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O sentido das audiências

Diana Casanova
4 min leitura

Muito se tem falado sobre as audiências e sobre o crescimento do Cabo. Uns defendem que isso se deve a uma quebra de interesse por parte dos telespectadores face às generalistas, mas outros dizem que comparar um só canal com um conjunto de canais (Cabo) é injusto. Bem, ambos têm razão. O que me leva a refletir sobre a necessidade de achar um sistema de medição audimétrica com mais sentido, para as subjacentes análises também fazerem mais sentido.

Importa resumir de forma breve os pontos fundamentais desta temática. As audiências são medidas pela Marktest, com a colaboração da MediaMonitor (empresa do grupo), através da colocação de um dispositivo no interior das televisões de 1000 lares portugueses. Ao longo do dia, esse dispositivo vai gravando as frequências que são visualizadas pelos membros do lar (cuja diferenciação também é feita). Durante a madrugada, esses dados são enviados automaticamente para a Marktest que, através da equipa da MediaMonitor, visualiza segundo a segundo o que foi emitido pelas estações de televisão (programas e anúncios), fazendo então a análise de conteúdo para atribuir um rosto (um programa) às frequências que foram registadas.

A amostra de lares é calculada com base nos Censos e refletem, igualmente, a percentagem de pessoas com Cabo, que recentemente foi alargada, devido aos Censos deste ano que vieram corrigir esse erro que era considerar que uma percentagem reduzida de lares portugueses tinha Cabo.

Ora este método levanta algumas questões, a maioria delas relacionadas com as novas tecnologias. Será que ainda tem sentido medir apenas as audiências de uma certa televisão, num lar, quando provavelmente há alguém simultaneamente a ver programas no youtube? E as gravações de programas para visualizar mais tarde, será que não deveriam ser também contabilizadas?

A verdade é que cada vez mais as novas tecnologias entram na vida dos portugueses. Não é só o problema do Cabo crescer e de se estar a analisar um conjunto de canais face às generalistas, é sobretudo a ignorância destes novos hábitos dos telespectadores. É isto que é fundamental para perceber, de facto, qual é o número de portugueses a que chegam certos conteúdos, que é não só importante para determinar as receitas publicitárias, mas também para compreender um pouco melhor o sucesso dos programas. Existem inúmeros exemplos de programas que na televisão têm audiências medíocres, mas que se formos a ver as visualizações no youtube têm um sucesso estrondoso. Talvez os seus públicos-alvo não estejam em frente à televisão, mas antes à frente de um qualquer computador ou tablet.

Numa altura em que está a ser implantada a TDT e já uma grande percentagem de lares têm aparelhos da MEO, ZON, etc, que são extremamente evoluídos tecnologicamente e que poderiam, creio, de forma simples fazer o registo dos programas visualizados pelos espectadores, bem como as gravações que fizeram e os produtos adquiridos via Vídeo Clube. Isso, sim, contribuiria para audiências com mais sentido. Sem esquecer as audiências online que são tão, ou mais, importantes do que aquelas que são registadas em frente a uma televisão.

A experiência televisiva está a mudar. Se as generalistas têm de se adaptar a esse facto, também a Marktest o tem de fazer. Lá fora, já se medem as gravações e audiências online. Por que não o fazer em Portugal também? Afinal é o que faz mais sentido.

Redatora e cronista