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Isabel Ruth recorda com dor o rapto da filha

A. Oliveira
10 min leitura
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A atriz Isabel Ruth esteve à conversa com Daniel Oliveira no programa de sábado da SIC, ‘Alta Definição’ e acabou por recordar a morte do irmão, o divórcio e o rapto da filha. 

 Num primeiro momento, a atriz recordou a morte do irmão mais velho, que perdeu a vida com 12 anos. “O meu irmão ficou em Portugal porque teve uma doença da coluna, corou-se, foi operado e ficou a andar, correu tudo bem, tinha 12 anos. Mas depois apanhou uma meningite tuberculosa e morreu. Nós estávamos em África. O meu pai já sabia que ele estava doente, mas como não queria que a minha mãe voltasse, escondeu isso. Quando chegou o telegrama de que ele tinha morrido, lembro-me que estávamos em nossa casa e a minha mãe simplesmente desmaiou. Foi um choro e uma coisa horrível”, recordou.

Isabel foi mais longe e contou que o pai “sempre foi um bocado mulherengo e a minha mãe há muito que se queria separar, mas essa foi a razão mais forte para ela se ir embora dele”.

Sobre a morte do irmão, a atriz revelou que a situação lhe provocou “um desgosto profundo. Chorei a escrever isso, fartei-me de chorar”.

“Quando as crianças aos 10/11 anos adoecem, desenvolvem uma inteligência qualquer e ele realmente surpreendia. Era um miúdo que toda a gente gostava. Claro que nós não temos a perceção que a morte vem tão cedo, mas há qualquer coisa que, de repente, transforma uma criança. E é engraçado porque quando nós nos despedimos para ir para África ele partiu o mealheiro que tinha e disse: Vou distribuir o dinheiro pelas duas [Isabel e a irmã] porque eu nunca mais vos vou ver. Nunca mais me esqueci dessa frase e, de facto, nunca mais nos vimos”, contou emocionada.

Já sobre a sua vida amorosa, Isabel recordou o casamento com João D’Ávila. “Conhecer o João e casar com ele foi mesmo a paixão, mesmo separados há tantos anos, foi o meu único marido, apesar de ter sido apenas 8 anos de casamento”, garantindo que o ator “foi muito importante na sua vida”.

“Até na dança o João foi quem me levou para Londres para eu frequentar o Royal Ballet School. Ele é que me criou, sou uma criação do João D’Ávila e agradeço-lhe isso a ele. Mas depois e quis voar nas minhas asas e afastei-me desse criador. Isso também foi uma fase dolorosa para mim e para ele. Por muito que eu o amasse, tinha que ir à procura de mim”, acabou por partilhar.

“Por muito que nos amem, nós temos que perceber o que é que andamos aqui a fazer, de verdade. Quem é que somos. Fui muito feliz com o João. Tive imensos êxitos, deixei a dança, correu tudo muito bem, mas isso não me satisfez completamente e, inconscientemente, fui à procura de qualquer coisa que no fundo é uma procura que nunca mais acaba e, sem querer, meti-me por atalhos. De certa maneira fui o herói da minha vida e o herói tem sempre que se confortar com dificuldades e ultrapassa. Agora que estou distanciada desses tempos, analiso-me um bocado, os riscos que corri, os abismos por onde andei e como sobrevive”, acrescentou.

Mãe de três filhos, duas raparigas e um rapaz, hoje com 42, 50 e 56 anos, Isabel revelou que o filho foi educado pela sua mãe. “Fiquei muito descansada porque eu amava a minha mãe. Para mim não foi nenhum problema, ainda por cima a minha mãe que tinha perdido um filho com 12 anos e depois nasce um rapaz… Percebi que aquilo foi rever o filho dela”, contou.

Isabel acrescentou logo de seguida que “eu afastei-me, mas estava segura de que estava ali. Não é a presença física que se ama mais porque há pais que estão tão presentes na vida dos filhos e não os amam. Claro que é muito importante amar os filhos próximo, mas eu amava muito as pessoas que tomavam conta dos meus filhos”, acrescentou.

“Os meus filhos são os meus filhos e um bom pai ou uma boa mãe sabe o que é um amor pelo um filho. E também sei [o que é um amor de um filho]”, sublinhou.

Isabel Ruth acabou por revelar também a filha mais velha foi raptada. “Resisti a isso, mas posso dizer que foi o maior abalo da minha vida, o maior sofrimento. Nessa altura tinha estado a viver em Madrid e estava cá há mais ou menos 15 dias. Afastei-me porque me queria separar e trouxe a minha filha porque não a queria perder”, recordou o momento em que o pai da filha raptou a menor.

“Ela já não lá está, nem a mala, nem o passaporte… Fiquei quase sem me poder mexer. Meto-me num táxi e vou a correr para o aeroporto, e quando lá chego pergunto pelo avião para Madrid. Disseram-me que tinha acabado de sair. Voltei para casa em estado de choque. Fui mergulhar dentro de mim – tenho umas técnicas de meditação – e desapareci. A dor era tão forte que eu não conseguia mexer-me. Fiquei ali quietinha, fechei os olhos e quando abri era noite. Para mim passou um minuto, mas [na verdade] neste fechar de olhos e abrir passaram oito horas. Quando abri os olhos estava bem, lúcida, não estava contente, mas estava lúcida e conseguia mexer-me”, contou.

“Quando não podemos fazer nada sobre isso, não temos se não que aceitar e esperar. É doloroso. Passados sete anos tive outra filha. A dor acalmou, depois encontrei-me com a minha filha”, disse ainda.

A atriz recordou o momento do encontro com a filha e classificou-o como “uma coisa dramática, a filha a correr para a mãe e a mãe a correr para a filha. As duas a chorar. Conversamos muito, choramos… Não recuperei no todo porque também não fui egoísta ao ponto de separá-la de uma infância que ela teve que não foi comigo. Ela adaptou-se a outra família e quando cresceu fez a sua escolha, e a escolha foi com quem ela mais conviveu e com quem mais esteve. Ela está bem e eu também estou bem. Entretanto tive outra filha que me apagou essa dor insuportável. Podia ter-me vitimizado, mas isso não aconteceu. Provavelmente a morte de um filho é capaz de ser muito pior do que um rapto, mas também depende como é o rapto”.

“O rapto daquelas crianças que depois nunca mais sabem delas é uma coisa horrível. Ao menos eu sabia e, de certa maneira, percebia porque é que ela foi raptada. Conto isto com uma certa leveza porque não gosto de alimentar coisas dramáticas. As coisas são como são e a mim aconteceu-me isto. Hoje em dia tenho os alicerces muito fortes apesar desses dramas todos. Apesar de tudo, tenho três filhos, são os meus queridos e desejo-lhes que tenham muita força e que consigam, tal como eu, aceitar os obstáculos que, provavelmente, vão ter, e o sofrimento que ainda vão ter”, acrescentou.

Isabel Ruth lamentou a ausência na vida da filha, mas garantiu que o afastamento foi bom. “Os meus filhos amam-me, só a que vive em Espanha é que tem sempre uma pedrinha que lá no fundo não aceitou, não compreendeu bem, acho que o pai também a manipulou. Não a vejo há uns anos porque achamos as duas que era melhor assim. Desejo que eles mais do que me amarem a mim, se amem muito a eles próprios”, disse.

A morte da mãe também a fez sofrer. “Eu estava em Lisboa, falei com o meu filho e ele disse-me que a avó tinha tido um AVC. Meti-me num táxi e fui até à Parede [Cascais]. Eu a chegar e a ambulância a partir. Morreu ao terceiro dia. Fez 92 anos e morreu no dia a seguir aos anos dela. Sussurrei-lhe ao ouvido tanta coisa e ela ouviu porque eu pedia para ela mexer os dedos se ouvisse o que eu estava a dizer e ela mexeu”, recordou.

“Disse para ela me perdoar algumas coisas que tivesse feito e que a amava muito, sobretudo foi isso”, rematou.