Fernando Daniel foi o entrevistado deste sábado, dia 6 de novembro, no ‘Alta Definição’.
Este sábado, dia 6, Fernando Daniel esteve à conversa com Daniel Oliveira onde falou sobre os temas que mais marcaram a sua vida, entre os quais o divórcio dos pais. O cantor revelou um ambiente de violência e de abandono durante a infância e que a música era o seu refúgio.
“Nada foi conversado e as coisas que mais me magoam é o divórcio ter acontecido nos moldes que aconteceu. Os meus pais discutiam muito, o meu pai bebia e era violento, a violência não era física, era verbal”, começou por dizer.
“Não é suposto um miúdo de 12 anos ficar sem mãe e sem pai de um momento para o outro. Não é suposto dizerem a um miúdo de 10 anos que o pai pode não sobreviver a um acidente. E sinto que a minha infância foi muito atribulada porque eu não a vivi. Fui vivendo o que dava para viver, refugiando-me sempre na música. A música era e é aquilo que me preenche”, afirmou Fernando Daniel.
Em relação ao acidente do pai, o artista recordou que estava na estrada a brincar com os amigos e quando foi para casa reparou que estava sozinho. “Vou até ao café, perto de casa, e pediram para lá ficar que vinha aí um tio buscar-me. Entretanto, vem uma tia minha buscar-me, leva-me para casa dela e foi muito crua na forma como disse”, revelou.
“Disse que o meu pai tinha tido um acidente de mota que tinha tido um AVC enquanto conduzia e disse-me que as coisas podiam não correr bem e para eu me preparar porque podia ficar sem o meu pai”, acrescentou.
Pouco depois o pai entrou em coma e Fernando Daniel foi visitá-lo. “Lembro-me de ter dado a mão ao meu pai e chamei-o. Eu achava que o podia acordar chamando-o. Lembro-me que a minha mãe disse que o meu pai não ia acordar e que nem sabia se ia acordar”, contou em lágrimas.
O cantor admitiu que o divórcio dos pais foi um episódio marcante na sua vida, especialmente um dia em que o pai chegou a casa com uma “arma de caça descarregada e entrou no quarto com ciúmes”. “Nesse dia não dormi. No dia a seguir a minha vontade era de abraçar o meu pai quando percebi que ele não era aquela pessoa que estava lá no dia anterior”, explicou.
Depois do acidente, o pai do compositor ficou sem trabalho e teve que ir para o Luxemburgo trabalhar. Nessa altura, a mãe acaba por se apaixonar por outro homem e Fernando Daniel fica a viver com o pai e lembra-se de o ver a chorar devido à separação.
‘Recomeçar’
A música ‘Recomeçar’ tem como inspiração o pai de Fernando Daniel. “A música fala sobre o meu pai não ultrapassar o divórcio, a separação, não avançar na vida. Para ele, ele não fez nada de mal, em parte percebo”, admitiu.
“Ele sóbrio se calhar nunca fez nada de mal, mas a vida do meu pai não era só sóbrio. Acho que a minha mãe também não esteve bem”, acrescentou. A mãe do artista deixou-o nos avós e este ficou sem lhe falar durante quase dois anos. “Hoje em dia percebo que se calhar foi um amor próprio, pensar um bocadinho nela também antes de pensar nos filhos. Não condeno, não sei o dia de amanhã, mas não tinha 25 anos como tenho agora, tinha 12 anos”, relembrou.
Fernando Daniel não esconde o desejo de construir família
O cantor vai ser pai pela primeira vez de uma menina, fruto da relação com a namorada Sara e afirmou que sempre quis ser pai. “Eu quero ter algo meu. Quero continuar este carinho em casa. Quero acordar de noite, quero fazer tudo aquilo que posso. Quero ser pai, quero construir uma família”, confessou. “Vou ficar de coração cheio quando a minha filha disser que tem orgulho no pai”, garantiu.
“Por mais que o pai esteja chateado com a mãe, nunca vai ver os pais discutir à frente dela. Acho que as discussões fazem parte de um relacionamento desde que sejam saudáveis. Acima de tudo, nunca lhe vai faltar carinho”, realçou.
Quando descobriu que a namorada estava grávida o artista percebeu que a vida ia mudar e admitiu que “foi um dos momentos mais bonitos” da sua vida.
O tema ‘Melodia da Saudade’ foi dedicado ao avô.
Fernando Daniel dedicou o tema ‘Melodia da Saudade’ ao avô Aníbal, que não é avô de sangue, mas que lhe acompanhou a vida toda. “Passava muitas vezes la em casa para se assegurar que estava tudo bem. Às vezes metia-me no táxi, ele era taxista, metia-me no banco de trás do táxi e íamos fazer serviços só para me distrair”, constatou.
“Desde que o meu avô partiu com o cancro, sinto uma forte necessidade de ir de vez em quando ao hospital surpreender pessoas que estejam internadas na mesma condição que o meu avô estava. Recorro aos hospitais para nos últimos momentos de vida dar alguma coisa a estas pessoas porque o meu avô não merecia, uma criança de três ou quatro anos muito menos”, realçou.
“Era a pessoa com o coração mais bonito que eu já conheci”, terminou.
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