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Igor Regalla fala sobre o racismo: “As oportunidades não são as mesmas”

Vanessa Jesus
5 min leitura
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Igor Regalla foi o convidado deste sábado, dia 29 de setembro, do Alta Definição. O ator de Nazaré falou de vários temas, entre os quais o racismo e a luta pelo igualdade.

O meu percurso profissional sempre foi muito marcado por isso, por eu fazer personagens que parece que alimentam o preconceito que há, quase que só sirvo para vender droga e ser o mauzão do bairro, quando sinto que sou tão mais do que isso“, começou por dizer.

Igor Regalla foi pai há dois anos e confessou que ficou mais aliviado quando viu que o menino era mais claro que ele. “Tragicamente, até estou mais descansado porque o meu filho é mais claro do que eu. O meu filho é quase branco e isso deixa-me um bocadinho mais descansado porque sei que ele não vai passar por tanto como eu, como alguns colegas… Porque é inevitável, as oportunidades não são as mesmas e isso é um bocado triste. Tive que penar tanto, tanto profissionalmente só para estar aqui sentado nesta cadeira”, acrescentou.

Igor Regalla passou por abusos de polícias

O artista salientou que ainda há comportamentos “um bocado idiotas” e inclusive já passou por abusos de polícias que tiveram abordagens ridículas.

Já passei por abusos de alguns polícias em abordagens ridículas. Acho que já chegam a um ponto em que já olham para isso, e principalmente quando somos nós a ‘queixarmo-nos’, olham para isso como queixas. Parece que somos nós a queixarmo-nos. Felizmente, há muita gente que tem a capacidade de se colocar na pele do outro e é por essas pessoas que as coisas estão, de facto, a melhorar“, disse a Daniel Oliveira.

Daniel-Oliveira Igor Regalla
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Depressão após nascimento do filho

Igor Regalla teve uma depressão após o filho nascer e quando acabou de fazer o filme ‘Gabriel’.  “Esta pressão toda das pessoas dizerem que finalmente estão a ver um preto da televisão… E começas a fazer uma coisa, depois já estás a fazer outra… e, de repente, em dois anos protagonizo dois filmes – há 20 anos que não havia um protagonista negro – e depois acabo e penso: ‘ok, agora não vai aparecer mais nada’. Apareceu a ‘Alma e Coração’ e depois dessa novela é que me começou a bater”, disse, referindo que pensava que as pessoas estavam fartas de o ver.

“Pensava que me iam continuar a chamar para as mesmas coisas… E como é que ia dar aquele amor ao meu filho? São muitas perguntas sem resposta, muita injustiça a acontecer constantemente que chega a uma altura em que nós olhamos e sentimos que não vale mesmo a pena. Felizmente, o universo começou do nada a dar uma chapadas e a dizer: ‘calma'”, recordou.

O ator lembrou ainda o dia em que foi informado que estava nomeado para os Globos de Ouro, na categoria de Melhor Ator. Na altura, ficou muito animado.

A sua infância foi passada na Guiné-Bissau e foi marcada pela Guerra Civil. “De repente, acordamos e a nossa banda sonora são aqueles tiros que só ouvimos em filmes de guerra… Estava de cuecas em casa da minha tia, estava com umas sandes na mão, e lembro-me de olhar para o lado e vejo um tanque gigante e soldados“, contou.

Aos 10 anos veio de novo para Portugal como refugiado com a família. Na Guiné vivia muito bem e em Portugal nem tanto, até porque foi “dos poucos pretos nos ambientes” onde se encontrava o que acabou por marcá-lo. 

Há dois anos foi pai. A ex-companheira descobriu que estava grávida depois de terem acabado a relação, mas não podia ser um pai mais babado. É a melhor coisa do mundo, disse, visivelmente orgulhoso.

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