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A Entrevista – Rita Elói Neto

David Soldado
14 min leitura

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25 de janeiro de 2014. Dava-se início às gravações de Masterchef Portugal. Dois meses depois, chegaria o programa apresentado por Manuel Luís Goucha à televisão portuguesa, agora na TVI. Dos 500 participantes, selecionou-se 51. Seguiu-se a escolha dos 15 aspirantes a masterchef.  Semana após semana, Rita Elói Neto manteve-se na maior competição de culinária do país até que ao fim de treze semanas, consagra-se a grande vencedora. Apaixonada pela cozinha desde pequena, a setubalense de 30 anos  esteve à conversa com o site A Televisão e falou sobre aquela que foi certamente uma das aventuras mais marcantes da sua vida. «Neste programa, a exigência era extremamente elevada e isso fez com que o programa tornasse tão interessante e melhor», confessou Rita. 

Antes de falar da sua participação no MasterChef Portugal, conte-nos como é que surgiu a sua paixão pela cozinha?

A paixão pela cozinha já vem de muito cedo porque eu passava horas com a minha avó. Eu estava junto dela quando fazia os doces para o natal e até mesmo a própria comida do dia-a-dia e ela foi-me ensinando todos os encantos que a cozinha tem. Já vem mesmo de muito pequeninha. Entretanto, todos da minha família gostam muito de cozinhar, desde o pai ao avô, quer os homens, quer as mulheres. E então o processo foi evoluído e percebi que tinha mesmo gosto pela cozinha. Contribuiu também o facto de as pessoas  darem o feedback das coisas que eu fazia.

1 A Entrevista - Rita Elói Neto

Agora que o programa chegou ao fim, embora as gravações tenham terminado muito mais cedo, que balanço faz de toda esta experiência?

Foi uma experiência muito positiva. Consegui tirar o maior proveito que pude do programa. Aprendi muito, conheci pessoas muito interessantes, apesar de sermos diferentes uns dos outros.

O que sentiu quando lhe foi entregue a colher de pau no Terreiro do Paço e, com isso, a garantia que tinha passado à fase seguinte?

Fiquei muito surpreendida e feliz porque éramos muitas pessoas, éramos 500. E apesar de acreditamos que vamos conseguir, há sempre aquele receio. Para mim foi logo uma vitória, independentemente se ia ficar ou não nos 15 primeiros.

Durante três meses, esteve longe da família e amigos. O mais difícil em estar no programa foram as saudades?

Para mim, o mais difícil neste programa foram as saudades e também o facto de ter estado muito fechada para o mundo e não ter novidades: por exemplo como é que estava a correr as coisas em Portugal e no geral. A maior tarefa era superar as saudades da família porque nós somos muito ligados uns aos outros, damo-nos muito bem e foi, sem dúvida, a tarefa mais difícil de lidar. Toda a minha família aceitou a minha participação e apesar de ter ficado reticente ao início porque percebi que ia ficar longe de tudo, eles foram os primeiros a dizer que eu tinha que seguir o meu sonho e, se me tinham escolhido entre tantas pessoas que tentaram a sua sorte, acharam todos que devia aproveitar ao máximo esta experiência.

2 A Entrevista - Rita Elói Neto

Qual foi o melhor momento passado nas gravações?

São todos momentos especiais, mas o que ficou mais na memória foi, sem dúvida, quando fomos fazer a prova exterior a Setúbal porque não estava nada  à espera. É aquela sensação de estar tão perto e tão longe dos que me são queridos, mas fiquei muito feliz de terem seleccionado a cidade para fazer a prova de exteriores.

O Masterchef Portugal foi um programa vencedor, tanto a nível da crítica como nas audiências. A seu ver, o que ditou este sucesso?

Para começar foi o simples facto de ser na TVI. Ninguém estava à espera que a TVI lançasse um programa de culinária de tanta qualidade e isso superou e muito as expectativas das pessoas. Há muitas pessoas que não tinham o hábito de ver a TVI e começaram a ver por causa do programa. O programa está muito bem construído. Passa realmente o que importa a nível da cozinha, tem ambientes fantásticos, especialmente as provas de exteriores que foram muito bem seleccionadas e conseguidas. Agora que estou cá fora e já vi os episódios quase todos, posso dizer que independentemente ter participado ou não no programa, eu iria assistir como telespectadora a este.

3 A Entrevista - Rita Elói Neto

O chef Miguel Rocha Vieira transpareceu uma imagem de durão. O chef Rui Paula e Manuel Luís Goucha primaram-se também pela exigência. Que opinião é que formou acerca dos três jurados?

Eu gostei de todos, de maneiras diferentes. São três pessoas com feitios muito distintos. Acho que, para mim, todos tiveram alguma importância. O facto de ser muito emotiva e ter ido um bocadinho abaixo quando saía alguém que me era mais próximo, soube sempre bem receber um abraço de apoio por parte do Manuel Luís. Quanto ao chef Rui Paula, acho é muito característico, é muito típico português que também é uma coisa que eu gosto. Consegui encaixar-me muito bem, olhar para ele e ver a mim própria. Deu para ter essa percepção. O chef Miguel Rocha Vieira, é um pouco mais crítico mas todas as críticas, pelo menos para mim, foram sempre construtivas e aceitei sempre da melhor maneira porque até acho que foi ele que me deu uma força maior no início, quando fui mais criticada pelo empratamento. Pelo facto de ser arquitecta, exigiram um bocadinho mais de mim e acho que as críticas dele foram extremamente concretas e coerentes. Ajudaram-me a dar a volta por cima dessas minhas falhas. São os três muito diferentes, mas cada um com a sua maneira de estar. Eu gostei muito dos três.

E dos seus colegas de trabalho? Certamente criou ligações afectivas com alguns concorrentes. 

Por incrível que pareça, eu mantenho contacto com quase todos. Nunca fui uma pessoa conflituosa cá fora, quanto mais lá dentro. Tenho algumas ligações com pessoas mais próximas como é óbvio, é uma questão de feitios. Mantenho um maior contacto com a Sónia, falo todos os dias com ela, de manhã à noite literalmente. O Daniel, a Ana Rita, a Margarida e o Paulo são também pessoas que estão mais próximas de mim. Mantenho ainda contacto com a Teresa, a Rosa e o Luís Portugal, embora não com tanta frequência porque os primeiros que te disse também estou com alguns projectos em comum. Acho que isso faz com que também a proximidade seja maior.

Considera que a exigência é um dos factores que levam ao sucesso na cozinha?

Sem dúvida que sim. Acho que não devemos esquecer, tudo bem que estamos a criar, mas se não formos exigentes, vamos ficar sempre no mesmo patamar como outra qualquer profissão. Neste programa, a exigência era extremamente elevada e isso fez com que o programa tornasse tão interessante e melhor.

4 A Entrevista - Rita Elói Neto

Há alguma coisa que se arrepende de não ter feito enquanto aspirante a masterchef?

Aos 30 anos, posso dizer que nunca me arrependi de nada do que tenha feito. Mesmo em situações em que não me correu tão bem, acho que o que não nos mata, torna-nos mais fortes e temos que aprender com os nossos erros. Não tenho nenhum arrependimento.

Qual a sensação de ser consagrada vencedora do MasterChef? Como geriu as emoções?

Foi um misto de felicidade e tristeza porque como já disse eu sou muito amiga da Sónia. Ao mesmo tempo, fiquei muito feliz porque tinha ganho mas depois pensei “oh meu deus, não podemos ficar as duas com o primeiro lugar?” (risos), mas não podia ser e ela também ficou satisfeita. Isso também me deixou mais calma. Fiquei super contente porque é ali que percebemos: “bolas, tantas pessoas que concorreram e eu consegui alcançar o prémio final”. Devo ficar orgulhosa de mim própria porque foi tudo às minhas custas, do meu trabalho. Eu sempre pensei que seria a Sónia a vencedora, não porque não acredito em mim, mas por ela ser mais velha, por ter mais experiência e quando ouvi o meu nome senti orgulho de mim própria. Para ser sincera, eu ainda não me estou a sentir verdadeiramente vencedora, porque esta história de manter o sigilo, faz com que não possamos festejar assim tão fugazmente. Não pensava que isto ia dar uma volta tão grande à minha vida porque eu sou arquitecta de profissão, não estava a trabalhar na área, a cozinha era um hobbie e a arquitectura uma profissão. Agora, sinceramente estou a pensar mudar porque foi uma experiência muito positiva.

Como reagiu à notícia que saiu antes de tempo na imprensa (vencedora do MasterChef foi revelada)? Não acha que os telespectadores perderam o interesse no programa?

Eu acredito que se tenha perdido algum interesse. Eu pessoalmente se tivesse de fora, também não ia gostar de saber quem é que tinha ganho antes de tempo, mas o facto de ter sido antes do episódio em Marrocos, foi melhor. O programa de Marrocos foi, sem dúvida, mais giro deles todos e acho que conseguiu manter as pessoas agarradas ao programa e isso facilitou também esse processo, Fiquei um bocadinho triste porque ao fim ao cabo, tenho pessoas da minha família que não sabiam que eu ganhei e de repente elas já sabem. Fiz questão de manter sempre o maior sigilo e uma notícia deu cabo de tudo em poucos segundos. É um bocadinho triste mas, pronto, não está ao meu alcance.

Licenciou-se como arquitecta. Espera retomar a sua antiga profissão ou agora, com a visibilidade que ganhou com o programa, pretende focar-se apenas no mundo da culinária?

Sim, agora é focar-me apenas no mundo da cozinha. Claro que não vou dizer “arquitectura nunca mais” porque isso também seria uma tremenda arrogância da minha parte. (risos) Para já, é como disse, a arquitectura passa para hobbie e a cozinha para primeiro e eu vou fazer o máximo para ingressar nesta área.

O facto de ser mulher pode ser um entrave à concretização do seu sonho em ser chef de renome?

Não, acho que não, muito pelo contrário. Acho que as mulheres estão a conseguir dar a volta a esse “trauma” que a sociedade portuguesa tem. Até porque a arquitectura é um curso para homens e já foi uma luta constante. Há que lutar contra a corrente, mas vou conseguir. As pessoas têm que se aplicar naquilo que gostam e fazer o trabalho da maior maneira possível. Se eu for boa profissional, não é o facto de ser do sexo feminino que isso vai atrapalhar.

Que expectativas tem para o futuro? O que acha que este programa lhe possa trazer?

Este programa pode trazer muitas coisas boas, principalmente ter a hipótese de tirar um curso numa escola conceituada a nível de cozinha e deve abrir também algumas portas. A nível de visibilidade, ainda não recebi nenhuma crítica negativa do público em geral que me vê e isso é positivo. É uma questão de manter isso e melhorar sempre porque ao fim ao cabo eu sou a Rita do Masterchef, mas faço tenção que isso se altere e passe a ser conhecida como a chef Rita.

Redactor.