“Neste mundo de competição, em que ninguém quer revelar as fragilidades, a vitória é a única saída”.
É este o lema de Liberdade 21, uma série portuguesa produzida pela SP Televisão para a RTP que contou com 2 Temporadas e que relata o quotidiano competitivo de uma firma de advogados lisboeta, a Vasconcelos, Brito e Associados e todos os casos dos episódios são baseados em casos jurídicos reais, resolvidos por sociedades de advogados portuguesas, que os disponibilizaram à RTP.
Deixo-vos com os momentos iniciais do primeiro episódio desta produção nacional.
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Personagens Principais:
Raul Vasconcelos (António Capelo) – Um dos sócios fundadores do escritório, juntamente com Helena. Pouco ortodoxo nas suas práticas profissionais, Raul revelou-se um excêntrico, contudo, é também um homem de grande carisma. A fama e o sucesso tornaram-no cada vez mais absorvido pelo trabalho. Frontal e impulsivo não consegue calar um pensamento por mais inconveniente que possa ser, o que o coloca constantemente em situações embaraçosas.
Vera Tavares (Inês Castel-Branco) – Apesar do nome sonante é apenas do braço “pobre” de uma família muito bem. Bonita, simpática, comunicativa, esperta e desenrascada, é, na realidade, um lobo debaixo de pele de cordeiro. Pouco a pouco vai revelar ser também intriguista, mentirosa, falsa, manipuladora e pouco escrupulosa, capaz de recorrer a todos os meios para atingir os seus fins: a curto prazo, ser uma das escolhidas para continuar no escritório; a médio, ser sócia do mesmo. Francisco vai ser uma das suas vítimas mais frequentes, e Pedro ora cúmplice ora rival. Curiosamente, Raul, o “engatatão mor” do reino, será o único a resistir sempre ao seu charme e sedução.
Razões para ver:
- Os actores são absolutamente soberbos, principalmente o trio composto por Ivo Canelas (Afonso), Rita Lello (Sofia) para mim, os pilares da série, e Ana Nave (Helena). Papeis bem interpretados, agradáveis, que prendem a atenção. O tom exacto, na altura certa, com a dose correcta de dramatismo.
- Embora tome como inspiração as boas séries americanas das barras de tribunais como Boston Legal, não sendo propriamente uma ideia original, estamos perante um produto interessante e inovador no nosso país, comparando com o que fizemos e tivemos no passado. Para mim é um novo passo numa nova direcção para a ficção nacional que merece ser (re)considerado.
- Os argumentistas da série usam temas pouco explorados na ficção, embora muito focados em talk shows e afins (como o do homem que mudou de sexo e não consegue mudar o género no B.I, sendo uma forma de desmitificar tabus ainda existentes da nossa sociedade.
Para melhorar:
- Os casos apresentados em alguns episódios mereciam maior desenvolvimento. Para não ficarem em aberto, muitos casos foram resolvidos “cedo” demais, sem maiores explanações, sem mais “emoção” o que poderia confundir a audiência ou empobrecer a serie.
- O mesmo se passa relativamente aos diálogos. Apesar de brilhantemente escritos e dirigidos, muitos parecem surgidos do nada, ou ligeiramente forçados, fora do “tom”.
- Embora procure inovar, fazendo da câmara o olhar do público, muitos episódios exageravam um pouco nas mudanças bruscas de planos.
Curiosidades:
- Liberdade 21 teve um crossover com Pai à força, (quando um advogado da firma representou Miguel, um médico cirurgião plástico que se viu obrigado a criar três crianças órfãs), algo, até à data, inédito em Portugal.
- Toda a série é filmada em estilo documentário, conferindo-lhe de mais realismo. Como se as imagens captadas pela câmara fossem os nossos próprios olhos, nunca estáveis e sempre em busca dos detalhes.
- Vários actores do remake de Vila Faia – Rita Lello, Inês Castel-Branco, Albano Jerónimo, Ruben Gomes (transmitida pela RTP na mesma época de Liberdade 21) transitaram da novela para a série bem como outros actores principais da novela que aqui fizeram aparições. Caso de Simone de Oliveira, Gonçalo Diniz, Sofia Sá da Bandeira, entre outros.
- O cenário da Vasconcelos, Brito e Associados é o mesmo da empresa de vinhos Marques Vila. O elevador, a posição da secretária, os corredores, mantêm-se nas duas “empresas”, com decoração diferente.
- Na reposição dos primeiros 6 episódios da 1ª Temporada (transmitidos em horário nobre e em dias úteis) a série conseguiu níveis de audiência superiores.
- Liberdade 21 é uma referência à localização dos escritórios desta sociedade de advogados, cuja morada é Avenida da Liberdade, n.º 21.
- Todos os episódios começam com o mesmo tema “Trânsito 21”, composto propositadamente para a série, e terminam com um dos personagens a caminhar sozinho pela baixa lisboeta ao som da música “Lonesome No More“, simbolizando a solidão interior e social dos protagonistas da série, que embora competitivos e assertórios numa sociedade cruel e dura onde só importa vencer, se revelam frágeis e débeis na sua condição humana.
Liberdade 21 é, portanto, uma iniciativa louvável da tv portuguesa. Uma série diferente, arrojada, com vontade de explorar novas temáticas. Por isso, acredito que o grande mérito deste produto reside aí.