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A Entrevista – Pedro Carvalho

A Televisão
22 min leitura

Destaque Pedrocarvalho A Entrevista - Pedro Carvalho

Pedro Carvalho já conta com oito novelas na TVI, todas elas com personagens muito fortes. Estreou-se na série juvenil Morangos com Açúcar e atualmente faz parte do elenco da nova trama do canal quatro, O Beijo do Escorpião. O seu papel, Paulo Furtado, aborda a homossexualidade de forma «digna e direta» e promete mudar mentalidades. «As pessoas vão perceber que uma relação homossexual é igual a uma relação heterossexual. Muda apenas o género da pessoa com quem o outro se relaciona, mas isso não é impeditivo de duas pessoas serem felizes», frisou o ator ao A Televisão.

Divider A Entrevista - Pedro Carvalho

РUm dos ̼ltimos trabalhos que fez em televiṣo foi a novela Rem̩dio Santo, transmitida entre 2011 e 2012 na TVI. Foi o projeto mais marcante da sua carreira?

– Eu já conto com oito novelas na TVI, todas elas com personagens muito fortes e muito marcantes… [pausa] Mas sim, posso dizer que sim. Ainda há poucos dias fiz um comentário no Facebook sobre o Ângelo de Remédio Santo, que foi o personagem que me deu dois troféus de televisão em dois anos seguidos. Portanto, significa que o público se identificou muito com a novela. Foi um personagem que me deu muito gozo interpretar e que me permitiu explorar um outro lado da minha capacidade interpretativa. Posso dizer que sim, foi o personagem mais marcante que fiz até hoje.

РTamb̩m deu nas vistas na extinta s̩rie juvenil da TVI, Morangos com A̤̼car. Sente nostalgia desses tempos?

– Sinto saudades, sim. Eu não muito saudosista, mas definitivamente foram tempos muito bons. Os Morangos são uma escola de atores fabulosa. Para mim foi um começar (um iniciar), digamos, com mais visibilidade em termos de televisão. Eu já tinha feito algumas coisas, mas assim com mais visibilidade e mais impacto foram os Morangos com Açúcar (e ainda por cima a fazer logo um protagonista/antagonista). Foi muito bom, o personagem era fabuloso. Tenho muito orgulho em dizer que fiz parte do projeto e da família Morangos com Açúcar, e recordo com muitas saudades, porque fiz amigos para a vida – não só na equipa técnica, como atores, parte da direção, realização, etc. Recordo com muito carinho e nós agora tivemos um cheirinho, voltámos ao passado com o filme dos Morangos. Enfim, deixa alguma nostalgia, sim.

– Ainda tem muitos sonhos por concretizar?

– Eu sou um sonhador. Já concretizei alguns sonhos, mas ainda tenho muitos para concretizar. Alguns que são meus, que fazem parte da minha esfera pessoal íntima e que não faço questão de abdicar por muito conhecido que seja e, portanto, guardo-os para mim. Outros que tem a ver com a questão profissional, que pretendo continuar a fazer o que mais amo (representação, televisão, teatro, cinema, dobragens…). E pronto, continuar a ter estes bons desafios, ser feliz e ter saúde. Para mim isso são os meus objetivos de vida, isso é que me dá capacidade de trabalho.

– Como é que os seus familiares e amigos têm acompanhado o seu percurso na área da representação? Que feedback costuma receber?

– Tenho amigos desta área e obviamente que comentamos uns com os outros o nosso trabalho. Eu sou muito autocrítico e gosto sempre de receber a crítica das outras pessoas, para poder melhorar e evoluir como ator. Mas sim, os meus familiares e amigos estão muito orgulhosos. Quer dizer, eu tenho 28 anos e ainda tenho uma carreira curta, mas essa carreira curta é sólida. Portanto, estou orgulhoso disso e a minha família e os meus amigos mais próximos também, porque é uma carreira que é feita com base em muita dedicação, esforço, muita paixão, profissionalismo. E sempre investi na minha formação. Nunca descoro a formação e pretendo aprender sempre mais para poder sempre dar melhor, mais e mais aos personagens que estou a interpretar. Acho que o público merece isso lá em casa.

– Recentemente, o seu pai viveu uma situação complicada ao lutar contra o cancro… Como é que o Pedro lidou com esta situação de forma a não prejudicar o lado profissional?

– A situação do meu pai já está resolvida. Felizmente ele teve um final (ou um recomeço) feliz. O cancro foi uma luta, mas que superou com muito apoio – da minha mãe, meu, da minha irmã… Foi uma caminhada difícil mas teve um final feliz (que não é a realidade de todos os cancros, infelizmente). Felizmente para mim, que sou muito ligado aos meus pais e à minha família, o meu pai teve um final feliz. Durante o processo tentei sempre… [Pausa] Não vou dizer que não me afetou, claro que afetou e as pessoas que me estão mais próximas sabem disso. Mas com as pessoas certas, e com o apoio delas e dos meus familiares também, acho que todos juntos conseguimos atenuar esta dor. E obviamente que nunca misturo o campo pessoal com o campo profissional, porque as pessoas lá em casa não têm que levar com os meus problemas. Não têm que levar com os problemas do ator Pedro Carvalho e têm sim que ver e acreditar no personagem que eu estou a fazer. Eu trabalho para o público, eles é que são o meu alimento.

– Vida de ator não é propriamente fácil (assim como qualquer outra profissão) e nem sempre há trabalho. Nunca temeu cair no esquecimento?

– Não… Nem sequer penso nisso. Não temo isso, porque, como disse, estou a construir uma carreira sólida. Prefiro isso a ter uma carreira que explode do género vulcão e que depois desaparece. Eu estudei para isto, eu continuo a estudar para isto, eu invisto nesta profissão. Esta é a minha profissão, é isto que eu pretendo fazer para o resto da vida e não tenho que ter esse receio. Se tenho dado frutos nesse sentido e se as pessoas e o canal com quem trabalho continuam a acreditar em mim, não tenho porque temer essa situação.

2 A Entrevista - Pedro Carvalho

РPassemos agora a assuntos atuais. Como esṭo a decorrer as grava̵̤es de O Beijo do Escorpịo?

– Estão a correr muito bem. Começámos há cerca de dois meses, ainda estamos no início. Mas já gravei bastante! Neste momento estamos a todo o gás a compor os personagens com a ajuda da direção de atores e da equipa de realização. O público vai ficar surpreendido porque é algo diferente, é novo, é uma novela polémica. É uma novela que toca no calcanhar de Aquiles dos problemas do quotidiano dos portugueses. É uma novela portuguesa, é uma realidade portuguesa. E o meu personagem, em particular, vai mexer com as mentalidades das pessoas – sem chocar, mas no sentido de permitir e tornar mais permissivo esta realidade, por assim dizer. E a TVI, como sempre, aborda as questões de forma pioneira e de forma diferente, ou seja, é ir ao fundo da questão e não abordar o problema/temática de forma leve. Não, vai-se abordar a questão da forma como tem de ser abordada, até porque o nosso objetivo quando fazemos televisão também é passar uma mensagem, não é?

РQuem ̩ o Paulo Furtado?

– O Paulo Furtado é um indivíduo de 28 anos, co-piloto de uma empresa de jatos particulares. Tem como melhor amigo o Miguel Macieira, que é interpretado pelo Duarte Gomes (piloto). O Paulo é muito focado no trabalho, a sua propridade, e vai pôr qualquer assunto atrás da profissão que exerce – isto porque ele lutou muito para estar onde está. É irmão da Teresa [Joana Seixas], com quem vive. Logo, nós vamos ter muitas cenas em casa e vão-se passar cenas muito interessantes em casa, cenas de irmãos muito reais. E tal como foi noticiado na imprensa, o Paulo é homossexual e vive muito bem com essa situação. Mas um homossexual não se define só pela sua orientação sexual, isso é apenas uma característica. E é isto que a novela vai dar a entender ao público, ou seja, que não é uma doença, não é um estatuto social, não tem nada a ver com isso.

– É apenas uma característica da pessoa.

– É uma característica da pessoa, como há pessoas que fumam, outras que não fumam, outras que gostam de usar vermelho e outras verde. O Paulo vai viver ali momentos de bastante intensidade, outros muito dramáticos, porque vai estar constantemente posto entre a espada e a parede, visto que há muitas profissões que não aceitam esta orientação sexual. Em muitas profissões esta orientação sexual é vista como «debilidade mental». Em muitos cargos as pessoas que têm esta orientação sexual são obrigadas a admitir ou então a colocar um termo de debilidade mental a nível psicológico. E o Paulo vai lutar contra todas essas questões.

– Sei que não vão faltar cenas picantes e, como tal, foi necessário recorrer à atividade física.

– Sim, vai ter cenas mais quentes, daí eu ter que fazer atividade física com muita (muita) regularidade, porque o físico é também o instrumento de tabalho de um ator. E pronto, vocês vão ter que ver o resto porque este personagem vai ser assim algo que nunca se fez em televisão desta forma. E obviamente que estou expectante com isto, estou a enfrentar o desafio. Para mim, é mais um voto de confiança dado pela TVI, que tem sido a minha casa. E sei que as pessoas lá em casa vão conseguir entender a mensagem.

– Como disse, o Paulo é homossexual, mas tem essa questão muito bem resolvida consigo mesmo. Não tem receio de ouvir comentários homofóbicos na rua?

– Não, não. Este personagem, assim como o da Sara Matos, têm sido os mais falados porque são talvez os mais polémicos. São personagens que tocam nos segredos que qualquer pessoa que passa por nós na rua pode ter. Tenho visto comentários de todos os tipos: comentários mais positivos, comentários mais homofóbicos, comentários de muito ânimo de pessoas que dizem «finalmente vai-se falar e não vamos ver um casal homossexual na televisão a cumprimentar-se somente com um toque no ombro». Estamos no século XXI, estamos em 2014, a passar por uma crise económica muito grande e as pessoas estão sedentas de ver a verdade. E o que existe efetivamente é esta realidade e chega de mascarar esta realidade, porque, como eu disse, não é nenhuma doença.

– E as pessoas lá em casa vão perceber isso?

– As pessoas vão perceber que uma relação homossexual é igual a uma relação heterossexual. Muda apenas o género da pessoa com quem o outro se relaciona, mas isso não é impeditivo de duas pessoas serem felizes e constituírem uma família, de terem um trabalho, de pagarem impostos [risos], de terem as mesmas regalias sociais e tudo mais. Já foram legalizadas imensas leis nesse sentido, portanto, acho que as pessoas estão preparadas para ver isto. Tenho lido comentários de todos os tipos e obviamente que há reações mais homofóbicas de pessoas que ainda não estão tão preparadas, mas claramente vão perceber que isto não é nenhum bicho papão.

5 A Entrevista - Pedro Carvalho

– Foi noticiado na imprensa que o vilão Félix [Mateus Solano] de Amor à Vida serviu de inspiração para a sua personagem. Confirma?

– O Paulo não é um vilão. O que acontece é que muitas vezes vai ter atitudes que possam não parecer as mais corretas, mas com o propósito de o fazer crescer como pessoa. E isso ele vai-se apercebendo ao longo da trama. Acompanho a novela Amor à Vida, gosto bastante do trabalho do Mateus Solano e de uma série de outros atores que integram a novela. É engraçado porque o personagem dele também vai ter isso: começa com determinadas atitudes, mas ele próprio depois vai ser alvo desse crescimento e vai mudar. O Mateus Solano deu uma entrevista para a Notícias TV e dirigiu-me conselhos. Para mim foi muito honroso porque gosto muito do trabalho dele. Fiquei agradado com o que li na entrevista, porque significa que o personagem ainda nem estreou na novela e já está a mexer muito, já está a ser muito falado.

РDescreva-me o processo de composi̤̣o da sua personagem.

– Neste personagem posso dizer que não fiz tanto um trabalho de campo como faço com os outros todos, como fiz com o Ângelo do Remédio Santo, como fiz com o Alexandre do Mar de Paixão, etc. – porque eram personagens que tinham particularidades, do género doenças ou situações que pudessem levar ao limite. Neste personagem concentrei-me mais na parte de passar verdade, porque tenho a noção que isto é algo que nunca se fez e sei que tenho uma responsabilidade muito grande. Estou preocupado essencialmente em fazer um trabalho muito natural, uma interpretação muito naturalista, muito ao género do que se faz em novelas como Avenida Brasil ou Amor à Vida, em que os personagens falam uns por cima dos outros e os pensamentos podem ser altos. Também me está a ser dada essa liberdade para tentar criar um naturalismo muito grande no personagem e, efetivamente, é nesse sentido que estou mais debruçado.

РMas tamb̩m fez pesquisa na parte da avia̤̣o, certo?

– Obviamente que fiz pesquisa na parte da aviação. Tanto eu como o Duarte Gomes estivémos num aeródromo a ver como se pilotava um avião. E depois, a nível físico, tive que malhar muito [risos]. Eu já fazia muito desporto, mas tive que intensificar os meus treinos, porque isso é uma das características do personagem. Ele é uma pessoa muito saudável e é muito focado também no desporto. Tem muitas cenas despido, logo, quero que as pessoas lá em casa fiquem agradadas com aquilo que vêem, não é? A minha pesquisa não incidiu tanto em ir a um centro de desintoxicação ou a um centro psicológico, não. Estou a levar este personagem com muita calma, a fazer cada cena com muita verdade (como faço todas as outras), mas dando um especial cuidado, porque sei que é pioneiro. Pode ser algo muito diferente e marcante do que se faz em televisão e eu tenho essa responsabilidade. E nós, atores, como eu disse, temos não só essa responsabilidade de passar a verdade, mas também de passar uma mensagem, educar mentalidades.

– Antes das estreias, os atores costumam fazer afirmações do género «vai ser uma grande novela» ou «vai revolucionar a televisão». Porém, as expectativas nem sempre correspondem à realidade. A questão é: o enredo de O Beijo do Escorpião poderá ou não engonhar?

– É assim, não posso dizer isso, porque a novela ainda não estreou. Mas eu sou amigo pessoal do António Barreira, já fiz várias novelas dele e posso dizer o seguinte: esta novela está especialmente escrita de uma forma real, ou melhor, é uma realidade muito portuguesa. Acho que as pessoas se vão identificar, porque tem temáticas muito reais. Eu leio os episódios e revejo uma série de plots em famílias, de pessoas que conheço ou de amigos, ou de situações. Portanto, espero que a novela não engonhe (como tu dizes) e que as pessoas se identifiquem muito com as personagens e com a história. E acredito que é isso que vai acontecer, porque não é uma novela leve, mas também não é uma novela muito pesada. É uma novela que está no intermédio. A própria linguagem é muito natural e alguns atores têm flexibilidade para improvisar e dar um cunho pessoal aos personagens. Acho que tem tudo para não engonhar e as pessoas não se vão sentir desiludidas com o produto final.

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– A trama vai ser emitida diariamente, perto das 23h. Não acha que é um um horário tardio? Nem todos vão ter a possibilidade de acompanhar…

– Eu, como ator, não trabalho para horários. Se me perguntasses se eu gostava que a novela fosse para o ar mais cedo, eu não te minto: sim, gostava. Gostava que a novela passasse num horário que abrangesse um maior número de pessoas. Até porque não há porque não passar. Agora, se passar a um horário mais tarde, e se as pessoas se identificarem com o projeto, não tenho dúvida que vão acompanhar e que vão ver. Mas nem sequer penso nos horários, não compete a mim pensar nisso.

РPara terminar, pe̤o-lhe uma mensagem para os leitores do site A Televiṣo.

– Continuem a acompanhar o site A Televisão e acompanhem também a novela O Beijo do Escorpião. Para além de polémica, vai ser um novela muito real, com quem os portugueses se vão identificar muito. E talvez vai ser uma novela com que os portugueses até vão ganhar algum alento (e algum ânimo) para enfrentarem o seu quotidiano e perceberem, de uma forma ficcionada, como é que aquele personagem está a resolver determinada questão. Espero que se tornem fãs do Paulo Furtado e, já agora, se quiserem acompanhar mais coisas acerca do meu personagem da novela, façam like na minha página oficial.

РMuito obrigado, Pedro. Votos de sucesso para a novela. Um grande abra̤o!

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Mensagem de Pedro Carvalho:

http://www.youtube.com/watch?v=hfIGFsSIAns

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