Elogio fúnebre

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Falar Televisão

Num país onde os programas não costumam ter grande longevidade, atingir os 19 anos de emissões é obra. Ainda mais quando o formato não só se torna um sucesso como muda completamente o panorama televisivo do horário onde é emitido. A Praça da Alegria acabou mas o seu legado fica, e a sua fórmula continua a ser a que as generalistas têm para oferecer naquele horário.

Para alguém como eu que é quase da mesma idade que a Praça (em 1995 tinha um ano) é como se o programa sempre tivesse existido. Todas as memórias que tenho do programa lembram-me invariavelmente os meus avós, fiéis espectadores do programa até à última emissão. Lembram-me as manhãs passadas com eles, quando só tinha aulas à tarde e os desenhos animados ainda davam na RTP1. Recordo os vários apresentadores, a saída abrupta de Goucha para o flop Olá Portugal da TVI, o mítico cenário com a esplanada, o hino tocado pela banda do programa, as rábulas popularuchas a que um miúdo ainda consegue achar piada, primeiro de Guilherme Leite e Luís Aleluia, depois de Zeca Estacionâncio e do Quim Roscas que entretanto foi dar uma ajudinha a Júlia Pinheiro na SIC. O programa já estava um marasmo há vários anos, estagnado na mesma receita e nos mesmos conteúdos, provavelmente esquecido pelas direções de programas.

A morte lenta da Praça não começou em Lisboa, começou «lá em cima» no Monte da Virgem. Mas a Praça da Alegria continuava a ser uma marca forte, não só mas principalmente no norte do país, e se fosse renovada tinha potencial para conquistar o segundo lugar à SIC. A sua transferência para Lisboa foi a machadada final: a dupla de sucesso das tardes não conseguiu repeti-lo de manhã, Portugal no Coração afundou e a saída de João Baião para Carnaxide foi o golpe de misericórdia.

Eu gosto quando os canais conseguem manter as suas marcas por muitos anos. Tenho por isso pena que a Praça acabe, por muito que já não tivesse grande interesse no programa. Mas ainda mais pena tive quando a RTP Porto perdeu o seu programa de entretenimento mais emblemático. Espero que em setembro a RTP saiba inovar e marcar a diferença no daytime. Acredito que o faça com Herman José nas tardes, tenho dúvidas que o venha a fazer nas manhãs.

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