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Livro de reclamações

A Televisão
3 min leitura

Falar_Televisao 2012

Invariavelmente quando se falam de audiências, os comentários que apelidam de «lixo» os programas mais vistos da televisão portuguesa excedem inclusivamente os que apoiam os formatos. A verdade é que eles lá estão, mas porque será?

Há muito que a televisão dos anos 50 que se queria cultural e impunha todos os produtos com pretensões culturais ao serviço do monopólio- não esquecer que só existia a televisão estatal- e formava os gostos do grande público deixou de existir. Com o aparecimento das privadas no início dos anos 90, os gostos passaram a ser explorados e bajulados de forma a atingir-se uma audiência muito mais ampla, em que os conteúdos surgem ao ritmo da vida quotidiana e são cada vez menos singulares, visando ser vistos por toda a família e por consequência atingir todo o público. Aos espectadores passaram-se a oferecer produtos em bruto, cujo paradigma são os talk shows, a coqueluche no início do canal de Carnaxide e de Queluz de Baixo, que exibem sem filtros as experiências vividas pelas pessoas contadas na primeira pessoa, numa clara satisfação do voyeurismo e do exibicionismo inerente ao ser humano.

Se antigamente os programas era definidos com as funções de educar, informar e distrair, a guerra de audiências, com o aparecimento da privadas, mutou a oferta e a própria relação do publico com a televisão que passou a usar o pequeno ecrã para se distrair, convencer e comprar, onde SIC e TVI impuseram a função económica à função social. A televisão, que passou a ser gerida pelo monopólio das privadas, deixou então de ser um espaço de formação para passar a ser um espaço de convívio. Deixámos de ter uma televisão que apele ao sentido critico e passámos a ser convidados apenas a sentir e vibrar com os programas.

Este cenário é determinado pelas audiências, que comandam a produção televisiva ao ritmo das suas preferências, onde a televisão enquanto objeto comercial responde à procura que pretende satisfazer o público e vender ao máximo os produtos dos anunciantes, resultado de uma estreita e perigosa ligação com o mercado. Impera no pequeno ecrã aquilo que se julga ser o gosto do publico que passou a ser participante e que se vê repetidamente no papel de «ator» de um formato no epicentro desta mudança que impõe a sociabilidade e essa representação no seio do mercado: os chamados reality shows. O formato, principal culpado das criticas com que iniciei esta cronica, encurtou a distância entre a realidade e a ficção, numa espécie de espelho social, em que, do ponto de vista comercial, quanto mais nos virmos ao espelho, melhor. É triste, mas verdade…

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