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«Além do Tempo»: Mesa Redonda com Paolla Oliveira, Julia Lemmertz e Felipe Camargo (Parte 1/3)

Diana Casanova
15 min leitura

No âmbito da mudança de época em Além do Tempo, a novela das 20h do canal Globo, exclusivo NOS, o A Televisão esteve à conversa com os atores Paolla Oliveira, Júlia Lemmertz e Felipe Camargo numa mesa redonda que agora poderá ler. Mais do que perguntas e respostas por parte da imprensa e dos atores, esta foi uma conversa animada entre os próprios atores, com (pouca) intervenção nossa. A boa disposição e o entusiasmo com este projeto reinaram.

Publicamos os principais excertos dessa conversa com o trio de atores nos próximos três dias. Leia de seguida a primeira parte.


Além do Tempo – A Novela, a História e os seus Destaques

Julia Lemmertz – Essa novela é uma felicidade para todos nós. Foi um acerto incrível. Desde o início que a gente está sendo muito feliz na novela. A gente já está chegando no final, praticamente, então, a gente já passou por um bom pedaço, assim e até agora só teve alegrias.

Paolla Oliveira – É uma novela que eu acho que tem todos os elementos que pode fazer com que os portugueses, assim como os brasileiros, se apaixonem. Ela começa de época, toda linda, romântica, encantadora e aí ela tem uma mudança de fase no meio que vem para a atualidade mas que mantém esse romantismo. Mantém as histórias muito vivas. Mantém o próprio tema, esse tema que fala de outras vidas. Eu acho que instiga todo o mundo – quem acredita, quem não acredita… Eu acho que tem todos os elementos para os portugueses se apaixonarem, como os brasileiros aqui, desde o primeiro minuto.

Felipe Camargo – Tem uma coisa na obra da Elizabeth Jhin que sempre fala de espiritismo, não reencarnação, mas ela sempre fala dessa coisa espiritual e aí eu acho que contando uma história no estilo dela, só que agora atravessando vidas, ela acabou fazendo uma obra revolucionária. Foi super inovador, essa coisa de fazer a metade da novela numa época e aí mantendo não os personagens, mas as almas desses personagens que cruzam 150 anos e reencarnam com os mesmos nomes, para também não virar uma loucura [risos] do público entender melhor, mas com alguma personalidade e alguns restícios do que aconteceu… A novela já era prevista para ter duas épocas, mas o bacana aqui para nós também é que cada um de nós pôde fazer dois personagens. O diretor teve que fazer dois estilos de direção, o fotografo também…

Paolla – Derruba uma novela e começa outra.

Felipe – Exatamente, a gente no meio da novela… é como se acabasse uma novela sem acabar, na verdade, mas já começando uma outra com um tempo muito curto para produzir, então foi uma correria…

Julia – É como entrar num boeing já no ar… E a novela fez muito sucesso por ser de época, em que toda a iluminação dela era feita com velas. Foi incrível! E aí essa mudança para o contemporâneo – agora, 2015 – causou um frison e um será que… Porque estava todo o mundo tão amarrado, tão fortalecido por essa primeira fase ter sido tão boa que a história se sustentou. Eu acho que tem uma coisa muito forte em como os diretores [Rogério Gomes] seguram a estética da novela. É importante, porque dá uma unidade para a novela. Uma identidade.

Diferenças entre as duas fases de Além do Tempo

Paolla – A minha personagem é a Melissa. Sou filha dessa doce criatura – Dorotéia [Julia Lemmertz]. É uma vilã mas que acaba ficando mais engraçada ou mais leve. Ela é mimada, egocêntrica, tem uma ligação com o materialismo. Ela quer casar a todo o custo. Em 1800, ficou até para trás, um casamento era o sonho dela. Então antes das tramas que ela faz é o casamento. É que o Felipe [Rafa Cardoso] é apaixonado pela Lívia [Alinne Moraes], então esse triângulo formado vai fazer a minha personagem fazer as maldades dela e enlouquecer e até tirar alguns sorrisos das pessoas de tão maluca que ela é. Ela fala rápido… não para de falar. É agitada…

Ela vem para a segunda fase com tudo o que ela não soube dar na outra vida. Que ela não soube conquistar. Ela vem melhor, vem menos ruim. Ela vem amorosa, vem amando o marido. Volta casada, mas ela sofre de amor, de ciúme. É desequilibrada. Agora ela está tendo o gostinho dela de sofrer as consequências daquela vida. É mais ou menos isso.

Julia – Viver não é fácil.

Paolla – Viver duas vidas então! [risos]

Julia – Para a gente foi muito louco de fazer porque fazer um personagem em televisão sempre muda. Como é uma obra aberta, o personagem vai flutuando durante a novela. A minha personagem Dorotéia, mãe de Melissa, é uma viúva que não é nobre, ela é professora de piano. Se casou com um Conde e esse nobre morreu falido, deixando ela com dois filhos, que eram completamente dependentes desse pai. E se viram na miséria, não completamente, porque ainda tinham pelo menos as roupas do corpo, a pose…

Paolla – A pose tinha muito! [risos]

Julia – Então é uma mulher que vive de aparências e que a saída dela é casar a filha dela com esse conde, o Felipe e ela se muda para Campobello. Ela tem uma postura de nobre, mas não é nobre. Se acha chiquérrima. Ela, o filho e a filha são praticamente uma quadrilha. Mas na verdade não existe uma maldade de querer mal e matar o outro. Eles querem se dar bem, viver bem e nada mais do que isso. E ela é muito frágil nesse sentido. Ela fica muito dependente da filha e do filho, que é um conquistador, um Don Juan, que também se quer dar bem… então estão todos ali na mesma página.

Ela acaba descobrindo coisas ao longo da novela e acaba tendo um caminho interessante, do embate com a Condessa. Aí na segunda fase, ela volta ainda mãe de Melissa, mas volta menos dependente de Melissa. Ela volta um pouco mais sem vergonha ainda. Em 2015 ela não tem mais uma pose…

Paolla – Ela solta a franga! [risos]

Julia – Ela é super engraçada. É muito divertido, porque é quase como fazer teatro. Você está com um grupo de pessoas, está fazendo uma peça de época e de repente o diretor chega e fala «Gente, agora esquece, muda o figurino e vamos botar uma coisa contemporânea. Vocês vão fazer outra coisa». E aí começa tudo de novo. A gente acabou de gravar num sábado e na 2ª feira estávamos todos cortando o cabelo, mudando de roupa, mudando o figurino e na 3ª feira a gente estava gravando. E seguiu, não tinha: «ai como vai ser a minha personagem?»… A gente estava lendo o capítulo e falava: «bom, é isso». Então foi incrível, porque a gente se apegou… a gente brinca que ficou apegado naquela fase do candelabro, das roupas, dos espartilhos, que era lindo. E de repente entramos na luz, casinha… Está a ser incrível! A gente se diverte.

Felipe – O Bernardo era filho da Condessa Vitória e o que acontece é que ele tem uma alma livre, rebelde e ele se apaixona por uma saltimbanco – a Emília – e ele vai fazer tudo para ficar com ela. Ele era um Conde e ele larga o castelo e vai morar com a saltimbanco e a mãe, terrível com os valores e um amor enorme a ele, ela faz tudo para destruir a vida do casal. Aí acontece um acidente e o Bernardo é dado como morto. E na verdade ela vê que ele não morreu e esconde de todo o mundo. O que acontece é que o Bernardo perde a memória. A única coisa que ele lembra é um lugar. E aí, claro, entra o lado lúdico da novela. Ele vai como que guiado por um anjo, vai parar nessa cidade onde todos vivem. Só que ele é uma figura que todos vêem como um vulto, um maluco… Ele vive na busca da memória o tempo todo. E o que eu acho interessante é que quando entra a segunda fase, claro, já não é um desmemoriado, ele é um escritor, documentarista, quer dizer, é um cara que vive para dar memória às coisas. Então é muito bacana esse símbolo desse personagem. Ele vem com esse espírito livre, mais ainda, porque ele vivia muito em função desse amor… talvez tenha esgotado essa paixão numa mulher. Vem com um espírito super libertário. Ele viaja o mundo. Não se apega a ninguém e aí tem uma coisa que ele vai descobrir – a origem dele que tem um mistério, que nem nós sabemos. Tem um mistério que envolve a origem dele e quando vai para a cidade em 2015, ele conhece a Emília de novo. Uma mulher completamente diferente da Emília que ele conheceu. Na primeira fase ela é saltimbanco, pobre, mas em 2015 é uma empresária poderosíssima. Então essa paixão vai começar a acontecer de novo.

É muita coisa acontecendo. A gente está aqui resumindo uma novela, mas que seriam duas, na verdade.

Paolla – Todo mundo me pergunta assim na rua: «mas eles lembram da outra vida?». É como se fosse tipo gerações à frente. Não, não tem essa relação. É como se os personagens dessa vida atual têm sensações. Sabe quando você vai na rua e você sente «Nossa, parece que eu te conheço!». Só para vocês entenderem um pouco, as pessoas se cruzam de novo, mas é como na vida a gente não sabe porque está os três aqui juntos. Porquê nós três, hoje? Porquê ela está fazendo minha mãe? Será que a gente tem uma relação para a vida, além do tempo? É mais ou menos esse o mote da novela.

Julia – Eu acho que a Elizabeth coloca aqui na atualidade: o que é que essas pessoas que viveram naquela época, naquele lugar específico, voltam para aquele mesmo lugar, noutra encarnação, se encontram… Essa gente pode ter uma segunda chance de resolver pendentes naquele passado distante. O reencontro, as amarguras, os desencontros, o que você faz nessa vida e que você pode concertar na próxima.

Felipe – Vai muito pelo catecismo. A reencarnação, o crescimento ou não de uma vida para a outra. Você poder aproveitar para crescer ou desperdiçar. Tem também os anjos, são dois anjos que interferem…

Paolla – Quantas vezes a gente não fala: «nossa, você parece um anjo!».

Felipe – É claro que tem todo um sentido figurado nisso, mas às vezes ou essas pessoas que a gente nem conhece, elas interferem na nossa vida de uma forma positiva, ou não. Às vezes até dificultando ou ajudando…

Geralmente as novelas têm um tempo longo, e tem uma hora no meio que a gente está muito confortável. Você já está dominando, o texto dá uma embarrigada e o que aconteceu com essa novela, por mudar de época, é que na hora em que a gente está no piloto automático. Ela fez a gente ficar completamente enlouquecidos, inseguros, mexendo com mil coisas e mexendo com todos os sectores. Desde a Elizabeth Jhin que teve de criar uma história nova, à direcção, iluminação, figurino, elenco, todo o mundo ficou muito mexido e empolgado. Isso é que é muito bacana!


Parte 2 (de 3) desta Mesa Redonda será publicada dia 7 de março.

Redatora e cronista