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Francisco Pinto Balsemão revela tudo sobre quem construiu (e tentou destruir) a SIC

Carolina Pereira
11 min leitura
Créditos: Grupo IMPRESA

A história da SIC é um dos capítulos mais sumarentos do novo livro de Francisco Pinto Balsemão, ‘Memórias’.

Esta semana, foi lançado o novo livro de Francisco Pinto Balsemão, ‘Memórias’, onde o fundador da SIC revela tudo sobre as pessoas que marcaram a história do canal, mas também quem o quis destruiu.

O ‘Homem dos Media’ recorda no livro como decorreu o processo de criação da estação televisiva, o seu crescimento, as dificuldades, e várias histórias com pessoas que ficaram ali celebrizadas. Francisco Pinto Balsemão falou sobre Maria Elisa Domingues, Emídio Rangel, Daniel Oliveira e como este ganhou o cargo de diretor de entretenimento e, claro, Cristina Ferreira.

Em baixo, ficam alguns excertos do livro, sobre cada uma das pessoas que marcou, mal ou bem, a vida do canal.

O arranque do canal e as desilusões

Maria Elisa: “Começou a faltar, a ter de ir ao médico, ao dentista, etc., e eu percebi logo que algo estranho se passava (…) Um dia, em junho de 1992 (…) pede para falar comigo e diz-me que não quer continuar. Deu-me umas desculpas esfarrapadas de saúde, misturadas com queixas (…) E foi-se embora. Curiosamente para voltar diretamente para a RTP”.

Emídio Rangel: [com a saída de Maria Elisa] “Cheguei à conclusão de que, naquela situação de emergência, o melhor era pedir a Emídio Rangel para acumular (…) Era um homem de decisões rápidas, por vezes demasiado rápidas, e aceitou mediante o aumento do ordenado, o que era justo (…) Estava muito embalado pelo êxito da SIC e tendia a considerar-se infalível, para não dizer detentor da verdade única e absoluta. De vez em quando era indispensável fazê-lo baixar à terra”.

“Tive pena que as minhas relações com Emídio Rangel se tivesse deteriorado. Habituei-me, no entanto, a verificar que muitas pessoas que comigo trabalham e com quem julgava ter criado laços pessoais de comunicação e mesmo de alguma amizade, mudam de atitude, do dia para a noite, em 24 horas, quando deixam de trabalhar comigo”.

O Big Brother: “Representava tudo aquilo que eu detestava em televisão. (…) A minha primeira reação foi de rejeição (…) Era óbvio que a hipótese Big Brother também não interessava a Emídio Rangel. Temendo pelo êxito do novo formato veio, no entanto, propor uma solução salomónica: comprávamos o formato e não o transmitíamos. Essa hipótese não era, evidentemente, exequível, porque o preço pedido pela Endemol era elevadíssimo”.

“Com o Big Brother começou um certo descontrole por parte de Emídio Rangel (…) No final de 2001, os programas em stock, muitos deles por estrear por falta de qualidade, totalizavam 19 mihões de contos (95 milhões de euros). (…) A saída de Rangel tornou-se, assim inevitável. Pecou por ter sido desnecessariamente arrastada”.

Jornalistas informativos: Desde os mais profissionais às deceções

Gualdino Paredes: “Era para ser o n.º 2 de Rangel na Informação mas se deixou, de certa forma, manietar”.

Alcides Vieira: “Acabou por ser o verdadeiro chefe de redação, no dia a dia, com bastante autonomia e levando a água ao seu moinho sem quase nunca levantar ondas. É das pessoas que melhor sabe pensar televisão em Portugal (…) continua a colaborar connosco com bastante regularidade”.

Margarida Marante: “Na altura [início da SIC Notícias] houve muita discussão, por vezes desabrida e fora dos limites, na qual Margarida Marante, que vivia com Rangel há alguns anos, teve um papel incendiário”.

Ricardo Costa: “Tenho por ele uma elevada consideração pessoal e profissional. Arranja sempre tempo para tudo, pensa bem e não tem medo quando é preciso atuar. Por duas vezes pôs o lugar à disposição: uma, em 2014, quando o meio-irmão, António (…) ascendeu a secretário-geral do PS, e mais tarde, em 2016, foi indigitado primeiro-ministro”.

José Alberto Carvalho: “(…) horas antes, e na sequência de uma conversa na véspera, em minha casa, me assegurou, no meu gabinete da SIC, ‘olhos nos olhos’, como eu lhe disse e ele repetiu, que não sairia” [com Rangel para a RTP].

Pedro Mourinho: “Foi-se embora sem se dignar a deixar-me sequer um mail de despedida”.

As maiores personalidades do Entretenimento

Catarina Furtado: A grande projeção de Catarina em Portugal deveu-se, sem dúvida, ao programa ‘Chuva de Estrelas’. Quando, para ir estudar para Londres, passou o testemunho a Bárbara Guimarães, nunca mais conseguimos, no regresso, encontrar-lhe um formato onde obtivesse tanto êxito (…) Quando saiu tive pena, mas estava determinada a procurar novos caminhos que, em minha opinião, não encontrou, mas ela saberá melhor”.

Bárbara Guimarães: “Com quem mantenho boas relações pessoais (fui, aliás, testemunha de um dos processos que ela moveu contra o ex-marido, Manuel Maria Carrilho, na sequência de um casamento e de uma separação, recheadas de peripécias desagradáveis e de maus-tratos, como já foi reconhecido em tribunal, e que a prejudicaram na vida pessoal e na carreira)”.

Herman José: “Arrastou-se durante demasiado tempo, com consequências lastimáveis para a SIC, mas também para mim, que mantinha com ele relações amigáveis que incluíam vir à nossa casa e nós a casa ou ao barco ou ao restaurante dele”.

Alexandra Lencastre: “Nem tudo correu bem (…). Um dos exemplos foi o do programa ‘Na Cama Com…” A dona da cama era a belíssima Alexandra Lencastre, o cenário era à meia-luz, os lençóis de seda. Só que (…) as conversas com os convidados acabavam por ser conversas que se poderiam ter à mesa do café… os espetadores sentiram-se enganados”.

Fernando Rocha: “(…) cuja magnífica e maravilhosa utilização do vernáculo foi uma ‘cantiga de escárnio e maldizer’, que encantou uns, chocou outros, mas que era firme referência das massas estudantis”.

Bons e maus parceiros de novelas

Teresa Guilherme: “A associação que começara bem, com a ‘Floribela’ e se deteriorou quando, em junho de 2007, constituímos a produtora TDN – Terra do Nunca Produções. (…) As relações com a nossa sócia tornaram-se insuportáveis e resolvemos separar-nos dela”.

António Parente: “É um bom homem de negócios, que fez carreira por si próprio (…) Tenho aprendido bastante com ele e é com prazer que anualmente o visito na Golegã, por ocasião do S. Martinho, e passeamos pela feira no break pixado por dois magníficos cavalos, que ele conduz com mestria e orgulho”.

Daniel Oliveira e Cristina Ferreira. A ascensão até aos cargos

Daniel Oliveira: “Tem revelado ser competente e calmo em todas as áreas”. (…) “É dos que responde rapidamente aos e-mails, consegue trabalhar e comunicar bem com outras áreas da Impresa e é um perito na utilização, a seu favor, das redes sociais. Digo-lhe, frequentemente: “Não deixe que isso lhe suba à cabeça!” Ele, que além de inteligente é sensato, garante-me que não deixará”.

A sua passagem a diretor de Programas: “A direção de Programas (agora, de Entretenimento) não estava a funcionar bem. As audiências do prime time eram más ou insuficientes. O esquema bicéfalo Luís Proença/Gabriela Sobral – ou tricéfalo, se acrescentarmos Júlia Pinheiro, era algo paralisante. Daniel Oliveira era subdiretor, nessa Direção, mas não lhe davam poder nem sequer voto nas matérias mais relevantes”.

“Eu já apostava nele e, por vezes com conhecimento do Francisco Pedro, claro, fazia curto circuito nas hierarquias e pedia-lhe diariamente opiniões ou relatórios (não foi por acaso que, em 1 de setembro de 2017, o convidei e à sua simpática mulher e excelente apresentadora, Andreia Rodrigues, para o jantar dos meus 80 anos)”.

Cristina Ferreira: “A sofreguidão de protagonismo de Cristina acabará por prejudicá-la” (…) “É uma profissional que não deixa nada ao acaso, sabe o que quer e consegue atrair desde o Presidente da República aos pastores da Malveira. Gosta de gastar dinheiro e, por isso e para isso, criou uma marca e uma fábrica de produção que procura cuidar bem”.

“(…) Penso que é mais um caso em que a fama e o prestígio lhe subiram à cabeça (ao ponto de acreditar que pode candidatar-se à Presidência da República…). Veremos como, entretanto, se desenvencilha da luta pelo poder em curso na TVI.”

A “verdade” sobre a sua contratação e saída: “Recuperação da SIC e luta pelo primeiro lugar nas audiências começou em 2018 e aconteceu em 2019. Já estava claramente em curso (…) aquando da contratação de Cristina Ferreira (…) A contratação, em agosto de 2018, de Cristina Ferreira, na qual Daniel Oliveira esteve logicamente envolvido, mas que numa primeira fase passou, do nosso lado, essencialmente por Francisco Pedro, foi naquela altura uma excelente aquisição para a SIC”.

“Eu não a conhecia e, trazida pelo Francisco Pedro, veio visitar-me à sede oficial da Impresa que, entre outra vantagens, é um local ideal para quem queira encontros sem fotógrafos nem jornalistas. Fiquei surpreendido e chocado quando em junho de 2020 ela veio anunciar que saía da SIC e voltava para a TVI. E mais chocado fiquei quando soube que, antes de anunciar a saída, ela já andava a recrutar pessoas para as levar para Queluz de Baixo.

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