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O tempo e o modo

A Televisão
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Falar Televisão

 

O espaço de comentário político de José Sócrates do passado Domingo deu que falar. O estilo adotado por José Rodrigues dos Santos, que no âmbito das recentes alterações ao Telejornal passa a assegurar em rotação com João Adelino Faria também os fins de semana, tornou o espaço de comentário num aceso debate sobre anteriores declarações de Sócrates enquanto primeiro-ministro. Ao longo das semanas o passado governativo nunca deixou de estar presente, mas usado por José Sócrates para defender a sua versão da história. Desta vez era o moderador a recorrer ao passado para fazer o contraditório.

Nos últimos dias muito se tem discutido se a postura de Rodrigues dos Santos foi a correta num espaço daqueles. Uns acusam-no de subverter as regras acordadas com o comentador (há quem fale em «cilada») e de transformar a rubrica do Telejornal numa entrevista semanal, outro elogiam o pivot e criticam o estilo de outros jornalistas. Não duvidando da pertinência das questões de Rodrigues dos Santos, penso que as devia ter colocado no contexto do comentário semanal, sem desvirtuar aquele espaço – e portanto sem defraudar as expectativas do comentador (que não é um entrevistado, é um colaborador da RTP), e principalmente do espectador. Embora José Rodrigues dos Santos tenha partido dos temas semanais em análise para fazer as suas perguntas, acabou por se desviar demasiado do formato e perder vários minutos a discutir o passado.

Independentemente deste episódio, julgo que o problema (que se reflete nas modestas audiências) de A Opinião de José Sócrates reside aqui: seja por responsabilidade do ex-primeiro-ministro ou do apresentador, o programa parece estar parado no tempo algures em 2011, ano da demissão de Sócrates. A juntar a isto, a escolha (hoje comprovadamente errada) de concorrência direta com o espaço de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI. Acredito que esta discussão pública sobre o programa possa ter algum efeito positivo nas audiências (que já têm apresentado uma ligeira subida nos últimos meses). Mas a RTP tem de esclarecer o que pretende daquele espaço.

Uma nota final para lamentar o afastamento de Cristina Esteves do Telejornal (refiro-me principalmente ao papel de pivot e não de condutora de A Opinião de José Sócrates). Penso que o principal noticiário da estação pública devia ter um rosto feminino entre os seus apresentadores, e Cristina Esteves estava a conquistar estatuto junto do público desde que Nuno Santos apostou nela. Teve o azar de assegurar o pior dia do Telejornal nas audiências, mas não me parece que a razão se resumisse à pivot.

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