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«Raio X» | Entrevistas Rápidas do «Factor X»

David Soldado
11 min leitura

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Há três anos que trabalhas com os teus avós numa banca de peixe. Qual a sensação de passares de uma banca de peixe para o palco do Factor X? 

Foi uma sensação estranha mas inesquecível ao mesmo tempo. Foi estranho porque nunca tinha pisado um palco nem cantado para tanta gente, sabendo ainda que ia ser julgado. Fiquei super nervoso. Mas ao mesmo tempo foi inesquecível porque é aquilo que eu quero para a minha vida e no dia da audição senti isso na pele.

A tua mãe sabe que tens essa paixão pela música? Apoia-te?

Sim ela sabe e tem-me apoiado imenso nesta fase, tem sido muito importante..

Se a tua mãe tivesse ficado do teu lado, achas que eras mais seguro de ti e menos envergonhado?

Sem dúvida,  nunca fui uma pessoa com grande autoestima e faltou-me um grande apoio nesse aspeto.

Cantaste «Recovery», de James Arthur. A música é sobre alguém que «derrubou muros, projetou e definiu uma nova vida». Identificas-te com a letra?

Identifico-me com a letra porque fala de alguém forte e capaz de superar os seus problemas e definir uma nova vida, que era tudo o que precisava.

«És o tipo de concorrente/artista que eu procuro aqui. Tens aí alguma coisa que pode ir a algum lado». O Paulo Ventura valorizou-te muito. Sentiste-te orgulhoso de ti próprio? Com estas palavras, começaste a acreditar que podes ir mais longe?

Só preciso de alguém que acredite em mim e me dê valor… Senti-me muito orgulhoso por ter tido coragem de ter dado o primeiro grande passo e com as palavras dele senti que um dia é possível conseguir uma vida nova, expressar-me através da música..

«Ainda não cantas bem. Tens que trabalhar um bocadinho mais», disse a Sónia. Como lidas com as críticas?

Lido bem. Perante o que fiz em palco acho que a Sónia teve razão.. Os nervos atrapalharam-me imenso e não consegui mostrar da melhor forma a minha voz.

«Raio X» | Entrevistas Rápidas Do «Factor X»

Tens 33 anos, nasceste na Bósnia e descobriste o fado há cinco anos. Conta-nos como se desenvolveu esse descobrimento.

Por acaso, na internet (Facebook) alguém partilhou um vídeo de Amália (“Estranha forma de  vida”). Logo nas primeiras notas na voz de Amália, fiquei com pele de galinha e senti-me inundada por um conjunto de emoções, que me levaram a ouvir “on repeat” aquela canção… Comecei a procurar na internet tudo o que pudesse haver sobre o fado. E a sentir-me cada vez mais atraída pelo fado, pela língua e cultura portuguesa.

Esta paixão levou-me a aprender a língua portuguesa – sozinha, em casa, com os noticiários e novelas e outros vídeos que encontrava na internet. Todos os dias estudava cerca de 6 horas. Comprei livros e dicionários e tudo o que encontrasse e me pudesse ajudar a saber mais. Em menos de um ano tive a ousadia de começar a cantar alguns fados da Amália e, que descobri depois, de Mariza.

Nesta altura eu senti que a minha carreira artística tinha mudado de direção e que queria dedicar-me completamente ao fado. Como eu costumo dizer, não fui eu que encontrei o fado mas foi o fado que veio ao meu encontro.

 O que te levou a abrir uma casa de fados em Alfama? É preciso ter muito amor, mas também muita coragem…

Depois de vários concertos na Bósnia e Herzegovina, decidi visitar Lisboa (2012) e conhecer o local onde o Fado nasceu e onde mora. Fiquei num pequeno hotel no Bairro Alto e todas as noites saía à “procura” do Fado. Corri todas as casas e tascas do Bairro Alto e de Alfama. Na minha primeira noite entrei numa casa, enchi-me de coragem e pedi para cantar. A reação das pessoas que me ouviram, principalmente músicos e fadistas, superaram as minhas expectativas. Ficaram eufóricos e surpreendidos por me ouvirem cantar “com alma”, disseram.

Na noite seguinte fui à “Tasca do Chico” pedir para cantar. O meu nervosismo e emoção eram dobrados porque a própria Mariza estava lá nessa noite. Comecei a cantar o mesmo Fado que cantei depois para o júri do Factor X, “Loucura”. Senti que as minhas pernas me tremiam mas, ao mesmo tempo, senti que a minha voz não ia falhar. Na segunda parte do Fado, a Mariza levantou-se e veio cantar comigo. Foi um momento muito especial para mim, senti-me extremamente honrada. Mais tarde disseram-me que foi um momento raro. Que os fadistas só fazem algo assim quando se sentem emocionados e com uma vontade incontrolável de cantar, um momento de empatia, de partilha da magia que acontece no Fado.

Voltei a Lisboa mais 2 vezes. Depois do Fado, veio a paixão por Lisboa e pelas pessoas. A mentalidade portuguesa e o estilo de vida arrebataram-me e comecei a sentir que era aqui o meu lugar, já não conseguia viver longe do Fado. O amor ao Fado fez-me, em agosto de 2013, abrir uma tasca em Alfama: A Tasca da Maja. A coragem que precisei foi a coragem de decidir e ser feliz!

 «É estranhíssimo para nós, portugueses, ouvir uma cidadã da Bósnia e Herzegovina cantar fado», disse o Paulo Junqueiro. No entanto, qualquer pessoa, de qualquer nacionalidade, pode cantar o fado e transmitir o sentimento de igual forma, não achas?

Sim, compreendo a estranheza que os portugueses sentem quando me ouvem. Mas não acho que qualquer pessoa possa cantar o fado, portuguesa ou estrangeira. Não basta ter uma boa voz, uma boa técnica vocal. Há que juntar a isto a emoção que se sente ao cantar e, ainda, a capacidade de transmitir essa emoção quando se canta. Não é qualquer pessoa, independentemente da nacionalidade, que consegue fazer isso. Eu sinto-me abençoada, e agradeço-Lhe todos os dias, por ter essa capacidade e espero preservá-la e melhorá-la.

Estavas à espera de conquistar o júri? Foram quatro sins…

Decidi inscrever-me no Factor X com “a cara e a coragem”. O feedback que recebo quando canto, de fadistas e músicos, do público português e até de estrangeiros, encorajou-me a participar no programa e a confiar de que poderia conquistar o júri. Mas, tenho que confessar, no dia da audição sentia-me tão nervosa que cheguei a duvidar que isso pudesse acontecer. A responsabilidade de cantar O Fado e o receio de não falar bem Português e não perceber o júri criaram em mim uma pressão tão grande que “entrei em choque” e só realizei que tinha recebido 4 sins algumas horas mais tarde!…

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Em 2008 concorreste a «Uma Canção Para Ti» [TVI], mas não chegaste às galas. Sentiste-te derrotada, ou, pelo contrário, ganhaste mais motivação para não desistir do teu sonho?

Na altura tinha 10 anos, e o facto de não ter chegado às galas não me fez sentir derrotada, porque apesar de tudo, ainda era nova e tinha muito tempo, e aproveitei esse tempo para evoluir ao máximo. O facto de isso ter acontecido, fez-me crescer e ganhei imensa motivação para continuar a lutar pelo meu sonho e pela minha carreira. Quando se quer muito algo, nunca se desiste. Desde aí continuei a trabalhar e a lutar pela evolução com muita vontade, sempre com a consciência de que é preciso persistência.

Qual a sensação de pisar o palco do Factor X e ter tantas pessoas a olharem para ti? Não te intimida?

Quando alguém ambiciona o mundo do espetáculo, e quer ser artista, há que enfrentar de frente o público e encará-lo com naturalidade. Foi o que tentei fazer na audição, apesar do nervosismo. Tento sempre que o público se reveja a ele mesmo na atuação que faço, e que passe bons momentos.

Interpretaste um tema de Céline Dion e foste muito aplaudida pela tua atuação. Esperaste muito por este momento, por um momento de reconhecimento?

Cantar Céline Dion é uma responsabilidade enormíssima, tendo em conta o nível que ela atingiu. Fui para a audição com a persistente ideia de que iria dar o meu melhor, e por muito nervosa que estivesse, ia demonstrar toda a minha vontade, pois tinha três minutos para convencer o jurí, e não queria que os nervos o impedissem. Há ainda muito a melhorar, e luto por essa melhoria com trabalho e claro, com a experiencia que se vai ganhando. O reconhecimento resultado da audição foi, para mim, um dos melhores e mais marcantes momentos deste percurso. Saí de coração cheio!

Caso consigas chegar à fase das galas, o que podemos esperar de ti?

Caso alcance as galas em direto, podem esperar muita vontade, muita garra, muito trabalho, evolução, persistência, e alegria.

Como é que lidas com a pressão? Isto do mundo da televisão não é nada fácil…

Lidar com a pressão é algo que se aprende com a experiência. Neste momento lido de forma calma, serena, com foco no objetivo. Sendo sempre realista, com os pés na terra, e afastando as ilusões, pois tudo se consegue um passo de cada vez.

Redactor.