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A Entrevista – Tufão

A Televisão
15 min leitura

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Foi na montra de uma loja de animais que Raquel Strada encontrou a sua paixão mais recente. Chama-se Tufão, é um chowchow – raça conhecida pela particularidade dos cães terem a língua de cor azul –, e com apenas 11 meses de vida, já é um verdadeiro sucesso nas redes sociais.

Recentemente, Tufão tornou-se o protagonista de um artigo na revista americana Time, uma das mais conceituadas a nível mundial. No texto, pode ler-que «o seu nome faz sentido porque olhar para ele é como ser atingido por um tufão de fofura». Mas enganam-se redondamente. Tufas, como é chamado pelos amigos, ganhou popularidade graças à sua língua afiada e às respostas tortas que costuma dar à dona e a quem comenta a sua página. Na hora da verdade, ele admite: ultrapassar Cristina Ferreira e Cristiano Ronaldo nas redes sociais é mesmo um objetivo de vida.

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– Definitivamente, conquistar a atenção de uma celebridade não é para qualquer um. Como conseguiu chegar até ao coração de Raquel Strada?

– Desde que era o mais novo da ninhada precisei de atenção e, por isso, sempre gostei de ser o palhacinho dos manos. Quando a Raquel me escolheu da loja achou que eu era o mais cabrãozinho – sim, eu vim de uma loja e, por mais estranho que isto possa parecer às pessoas, os cães de raça também merecem um telhado -, e ela viu em mim alguma coisa que nunca tinha visto antes num cão. Sou o primeiro cão de raça que a Raquel teve como companheiro, sou o irmão mais novo que a colocou nas luzes da ribalta. E sou também o cão que meio país, e agora mundo, ama odiar.

– Se não se chamasse Tufão, que nome gostaria de ter?

– Gostava que o meu nome tivesse algo de exótico. Tufão Stephen Strada ou mesmo Tufão Ramirez. Estou desencantado com a portugalidade do meu nome.

– E se tivesse oportunidade, que personalidade famosa escolheria para cuidar de si?

– O Eládio Clímaco, porque sabe imensas coisas de muitos países e ninguém está preocupado com onde é que ele anda e isso põe-me triste. E talvez o Herman José aos fins-de-semana, porque o 1,2,3 sempre foi dos meus programas preferidos e é certo e sabido que o Herman é dos melhores cozinheiros não oficiais que este país tem.

– Pelo que vejo no mundo digital, o seu dia-a-dia é sempre muito animado (e requintado, vá). Descreva-me o que costuma fazer.

– Gosto de me mimar ao acordar com uns pós franceses, ir à rua e fazer as minhas necessidades mesmo quando não tenho vontade só para me orgulhar de ter um ser humano a cuidar das minhas próprias fezes. É um exercício de subserviência fantástico que acho que só os cães conseguem experienciar. O resto do dia é dedicado à observação das rotinas diárias de todos os que rodeiam a Raquel. Não é que para a página me tenha desviado dos meus afazeres e condicionantes enquanto cão… Acabei por automatizar uma parte do meu cérebro que lança um alerta, em vários contextos, que uma determinada coisa pode ter piada. Ainda no outro dia, estava o empregado do café onde a Raquel costuma ir a tentar explicar a um estrangeiro a expressão «Cu de Judas». Quer achemos, quer não, a vida é muito engraçada, é só preciso estar atento a ela.

– É um facto: os cães não costumam navegar no Facebook. Sente-se superior aos outros?

– Gosto de observar comportamentos humanos e vejo a minha página como um encontro privado de chá entre amigos que não conheço de lado nenhum ampliado a 22 mil pessoas. Uma vez que consegui juntar as duas coisas, ótimo.

– O Tufão é um sucesso graças à sua língua afiada e às respostas tortas que costuma dar à Raquel e aos seus seguidores. De onde vem tanta maldade?

– Era necessário cortar com os brandos costumes. Os portugueses são um povo a quem sempre lhes soube bem o conservadorismo, a discrição e a regra. O «parece mal» é um fantasma salazarista que vos acompanha há anos e por isso sempre que surge alguém inconveniente e incómodo chama a atenção. Se a faceta de palhaço for uma grande variante nessa personagem, é desculpável. Já não parece tão mal e, na verdade, nunca é julgado. No fundo, não deixo de estar a ser aquilo que todos querem ser, mas que não costuma ser muito aceite dentro das comunidades e grupos sociais.

– Com 23 mil gostos, posso-lhe dizer, com a maior das certezas, que é mais popular que muitos famosos. Já sente algumas invejas? Acha que faz «comichão» a outras páginas do Facebook?

– Claro que sim, isto está cheio de comunidades de haters que eu estou desejoso que se manifestem para eu poder alegremente publicitá-las ao mundo e mostrar no buraco sem fundo onde se estão a meter. Os ingleses têm esta expressão do «kill them with kindness». Ora bem, eles que se mostrem. Tenho pêlo para todos e estou ansioso de uma concorrência à altura. Cheguem-se à frente, empreendedores.

– Ultrapassar nomes como Cristina Ferreira ou Cristino Ronaldo nas redes sociais é um objetivo de vida, suponho.

– Sim, adorava um dia ver as pessoas na praia a lerem os meus posts enquanto passam daquelas tardes de verão onde acham que a sua vida é um anúncio de refrigerante. Acho que ia ficar com uma sensação de dever cumprido. No mínimo teria vivido o suficiente para deixar uma página que divertiu uns bons milhares de pessoas numa altura em que o vosso país está praticamente no cocó. Na prática, já estamos em conversações com algumas pessoas e entidades para avaliar uma possibilidade de passarmos da página para um formato mais ambicioso. Vamos ver o que acontece.

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– Mas confesse lá… O seu ar fofinho e peludo engana muito boa gente, não?

– Sim, passam a gostar ainda mais de mim. Veem à minha página pelas fotos, mas depois levam o brinde mais requintado. Um brinde que começou por ser apenas um mero exercício de experimentação de coisas que eu achava que devia partilhar com toda a gente. Por esse prisma, acho que até engano pela positiva porque noto que os meus seguidores não deixam de seguir a página porque querem sempre ver o que vem a seguir.

– Pronto, eu não queria tocar em assuntos da sua vida privada, mas vai ter mesmo de ser. No fundo, é o que todos querem saber… A Raquel já lhe bateu?

– Ela um dia tentou bater-me porque de repente lembrou-se que gostava muito de um par de sapatos Loubotin que estavam a servir de vaso para plantar manjericão. Coisas da sopeira. À medida que a mão dela era projetada na direção do meu rabo, primeiro que ultrapassasse o pêlo foi um caso sério. Começou a chapada pelas 7 da tarde, chegou à pele e eram quase nove e meia. Respondendo, não, nunca chegou a bater.

– Agora desiludiu-me, confesso. Estava à espera de algo mais dramático. Jura que a Raquel não tem esqueletos no armário?

– Claro que tem, como qualquer pessoa. Dorme, acorda, trabalha, fica infeliz com a mesma facilidade que é feliz. Mas isso somos todos, nada nela a difere de qualquer outro ser humano e acho que isso se espelha lindamente na mesma página. Eu pensava que esta entrevista era sobre mim.

– Ok, falemos de coisas atuais. Recentemente, a sua história de vida foi destaque na conceituada revista Time. Qual a sensação de ser reconhecido internacionalmente?

– Nada de especial. Esta esfera global está mais local que nunca. Falei com a Samantha Goodman (jornalista da Time) com a mesma facilidade que falo com a malta do jornal O Crime, jornal com quem privo diariamente por razões que agora não vos interessam nada. Estamos todos à distância de um clique, faz-me é confusão que os humanos não sintam o mesmo quando estão desprovidos de tecnologia. Enfim, já ouvi dizer que a linguiça faz imenso sucesso nos EUA e nós aqui fartamo-nos de comer hambúrgueres. Equilíbrio é a palavra-chave e o desta humanidade parece estar pela hora da morte.

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– «O cão mais fofo do qual os americanos nunca ouviram falar» não é um título demasiado negativo?

– Acabei por ser falado, não acabei? Nós estamos sempre a descobrir-nos uns aos outros! Este intercâmbio internacional iria acontecer e mentiria se dissesse que não estava à espera, era apenas uma questão de tempo. Fui referência na Time, não é tempo de me armar em esquisito, senhores.

– Então e costuma ver a sua dona em programas como Sextas Mágicas ou Portugal em Festa, na SIC? Enquanto apresentadora, é competente?

– Nem sabia que ela andava agora a fazer televisão. Vi em tempos algumas sequelas que ela fez, mas não consigo deixar de olhar para ela e ver um chupa-chupa em forma de pessoa por causa do tamanho da cabeça dela. É uma associação parva, mas das únicas coisas que me faz dar uns risos mesmo com vontade.

– Como deve imaginar, o A Televisão é um site sobre televisão (e acredito que o Tufão venha cá «beber» diariamente, apesar de não admitir este guilty pleasure). Costuma acompanhar algum programa na caixinha mágica?

– Começo a achar que a televisão perde mais tempo comigo do que eu com ela. As minhas referências e interesses vão além da televisão: vivem à minha volta, na rua, numa esplanada, num banco de jardim. Num livro de Nietzsche, no canto das sereias dos Lusíadas. Só vejo televisão para poder colocar um post para caçar mais likes, porque sei que meio país está a ver televisão. É como os comediantes que não gostam de futebol, mas têm que dizer que são do Benfica porque pelo menos mais de metade da plateia pertence ao clube.

– Reparei que este ano marcou presença nas piscinas do Jamor para assistir ao programa da SIC, Splash! Celebridades. Gostou da prestação de Raquel Strada?

– Envergonhou-me em todos os minutos. Estavam à espera que eu saltasse para a piscina, mas eu tenho pouca paciência para televisão espetáculo. Disseram-me que era o Eládio Clímaco a narrar as origens dos participantes porque sabem que eu adoro ouvi-lo falar. Chego lá e está lá aquele senhor calvo e um calor insuportável. Nem pelos croquetes valeu a pena. Nunca confiem no catering dos programas da SIC e levem sempre uma bucha, porque lá se vão os eventos televisivos que se saía de lá com tupperwares cheios. Aquelas mesas é só para inglês ver.

– Para terminar, já decidiu o que quer para este Natal?

– Enquanto personagem não desejo coisíssima nenhuma. Como agente de felicidade e bem estar, acho que é de bom tom dizer que em Portugal existe muita gente talentosa e que merece muito mais destaque do que eu porque realmente lutam todos os dias pelos seus sonhos há bem mais tempo do que eu, contra tudo e todos (os impostos). Deixo a dica de que realmente em Portugal existe muita gente criativa a despontar que merece mais oportunidades e não as tem. Não será por falta de empenho, mas porque realmente os vossos «donos do dinheiro» têm medo de arriscar e preferem apostar sempre nas mesmas coisas, o que acaba por frustrar todas estas mentes criativas e destiná-las a trabalhos em call-centers ou serviços de copa ou de estiva à moda antiga (sem desprimor para esses trabalhos). Enfim, termino esta entrevista com este sabor azedo nas palavras, mas com esperança de quem semeia irá colher mais tarde ou mais cedo, aqui ou «lá fora». Que todas essas pessoas, na medida do possível, tenham um bom Natal num país que até é dos melhores que por aí anda a nível de muitas coisas.

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