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Flash Interview | Marjorie Estiano – “Sob Pressão”

Diana Casanova
6 min leitura
Imagem: Globo

Aproxima-se a estreia da segunda temporada de Sob Pressão, que acontece no próximo domingo, dia 10 de março, no canal Globo e, como tal, o A Televisão esteve à conversa com Marjorie Estiano, uma das estrelas da produção. A atriz apresenta-nos esta nova aposta do gigante brasileiro, com especial foco na sua personagem, Carolina.

Leia, em seguida, a Flash Interview a Marjorie Estiano.

Em Sob Pressão dá vida a Carolina. O que pode contar-nos sobre essa minissérie?

Marjorie Estiano – Sob Pressão é o DNA do Brasil.  A série nos representa social, política e culturalmente, tanto nos defeitos, quanto nas qualidades. Contraditório, humano, violento, bem-humorado, espiritualizado, guerreiro, simples, sofisticado e sensível, assim é a série.

Fale um pouco sobre a personalidade de seu personagem. Existe alguma semelhança com você?

Carolina é uma médica devota à profissão e que enxerga a medicina por uma perspectiva humanitária. Ela tem o interesse voltado para o doente, não para a doença. Extremamente aberta, flexível, sensível, contraditória. Fez uma curva enorme na vida. De origem simples e com um histórico de violência sexual, ela se formou em medicina e decidiu trabalhar em hospital público. Se dedica à cura do outro. Vejo traços em comum, mas acho que Carolina tem muito mais qualidades que eu. A abertura que ela tem me inspira, pois ela não se vale de verdades pré-estabelecidas. Tem uma escuta clara e limpa. 

Como foi sua preparação para o personagem?

Cada personagem tem um caminho próprio, suas particularidades e função dramatúrgica. Tivemos o acompanhamento do Dr. Márcio Maranhão e sua equipe, o que tornou nosso contato com o meio mais próximo. Estivemos em alguns hospitais, assistimos a algumas cirurgias, recolhemos alguns depoimentos, e isso foi fundamental para desmistificar um pouco o corpo humano. Bastante impactante. Extremamente delicadas ou aparentemente de uma brutalidade pré-histórica, parece um jogo de pecinhas que vão montando e organizando… um jogo cuja responsabilidade do jogador, ganhar ou perder, pode ter um alcance permanente, definitivo. Fiquei absolutamente seduzida pela profissão. Sem dúvida, o que me marcou mais foi entender o ofício, o que eles fazem quando saem para trabalhar, o que eles fazem de suas vidas, a “ocupação”. Desde então, fico me perguntando o que eu faço pelo outro.

Na sua opinião, qual a importância de levar ao público a discussão sobre saúde pública? 

Sob Pressão retrata o sistema público de saúde do Brasil. É o nosso calcanhar de Aquiles, onde somos mais vulneráveis. É o encontro do desamparo com o brasileiro, que é um lutador e não perde a esperança, seja do lado do hospital ou do lado dos pacientes. A série foi desenvolvida de uma forma muito inteligente pelos roteiristas e direção. Através do entretenimento, ela aproxima todo o público dessa questão que está banalizada pela frequência e repetição diária nos jornais, envolve o espectador com os personagens imersos nesse contexto político, social, cultural, ético…

Você se inspirou em séries internacionais que tratam de saúde e medicina para realizar este trabalho?

As séries internacionais não agregam muito, porque Sob Pressão não se parece com nenhuma outra série nacional ou internacional. Vi algumas, mas mais para me inteirar de como já havia sido abordado o assunto. Sob Pressão explora o meio da medicina como pouco vimos e de uma maneira muito identificada e legítima. A série espelha de uma forma muito bela a esperança também. Mostra o buraco que é, buraco em que nem mesmo conseguimos enxergar o fundo, mas não deixamos de tentar. É o retrato do brasileiro em suas qualidades e defeitos.

Médicos, especialmente os que trabalham no serviço público, podem ser chamados de heróis?

Acredito que sim, heróis da vida real, uma espécie de herói muito mais interessante, inclusive. Um herói que não tem superpoderes, que é humano, mortal. Que é contraditório, erra e que resiste. São heróis fantásticos e não são fantasiosos. Seria curioso ver a série em quadrinhos.

Sob Pressão é um grande sucesso no Brasil, elogiada pela crítica e batendo recordes de audiência. Enquanto gravavam, já dava para sentir que tinham um produto tão especial ali?

A gente estava muito feliz e acho que posso falar por todo mundo. Era unânime a satisfação em fazer esse projeto, em falar desse assunto com esse texto e com essa equipe. E Andrucha é de uma parceria sobrenatural. Ele participa do todo, pede opinião e faz alterações. Eu nunca vi um diretor estabelecer uma relação tão horizontal quanto ele. E no decorrer das filmagens, ele ia mostrando os episódios, conforme ficavam prontos. Sabíamos que tínhamos feito algo que era bastante especial para a gente. Estávamos muito satisfeitos por perceber que o que pretendíamos estava ali. Mas o retorno do público é sempre uma incógnita…. De forma alguma estava na nossa mão dizer se alcançaríamos o espectador e com que profundidade. A série está trazendo os olhos do espectador para a saúde de uma forma diferente. Informando, aproximando com mensagens muito simples e diretas, não apenas em relação ao universo da saúde. Inserindo e mostrando o sistema em que vivemos e que somos através do comportamento, cultura, política…integrando corpo e alma, o indivíduo e o cidadão.

 

Redatora e cronista