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A Entrevista – Ruy de Carvalho

A Televisão
9 min leitura

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Ruy de Carvalho é ator e provavelmente nunca poderia ter sido outra coisa. Aquele rapaz tímido com os nervos à flor da pele transformou-se e o talento deu origem a espetáculos inesquecíveis. É o nosso homem forte do teatro, fez rádio, televisão, cinema, entre muitas outras coisas. 86 anos e 71 de carreira. Palavras para quê?

Profissionalmente, não gostou da forma como se despediram dele na TVI e já integra uma série na RTP1. Foram minutos de conversa que souberam a horas de sabedoria. «Não gosto daqueles que acham que sabem tudo e que olham para os mais velhos com desprezo. Nós estamos sempre a aprender», afirma Ruy de Carvalho.

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– O Ruy reforça o elenco da segunda temporada de Bem-Vindos a Beirais, que estreou em novembro na RTP1. Como é que está a correr este regresso ao canal um?

– Está a correr muito bem. A equipa da SP Televisão com quem trabalho é excelente, são todos grandes profissionais. Eu comecei na RTP, isso é muito importante. Não estava à espera que este regresso acontecesse, mas aconteceu e está ser muito agradável voltar a trabalhar para a casa onde abri oficialmente o teatro na televisão e onde começaram as telenovelas em Portugal. Em Vila Faia [1982] trabalhei com colegas que estimo muito, ou estimava, pois alguns já partiram.

РQuando ̩ que aconteceu a sua paix̣o pelo mundo da representa̤̣o?

РMuito cedo. A primeira vez que fiz teatro tinha sete ou oito anos, na Covilḥ. Como tinha dois irṃos atores, devo ter sido influenciado. Mas para ser mais preciso, foi com 15 anos que tomei a deciṣo.

– Em 2012 comemorou uma data muito especial… Que balanço faz dos seus 70 anos de carreira?

– Foram muito bons. Tive altos e baixos. Houve alturas que me apeteceu desistir, em especial antes do 25 de abril, mas tive uma companheira que esteve sempre a meu lado e nunca me abandonou e me fez ver que abandonar o barco era uma vitória para eles.

– Imagino que seja difícil eleger uma personagem que tenha «vestido a pele». Existe uma em especial que lhe tenha dado especial gosto pessoal?

– O Cego do Render dos Heróis foi o que mais me marcou, mas não posso deixar de parte o Rei Lear. É um papel maravilhoso. Mas há muitos, muitos mais. O Fausto da peça Palhaço de Mim Mesmo, do meu genro, e O Camareiro, com a brilhante interpretação do Virgílio Castelo.

– Quais são as principais diferenças que encontra entre a televisão com que se deparou no início da sua carreira e a televisão de hoje?

– Vou falar apenas da área que conheço bem, ou antes, que conheço um pouco melhor. Tecnicamente, o mundo da televisão deu um grande salto, quer para o teatro (que já não se faz), quer nas telenovelas. Há grandes mudanças na iluminação, na captação de som, na qualidade técnica  das câmaras e, acima de tudo, na formação de quem faz televisão. Mas quero deixar bem claro uma coisa: os realizadores e todos os técnicos da RTP com quem trabalhei, durante mais de 40 anos, eram tão bons como os de hoje, e o que eles sabiam passou para os mais novos…

РNa sua opinịo, o que ̩ que falta na televiṣo portuguesa?

– Falta muita coisa e há muita coisa a mais. Falta o teatro, a ópera, o bailado, a música. Mas quem sou eu para dizer o que devia ser feito? Quem manda não ouve quem sabe, por isso, o melhor é ficar por aqui.

РCom que olhos v̻ a nova gera̤̣o de atores? Tamb̩m aprende com eles?

– A nova geração de atores, os que aparecem na televisão e os que só representam no palco (que são muitos e os que sofrem mais, pois viver do teatro é muito difícil): tem gente maravilhosa. Admiro muitos e gosto de aprender com eles. Só não gosto daqueles que acham que sabem tudo e que olham para os mais velhos, ou para os que só fazem televisão, com desprezo. Nós estamos sempre a aprender. Ninguém nasce ensinado.

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– Todos nós envelhecemos…

– E é preciso lembrar-lhes que todos envelhecemos e que todos fomos novos e tivemos sonhos. A vida e a experiência, juntamente com a técnica e o jeito, fará deles atores, se for isso o  que realmente eles são. A minha geração aprendeu com os mais velhos. Gostava de estar cá para ver como vão envelhecer e viver no teatro, os tais que eu não gosto.

РO que sente quando v̻ o seu neto, Henrique, a representar?

– Sinto que pode vir a ser um grande ator. Gosto de o ver trabalhar. Digo-lhe sempre o que penso. Ele gosta muito de representar e está a resistir à tentação de abandonar a profissão que escolheu, porque não há trabalho.

РNa novela Todo o Tempo do Mundo, que estreou no ano de 1999 na TVI, o Ruy teve um papel de destaque. Gostava de voltar a ser protagonista de uma prodṳ̣o nacional?

– Já tive vários e não diria que não se me convidassem. Nunca rejeitei nenhum papel, por mais pequeno que fosse. Se alguma vez tive que recusar um trabalho é porque não podia fazer duas coisas ao mesmo tempo. Mas há mais papéis de destaque para atores mais novos. Eu sei o que isso é, também já fui mais novo.

– No passado mês de outubro, abandonou a TVI, deixando para trás 14 anos de exclusividade e dezenas de telenovelas. Custou-lhe muito esta saída?

– Acho que já disse tudo que tinha a dizer sobre o assunto. Prefiro não fazer mais qualquer comentário.

– Helena Forjaz, diretora de Comunicação Institucional da TVI, afirmou o seguinte: «Acredito que tenha existido um equívoco da parte dele. Não houve despedida porque o contrato de exclusividade tinha acabado há muito». O que pensa sobre estas declarações?

– Ela sabe muito bem o que aconteceu. Se houve equívoco, não foi da minha parte. Até porque não foi por falta de perguntar, a quem de direito, se havia alguma coisa ou se tinham alguma coisa a dizer-me. Pelos vistos não tinham e deixaram andar a situação. Eu não deixei. Tenho que trabalhar e quero trabalhar.

– E agora vem a habitual história dos medos… Qual o maior que tem?

– Creio que é ficar incapacitado e dar trabalho às pessoas. Gostava de partir serenamente.

– Então e não lhe incomoda sair à rua e ser o centro das atenções?

– Sou muito abordado na rua. Algumas pessoas agradecem-me pelo que fiz na minha vida, outras apenas me querem abraçar e dizer obrigada. Nunca ninguém me incomoda. Eu não me incomodo se as pessoas falarem comigo. Fui ensinado pelos meus pais a ser bem educado e, por outro lado, como acho que sou uma pessoa normalíssima, não me escondo.

РAos 86 anos, onde ̩ que vai buscar for̤as e energias?

– Ao amor da minha família. Aos meus filhos, genro, nora e aos meus três netos. Acima de tudo, à vontade de viver a vida que Deus me deu, com dignidade, até ao último minuto.

– Ruy, foi um prazer (até ao último minuto) estar à conversa consigo. O A Televisão deseja-lhe um excelente 2014!

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Agradecimentos: Paula Carvalho

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