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João Jesus recordou infância difícil entre violência e droga

André Vilar
6 min leitura

A partir do Teatro Experimental de Cascais Daniel Oliveira entrevistou o ator João Jesus, de 29 anos, no Alta Definição.

Durante a conversa João recordou a sua infância passada na Amadora e deu conta das memórias que tem das buscas que a polícia fazia na zona, à procura de droga. “Na casa da minha avó a cama ficava de frente para a porta. Quando há rusgas, arrombam a porta e ficam ali parados com a shotgun na mão. Ninguém anda na rua. Lembro-me de a minha avó querer sair para ir buscar pão e a polícia não a deixar sair. São essas coisas que mais me marcaram. Lembro-me, pelo menos, de cinco vezes. Depois, uma das vezes, levaram o meu tio e aí foi mais chato.”, revelou, emocionado, o ator.

João Jesus aproveitou o momento para falar do tio e dos ensinamentos que este lhe terá dado no passado: “Há certas coisas que me lembro do meu tio, ele já não está cá. Ele dizia-me sempre: ‘Não faças isto. Isto vai-te desgraçar’. Dizia-me várias coisas que hoje ainda me lembro”. Com cautela Daniel Oliveira questionou o ator sobre o consumo de droga por parte desse membro da família: “A única coisa de que me lembro era o cheiro a vinagre. A minha avó lavava tudo com vinagre. Até hoje não gosto de vinagre por causa disso. Assistia mas não tinha a completa noção do que era aquilo. Agia normalmente, como um ser que nasce numa única realidade.”, confessou João.

Apesar de nunca lhe terem faltado mimos e regalias, João Jesus confessa que sempre sentiu necessidade de conselhos: “Nunca houve um ‘tens de seguir isto ou aquilo'”. O ator recordou com especial carinho a avó, que morreu há 14 anos e com quem viveu durante muito tempo: “Vêm momentos muito próximos e coisas boas. Ela a chamar por mim no bairro. O problema de alcoolismo era muito complicado. Tinha 15 anos. Tinha a minha mãe, mas foi difícil para nós. Fui ter com ela e ela ficou um bocado paranóica. Foi quando vi que a minha avó não estava ali naquela pessoa. Só ria e chorava, não conseguia dizer. Eu também chorei. Fartei-me de chorar. Ficámos na sala a chorar e, de repente, digo que vou ao Carlitos despedir-me dele. E quando estou a bater à porta do Carlitos, a minha avó aparece no beco. Sorriu lá ao fundo, a dizer-me adeus. Foi a última vez que eu a vi. Foi uma coisa tão especial. Eu a dizer que me vou embora a pensar que ela não conseguia sair dali e, de repente, está ao fundo da rua a despedir-se. Faleceu dois dias a seguir. Estava na escola e a minha irmã ligou-me”, descreveu, em lágrimas.

Quanto à relação com os pais o ator da SIC confessou manter uma amizade com a progenitora mas não se dar com o seu pai.  “Às vezes questiono-me se me tornei um bocado frio. Mas gosto de surpreender”, confidenciou a Daniel Oliveira.

 A vida de João, no entanto, sofreu uma reviravolta quando a mãe se apaixonou por Paulo, seu atual companheiro. “Ele namorou com a minha mãe e saímos do bairro. Foi ele que me falou da escola de teatro. Um dia estávamos a andar no centro comercial e ele disse-me para eu endireitar as costas. Ensinou-me algumas formalidades que foram essenciais. E ensinou-me sem eu perceber. E fiquei em casa dele, que é ali na Amoreira, enquanto o tempo em que estudava. Está sempre nos momentos mais importantes da minha vida. Nos pontos de mudança há sempre uma conversa entre nós”, revelou o ator adiantando que a relação com a mãe também tem sido cada vez melhor: “Houve uma altura em que éramos confundidos com namorados. A minha mãe tem 49 anos. É uma lutadora. Tinha 20 quando me teve. É a mulher mais linda do mundo. Ela está sempre a dizer ‘acredito em ti’.”.

A viver uma relação ao lado de Joana Ribeiro, há alguns anos, João Jesus confessou a Daniel Oliveira andar a pensar na questão da paternidade: “Ultimamente tenho pensado muito nisso, ter um filho. Uma das coisas que mais me preocupa é como educar um filho. Quero ser um pai presente. Não o quero direcionar, mas quero aproveitar todo o momento”.

Já sobre a relação amorosa, propriamente dita, o ator admitiu preocupar-se bastante com a preservação da privacidade de ambos e terminou tecendo largos elogios à companheira, também ela atriz. “A nossa privacidade está tão ameaçada que acho importante preservá-la. A primeira abordagem à minha vida pessoal foi tão traumatizante, por isso, é que se calhar não há mais nada. Nós gostamos de não ser vistos como dois. Eu tenho a minha carreira, a Joana tem a dela. Adoro. Acho que é das melhores atrizes portuguesas. Se não a melhor”, concluiu o ator que, atualmente, pode ser visto em Vidas Opostas, a novela da SIC.