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A Entrevista – Vicente Morais

A Televisão
13 min leitura

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Vicente Morais dá vida a Filipe Ribeiro na novela da hora de almoço da RTP1. «Trabalhador, forte, com espírito reivindicativo e um lutador», é assim que o ator caracteriza a sua personagem em Os Nossos Dias, uma história que vai para o ar de segunda a sexta, por volta das 12h, no canal um.

Em entrevista exclusiva ao nosso site, Vicente, que em televisão já integrou projetos como Ilha das Cores ou Pai à Força, afirma que a nova trama da RTP1 podia ser um produto feito para o horário da noite. «Diziam que para horário do almoço a coisa ia ser “pobre”, “foleirinha”. A verdade é que não. A aposta foi bem feita a todos os níveis».

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– Vamos começar esta entrevista com uma apresentação sua. Quem é o Vicente Morais e que projetos já realizou em televisão?

– Então, tenho 37 anos, sou ribatejano e trabalho como ator profissional desde 1998. Comecei por integrar o Teatro do Mar, onde fiquei quatro anos antes de vir para Lisboa. Passei pelas companhias de teatro KARNART (do encenador Luís Castro), Teatro Mínimo (Pêpê Rapazote, Zé Boavida, Pedro Alpiarça) e fui fazendo pequenas participações em televisão. No meu primeiro trabalho televisivo tive a sorte de trabalhar com três grandes nomes: Nicolau Breyner e Rita Blanco, como atores, e Fernando Ávila, na realização. Foram sketches de humor para a passagem de ano de 2003, repetindo a dose em 2004 para a RTP1. Passado uns tempos fui convidado para o programa A Revolta dos Pastéis de Nata, onde era ator e argumentista. Fiz também alguns trabalhos como encenador. O mais recente foi O Bom Ladrão com o ator Pedro Górgia, com quem ainda mantenho uma relação de amizade e profissional. Estamos neste momento a desenvolver pelo terceiro ano um projeto de teatro educativo para a Fundação PT, da qual me orgulho bastante. Vou fazendo um ou dois projetos teatrais com um amigo, Paulo Vaz, e sou ainda professor de teatro de 230 alunos e… o trabalho mais difícil de todos: sou pai! A Carolina, que no dia 30 fez 6 anos e entrou para escola. É o melhor e mais dificil trabalho que tenho neste momento!

– Sempre foi um sonho para si ser ator?

– Curiosamente não! A minha família é de origem humilde e sempre trabalhou a terra para sobreviver. Referências teatrais não tinha. Mas lembro-me de desde muito cedo ficar a ver cinema (na televisão apenas) e ficar fascinado com alguns filmes e algumas personagens, apesar de não as entender. Mas guardo muitas memórias de coisas que vi muito novo. Só quando estudava no ensino secundário é que comecei a fazer teatro amador, onde cheguei a ganhar dois concursos para jovens. Primeiro a nível regional (mudei-me para lá aos dez anos antes do meu pai falecer) e no segundo ano que concorri (ator, dramaturgo e encenador) vencemos a nível nacional. Fazia a coisa por piada, não com o sonho de ser ator. Queria ir para Marketing e Publicidade, mas quando concorri não entrei.

– E então, o que aconteceu a partir daí?

– Pensei: «Vou concorrer a uma escola de atores. Faço o curso. Se arranjar trabalho como ator, ótimo. Arranjo dinheiro para depois estudar algo mais sério. Se não, trabalho num restaurante antes da faculdade». Um amigo meu inscreveu-me no curso do CENDREV [Teatro Garcia de Resende – Évora]. Acabei por entrar e vi que era mesmo aquilo que queria e que se calhar tinha mais do que jeito. Portanto, ser ator não foi um sonho. Foi uma consequência de circunstâncias… e ainda bem!

– Pois bem, teatro e televisão parecem ser duas áreas de destaque na sua vida. Onde se sente mais à vontade?

– Teatro! Foi a minha formação inicial e pela qual lutei para poder ganhar a vida. Nessa altura achava que televisão era para atores «fracos». Mas entretanto percebi que não. Há bons atores em televisão e bons desafios para um ator no ecrã. Às vezes, infelizmente, não nos dão oportunidades para trabalhar ou então não podemos sair fora daquilo que o público conhece e sentimo-nos presos. Estive em projetos que, na minha opinião, podiam mudar a linguagem televisiva e dar a conhecer o meu trabalho, mas que não tiveram seguimento ou foram mal compreendidos.

– Como assim?

– Lembro-me do Câmara Café com Marco Horácio na RTP1. O programa, que lá fora (França, Espanha) está no ar há cinco ou sete anos, aqui durou apenas o mês de agosto. Futuramente também quero fazer mais televisão. Porque sinto que a televisão portuguesa (RTP1 principalmente) está a fazer mudanças e a arriscar mais em termos de novidades de linguagem, estilo de ficção e espectadores. Eu inclusivé fiz algumas propostas que foram bem recebidas pelo canal. Agora espero respostas. Espero que positivas. Mas acho sinceramente que estão a fazer-se novas apostas e gostava de fazer parte dessa mudança.

– Falando em novas apostas… Atualmente integra o elenco da nova novela da hora de almoço da RTP1. Que balanço faz de Os Nossos Dias?

– Bom. Muito bom o resultado. Vejo as imagens e parece um produto feito para o horário da noite. Digo isto porque diziam que para horário do almoço a coisa ia ser «pobre», «foleirinha», «sem história». A verdade é que não. A aposta foi bem feita a todos os níveis: elenco, enredo, realização, produção, fotografia… a história em si. Não há nada mais real e próximo do espectador do que esta novela, neste momento. A RTP e a SP fizeram de facto excelentes escolhas.

– Como se preparou para a sua personagem nesta história?

– Sinceramente? Bastou-me olhar para amigos, vizinhos, noticiários. Está tudo a acontecer. Eu próprio estive quase a passar por situações idênticas às da minha personagem, e tive amigos que passaram. Foi só estar atento.

– Fale-nos sobre o Filipe Ribeiro e o desenvolvimento que vai ter na novela.

– O Filipe é uma personagem que reconhecemos e identificamos facilmente. Trabalhador, forte, com espírito reivindicativo e um lutador. Luta por si e pelos seus, mas é ponderado e sabe refrear-se quando é preciso. Mais para o fim toma uma decisão que pode fazer que o amemos ainda mais ou o odiemos… vamos ver.

– E as gravações, estão a correr bem?

– Começaram de forma dolorosa para mim. Mas por mim, não por culpa de ninguém (a SP é fantástica). Tive mais de dez anos a fazer personagens cómicas… demasiadas talvez. E foi difícil sair do registo cómico e «assentar» numa personagem naturalista. Ainda por cima tinha acabado de fazer o telefilme Almas Penadas para a RTP1, que foi uma experiência muito boa do ponto de vista da construção da personagem. Pude fazer comédia como nunca antes. Misturei uma série de referências do humor e a personagem apanhou-me de surpresa.

– Mas com o tempo conseguiu chegar a uma sintonia, não?

– Com o tempo, as gravações de Os Nossos Dias entraram nos eixos e tornaram-se mais fáceis. Os colegas, os realizadores, diretores de atores, produção proporcionam um ambiente onde é fácil um ator trabalhar.

– Espera-se que esta seja uma novela de longa duração. A sua personagem vai durar muito tempo na trama?

– Já sei a duração dele na novela… mas não posso dizer! Acho que teve o tempo certo para o enredo. Mas a saída do Filipe não é obrigatóriamente um «adeus». Pode ser um «até já». Vamos ver como reajem os espectadores e a produtora!

– A pergunta que não podia faltar: concorda com o horário de transmissão da novela (12h)?

– Sim. Fazia falta uma produção nacional neste horário. Além disso, por ser novidade, deixa as pessoas contentes, nem que seja para irem fazendo o almoço ao mesmo tempo que espreitam o aparelho.

– Se a novela fosse transmitida à noite (em confronto com as novas apostas da SIC e da TVI), considera que teria mais audiência?

– Não sei… por um lado há mais gente em casa. Por outro, a televisão por cabo retira muita gente dos canais generalistas. Não tenho uma resposta segura.

– Qual a sua opinião sobre Sol de Inverno e Belmonte, duas estreias recentes?

– Não vi o suficiente de ambas para ter uma opinião formada. Estou com ensaios, o que não me dá muito tempo para ver televisão. E não gosto de falar por falar, sem ver e avaliar.

– Que feedback tem recebido de amigos e familiares relativamente à sua prestação na trama da RTP1?

– Surpresos por me verem fazer uma personagem que não é «anormal» como as que tenho feito ao longo dos anos. Acham que com o Filipe eu próprio me torno mais «pessoa», mais «real». Gostam da personagem, e de repente vêem coisas no Filipe, e dizem que nunca me imaginaram a fazer aquilo de forma natural e séria.

– Costuma ser abordado na rua? O que é que as pessoas lhe dizem?

– Normalmente dizem frases das personagens que interpreto ou «Vejo-o sempre»… e penso se será uma vizinha minha que me espia da janela dela…

– Em televisão, já participou em projetos como 5 Para a Meia-Noite, Pai à Força, A Ilha das Cores ou Conta-me Como Foi. Qual aquele que gostou mais?

– Destes títulos, escolho A Ilha das Cores. Um projeto português com muita qualidade. Sem ter uma linguagem óbvia e básica para os mais novos. Só por isto valeu a pena. Depois porque me apaixonei pela personagem Pedro, o carteiro. Mas também daria o meu voto para o telefilme Almas Penadas, pela liberdade de experimentação de humor. Faria mais Almas Penadas agora! Infelizmente foi pouco divulgado na grelha da RTP. E agora escolheria… Os Nossos Dias! Foi bom ter a oportunidade de fazer uma personagem tão simples, sem subterfúgios, sem «maquilhagem», limpa.

– Portanto, até agora só o vimos no ecrã da RTP. Gostava de integrar produções noutros canais?

– Como disse antes, tenho três propostas de minha autoria que aguardam resposta. Houve interesse, reuniões e preparo neste momento imagens para «pilotos». Acho que a concorrência está atenta.

– Para finalizar esta conversa, como avalia o atual panorama televisivo em Portugal?

– Duas palavras: em mudança!

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