, acho que isso nem se perde. Também não me esforcei“, respondeu.

Quando questionado sobre a sua infância, José Milhazes admitiu ser difícil ter uma opinião dentro de casa e recordou alguns momentos. “Quando dava a minha opinião em frente aos meus pais era complicado e nascia a primeira ‘fake new’, porque a minha mãe dizia: ‘Anda lá, passa que eu não te bato’“, afirmou, rindo-se.

Sempre fui teimoso, sempre quis estudar. O meu pai dizia que burro não podia ser cavalo. Eu sabia que se não passasse na escola, ia para o mar. Fazíamos praia em pelota. A minha infância nesse sentido era muito livre. Quando não tínhamos aulas, saiamos de manha e chegávamos à noite. E não posso dizer que passei fome, naquela altura comíamos peixe todos os dias, o que, agora, é até uma regalia“, continuou.

Em que aspeto te moldou seres filho de pescadores?“, questionou Daniel. “Resiliência e uma vontade de ir sempre mais longe. O meu pai andou à pesca do bacalhau e era uma escravatura. Eram seis meses dentro do navio, dentro de condições horríveis. Eram mal tratados pelos capitães. Na mínima regra quebrada eram entregues à PIDE. O meu pai tentou outras coisas, foi para Moçambique pescar camarão, mas nunca enriqueceu“, admitiu José Milhazes.

Sobre os afetos, o jornalista confessou, emocionado, que não existiam muitos: “Eu não me lembro de afetos por parte do meu pai, não é que ele fosse duro, era uma pessoa excelente, devo-lhe muito, mas não me lembro de um ‘fizeste bem’ ou ‘assim mesmo’, depois começou quando cresci. Os afetos ali eram uma coisa terrível. Existia amor, os pais estavam dispostos a tudo, mas muitas vezes não se refletia em gestos, mas sim em momentos de dificuldade“.

Íamos de tamancos para a escola, alguns iam sem nada. Eu tinha um irmão mais velho que comprava algo melhor e mais tarde ficava para mim. Eu trabalhava na lavandaria, na tabacaria, onde fosse necessário para comprar os manuais“, acrescentou, ao lembra-se das dificuldades que passou na época.

Daniel Oliveira perguntou ainda, ao comentador, o que recorda com mais saudades, e o entrevistado respondeu: “O sorriso deles de felicidade. Ficavam felizes porque os netos estudavam. O meu pai, no dia em que faleceu, ligaram-me para ir lá, porque ia acontecer e quando lá chegamos os netos estavam todos à volta da cama e ele disse: ‘Ninguém vai para o mar. Prometam’. Isto deixa uma recordação muito forte. Quase morri afogado, foi um trauma para a vida inteira. Respeito o mar, mas não me convidem para entrar nele“.

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