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O aproveitamento da vida real

Diana Casanova
3 min leitura

Sem querer ser preconceituosa nem pretensiosa, digo que a televisão nacional não me cativa. Salvo algumas exceções de programas inovadores e que trazem algo de novo, na generalidade não existem formatos que vão para além da banalidade e do aproveitamento da “vida real”.

Desde a programação da manhã, com os programas a contarem as “histórias de vida”, dramas e milagres, vidas e mortes, aventuras e desventuras de pessoas que na maioria das vezes nem sequer percebem o que lá vão fazer. Passamos para a tarde, com o mesmo conteúdo… à noite temos os reality-shows… uns mais “reais” que outros, mas todos eles de uma exposição mediática desmedida e que acaba por iludir quem está de fora.

Para mim é chocante o interesse que muitos destes conteúdos apresentam para a generalidade dos portugueses, ainda mais os valores audimétricos que conseguem obter. Bem, na realidade até percebo esta situação, pois trata-se de uma questão cultural. As pessoas querem conhecer outras histórias de vida e, no fundo, ver que os outros vivem os mesmos dramas ou problemas, porque enquanto se focam na vida dos outros esquecem o tédio ou drama em que vivem.

Mais do que isso, choca-me como há quem se preste a esse tipo de “papel” de exposição da vida pessoal a todos os níveis. Em inglês podíamos chamá-los de “attention whores”, mas creio que acaba por estar relacionado com aquilo que referi no parágrafo anterior. Se é preferível focar-se nos problemas dos outros, a participação em qualquer um destes formatos também lhes permite passar uma imagem que até pode (e muitas vezes) não corresponder à verdade. É por isso que programas como Secret Story ou que Peso Pesado (com as devidas diferenças), mas também os programas matinais e da tarde, acabam por ter tanto sucesso. Com a certeza que os públicos-alvo são muito diferentes, estou igualmente certa que a matéria-prima é a mesma – aproveitar-se da vida real, ou daquilo a que as pessoas gostam de apelidar de vida real, mas na maioria dos casos nem sequer passa de uma imagem que se quer passar ou de um buraco num destes formatos que dá jeito “tapar” com alguma história. A “vida real” nem sempre passa de pura ficção.

Por essa razão, já há algum tempo que para além de um zapping rotineiro, acabo por visualizar mais produtos de ficção internacional, ou programas de humor e noticiários nacionais. Aí, sim, acho que temos evoluído bastante, exceto, no entanto, quando estes espaços noticiosos têm 2h de “dramas e histórias da vida”…

A televisão tem uma função de alertar para os flagelos que nos afetam, mas não é necessário explorá-los até à exaustão!

Redatora e cronista