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A Entrevista – Rita Salema

A Televisão
13 min leitura

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Afastada das novelas há ano e meio, Rita Salema vai agora regressar à TVI no novo projeto que junta José Eduardo Moniz e Manuel Arouca. A atriz está de volta à televisão, na sequela de Jardins Proibidos. Para se sentir confiante neste regresso, Rita Salema resolveu fazer um lifting. «Foi uma exigência para mim. Eu estava sistematicamente a ser chamada à atenção pelos câmaras: «Olha o pescoço…».

O A Televisão esteve com a atriz na NBA (Nicolau Breyner Academia), onde Rita Salema dá aulas de representação.

1 A Entrevista - Rita Salema

Depois de uma ausência de ano e meio, está de volta aos ecrãs…

Eu ainda não regressei. Só vou regressar agora no princípio de julho. Mas tenho estado permanentemente a dar aulas, estou há um ano e meio a dar aulas. Tenho tido alguns projetos de televisão (não novela), mas acabei por nunca estar parada. Pronto, e agora vou entrar em força, a gravar todos os dias… E estou muito feliz, porque é a minha vida. É aquilo que eu gosto.

E vai então participar na novela Sociedade, uma continuação de Jardins Proibidos.

Dizem que sim, dizem que não… Mas para todos os efeitos, é uma novela do Manuel Arouca, com três ou quatro personagens fortíssimas dos Jardins Proibidos – entre elas a minha também (a Ju), que me deu um gozo enorme fazer. E vou trabalhar novamente com os meus colegas, alguns com quem já não trabalhava há imenso tempo (a Vera, a Maya, a Lurdes Norberto). É um elenco de luxo.

Como vê o regresso dessas personagens?

É uma novidade, é um desafio. Nunca aconteceu fazer uma novela e ao fim destes anos todos dar um seguimento, ou agarrar nas personagens da história. Isso acontece muito em teatro. Nós às vezes podemos repor uma peça ao fim de dez, vinte anos. Em novela isto nunca aconteceu, mas eu acho que o regresso do José Eduardo Moniz tem muito a ver com estas novidades, com estes grandes desafios. É um grande senhor da televisão, é um homem da televisão.

O regresso de José Eduardo Moniz é muito importante para a TVI?

Acho que é… fundamental. O José Eduardo Moniz é um senhor televisão, e é de facto o pai das novelas da ficção nacional. E do entretenimento também.

E como vê a ficção nacional neste momento, em 2014?

Eu quero vê-la com grandes sucessos. Eu acho que cada vez mais nós aprendemos muito a fazer, mas também aprendemos muito com os brasileiros (e falo por mim). Eu sou fã dos atores brasileiros, das novelas brasileiras. Acho que aprendemos muitíssimo. E ainda hoje vejo grandes projetos da Globo, e acompanho os meus colegas do outro lado, que de facto me ensinam a todos os níveis – não só na representação, como nos décors, como nas próprias histórias. E sinto também que o público português gosta cada vez mais da produção nacional, o que é bom, porque são os seus atores, os seus lugares. Nós cada vez mais exploramos todos os bocadinhos de Portugal, e é bom dar a conhecer. E portanto, temos tido grandes audiências.

A Rita já fez várias novelas. Qual a mais marcante?

É muito difícil. Eu vou dizer aquilo que normalmente toda a gente diz: cada projeto é uma novidade e é uma nova paixão. Quando começamos um novo projeto, estamos cheios de entusiasmo. Estamos todos os dias a saber como é que a personagem vai crescer. Portanto, uma novela não é uma peça de teatro, nós nunca sabemos o fim (só sabemos o princípio). É sempre uma paixão constante, até acabar. Depois é uma tristeza, porque nos vamos separar dos nossos colegas e daquela história. Mas depois volta outra vez uma nova paixão, um novo desafio, conhecer uma nova personagem, mover o percurso todo dela… É sempre apaixonante.

Ao longo deste percurso, alguma vez pensou desistir da carreira de atriz?

Nunca, nunca pensei desistir. Pensei muitas vezes que havia uma necessidade de me completar com outro tipo de coisas: dar explicações, por exemplo. Portanto, há dez anos que eu dou aulas. Tenho tido sempre uma profissão paralela, mas deixar a representação… nunca na vida.

Fale-me sobre esse projeto enquanto professora. Estamos aqui a gravar na NBA… Qual a sua função neste espaço de magia?

A minha função aqui, como a de qualquer outro professor, é ensinar, passar um testemunho daquilo que eu também aprendi. Eu acho, como atriz, que a base da representação não é a televisão. É de facto o teatro. E depois de termos todos estes mecanismos que aprendemos na representação do teatro (na formação do teatro), temos o material suficiente para conseguir seguir em frente e agarrar numa cena de televisão (que são coisas que nos dão na hora) e conseguir moldá-la, pôr todas as emoções (drama, comédia…). O teatro, e a experiência das aulas de teatro, ajudam-nos de facto a ter material suficiente para ir por aí fora.

Qual é a sua relação com as novas caras da ficção, esta nova gente, esta massa que tem surgido ao longo dos últimos anos?

A minha relação quando trabalho com eles é sempre a melhor, para já porque eu adoro quando nasce mais um ator (não é por acaso que eu dou aulas de teatro). Eu gosto de gostar, e digo isto há muitos anos, e ao «gostar de gostar» é sempre bom quando de repente aparece uma nova geração de grande talento. Neste momento eu estou a dar aulas a várias turmas e é maravilhoso ver a espontaneidade e a generosidade tanto das crianças como dos adolescentes (e de muitos adultos) que nem querem fazer disto vida, mas que são generosos na representação. É muito bom. E obviamente quando se vê um miúdo que está ali cheio de força e de garra… é ótimo, é maravilhoso.

Que mensagem pretende transmitir a todos aqueles que estão a começar?

Neste meio onde eu estou, aquilo que eu tento passar é profissionalismo, acima de tudo. É muito difícil trabalhar com pessoas que não são profissionais. Eu sou muito exigente comigo. Faz-me muita confusão as pessoas que chegam fora de horas, que chegam atrasadas, que não sabem os textos, que levam isto de uma forma quase leviana muitas vezes. Isto não é uma brincadeira, é um privilégio podermos fazer aquilo que gostamos. Há que levar a sério e respeitar ao máximo, porque nós não trabalhos com máquinas. Trabalhamos com pessoas, com os nossos colegas. E nesta profissão tem que haver uma cumplicidade muito grande entre os colegas, entre a equipa toda (técnicos, encenadores, tudo). Isto não funciona sozinho. São as senhoras da limpeza que começam no início do dia a limpar os décors (sem ela não conseguiríamos), são os técnicos, são os produtores… E depois é o público. Para que o produto seja bom, temos que estar todos de mão dada.

Quem é a Rita Salema?

A Rita Salema… é uma gaja fixe [risos]. A Rita é aquilo que tu estás a ver. Sou mãe, acima de tudo. A minha grande paixão é muito o ensino e as crianças. Adoro ver os miúdos aprenderem, crescerem. Gosto imenso, dá-me um gozo enorme. Por exemplo, quando te digo que nunca desistiria de representar, mas também não quero nunca desistir de dar aulas. Dá-me um gozo enorme, aprendo imenso. Não há aula nenhuma, e ainda hoje acabei uma, que não haja alguém ou algum aluno que me ensine qualquer coisa, ou até um novo método, ou até uma nova forma de chegar às coisas.

As pessoas exigem que a Rita seja sempre assim, com essa energia e boa disposição?

As pessoas normalmente… eu acho que é a imagem que eu passo, porque também sou assim. Sou uma pessoa bem-disposta. Mas obviamente não passo cá para fora os meus maus momentos, porque todos nós os temos, não é?

E quando não está bem-disposta?

Quando não estou, fecho-me em casa [risos]. Nem sequer as pessoas mais próximas eu gosto de partilhar isso. Acho que não ajudo ninguém com isso e, portanto, gosto de os resolver sozinha.

Recentemente submeteu-se a uma pequena cirurgia plástica. Foi uma exigência do trabalho?

Não, não. Foi uma exigência para mim. Eu até acho que há uns anos atrás disse que nunca na vida faria uma coisa destas, mas a vida trouxe-me alguns problemas (muito complicados), que acabaram por me sujeitar a um envelhecimento precoce. Foi no pescoço, e eu estava sistematicamente a ser chamada à atenção pelos câmaras (de uma forma amiga, muito queridos mesmo), mas que entre os espacinhos de tempo diziam-me: «Olha o pescoço». E eu dei por mim, nestes dois últimos anos, a representar, já quase inconsciente lá punha a mão no pescoço. E pronto, se eu não tivesse tido este ano e meio acho que isso nem me tinha passado pela cabeça.

A nível da representação, não sente que o homem fica mais «galã» e a mulher fica mais «velha»?

Eu acho que isso é muito por uma questão de gosto. Eu por exemplo gosto dos homens carecas, de cabelos brancos, com rugas… Gosto imenso. Odeio aqueles musculados (desde miúda, nunca achei graça). E eu acho que uma mulher com rugas é bonita. E eu quero ter rugas, eu tenho rugas. Aliás, neste momento ainda estou em processo de recuperação. Eu só fiz isto há um mês, tenho seis meses de recuperação. Portanto, ainda vou desinchar um bocadinho, vão voltar as rugas todas que eu tinha. E quero envelhecer daqui para a frente, quero acompanhar a minha idade.

Projetos para o futuro?

Acho que ainda não plantei uma árvore [risos]. Eu acho que projetos para o futuro é aquilo que tenho tido… Quero que não me falte trabalho, nem a mim nem a nenhum português. Quero continuar a fazer novela, quero continuar a fazer teatro. E quero continuar a dar aulas.

É uma mulher feliz?

Muito feliz.

Realizada?

Muito realizada. Claro que a nossa felicidade não é eterna, temos momentos menos bons, mas sou uma mulher realizada, privilegiada e abençoada. Tenho uma família maravilhosa, amigos de infância que são a minha família também, e a profissão que eu gosto.

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