“Tudo farta e é preciso ir mudando”, completou Tiago Dores perante uma sala repleta de adolescentes à espera de autógrafos do grupo de humoristas. Ricardo Araújo Pereira afasta a ideia de que este regresso ao passado – e também a um tipo de formato que precede a explosão de popularidade ao nível nacional e etariamente transversal do grupo – se deva à constatação da dificuldade de manter o humor do grupo ao nível da fasquia já muito elevada de Diz Que É Uma Espécie de Magazine.
“A nossa fasquia sempre esteve prudentemente colocada cá em baixo”, sorri. Mas Zé Carlos não foi uma aposta perdida nem sequer uma má aposta, reitera Tiago Dores. A primeira série ao abrigo do contrato de dois anos com a SIC “correu muito bem”. “E é improvável que façamos outro formato que cative tanto público quanto o Diz Que é Uma Espécie de Magazine ou Zé Carlos”, admite Dores.
Além das dificuldades de bastidores que o grupo diz ter sentido – seis dias para fazer um programa semanal de 40 minutos apenas com os mesmos quatro argumentistas, intérpretes e pesquisadores -, “vivemos num país em que ou não acontece muita coisa, ou acontecem coisas protagonizadas sempre pelas mesmas pessoas. O Valentim Loureiro é o Valentim Loureiro há 20 anos”, exemplifica Ricardo Araújo Pereira.
“Há matéria, mas corremos o risco de nos repetirmos”, comenta José Diogo Quintela, dando o exemplo do Magalhães, o computador sobre o qual falaram várias vezes em Zé Carlos e que insiste em continuar a pontuar a actualidade. Por isso, cansados de caricaturar os mesmos políticos ou de brincar com os mesmos ícones, os quatro Gato Fedorento planeiam terminar o seu contrato com a SIC com uma espécie de regresso às origens. Querem mais tempo para preparar o programa, sem a frustração que por vezes implica trabalhar “com essa pressão” e com os resultados “que ficam sempre aquém do que gostaríamos”, comenta Tiago Dores.