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A Entrevista – Paulo Soares

A Televisão
18 min leitura

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Talvez seja impressionante dizer «um puto de 18 anos fez um filme e chegou a uma sala de cinema», mas a verdade é que o «puto» conseguiu mesmo. Aos 18 anos, Paulo Soares chega aos Cinemas NOS Alvaláxia com a longa-metragem Os Perfeitos 2. Para a antestreia, não quis nada menos que uma sala com quase 400 lugares, passadeira vermelha e fotógrafos. Quem disse que os sonhos não se tornam realidade? Exato, ninguém disse. «Eu filmo o que eu quiser e passo onde eu quiser. Surgem obstáculos? Ótimo! Estou aqui para os destruir», avisa Paulo. Uma entrevista destrutiva, para ler de seguida.

1 A Entrevista - Paulo Soares

Estás a estudar Cinema, Vídeo e Comunicação Multimédia, na Lusófona. Como nasceu o teu gosto pela sétima arte?

Nasceu, para ser sincero, a ver os Making Ofs dos filmes do Harry Potter, em pequeno. Eram filmes que eu adorava, e ver o Making Of despertava em mim vontade de estar atrás das câmaras, de saber fazer todos os truques e de saber como o produto final que nos é apresentado é feito. Sempre me agradou toda a parte que está oculta ao espetador. Aquilo que não se vê. Não só no cinema e na televisão, como também, por exemplo, no teatro. A ideia de bastidores, de produção, do esforço para apresentar algo. É isso que me move.

Antes deste curso, nunca tiveste estudos de cinema. Portanto, tudo o que sabes, aprendeste sozinho. É preciso muita motivação…

Além de motivação, temos mesmo de amar o que estamos a fazer. Se isso acontecer, então o resto quase se faz sozinho. Antes deste curso que iniciei há umas semanas, de facto, nunca tive estudos de cinema. Saí do 12º anos de Línguas e Humanidades, ou seja, nada a ver. Mas os meus professores são os primeiros a dizer: «O que nós damos aqui são as bases; se querem realmente brilhar, vão à descoberta e treinem em casa». Qualquer um com acesso à Internet pode estudar cinema. Há montes e montes de tutoriais e de pessoas a ensinar coisas. Não quero com isto dizer que estes tutoriais substituem o ensino oficial. Se assim fosse não estava a investir na minha educação oficial.

És autor, produtor, realizador e editor. Como é que uma só pessoa consegue assumir estas quatro funções?

Não consegue. Quando disse ao meu professor de produção que o tinha feito, ele perguntou o mesmo: «Como é que conseguiu?». Eu de facto consegui, mas fazer as coisas sozinho tem um preço. E o preço é ingrato: todas essas coisas não ficam tão bem feitas como poderiam ficar, porque há sempre pormenores que falham. Um filme é um trabalho de equipa, obrigatoriamente. Eu fiz todas essas coisas simplesmente porque não conhecia ninguém para as fazer comigo. Não vou dizer que não gosto de ter as coisas à minha maneira, porque gosto; aliás, toda a gente gosta (e assim é um projeto que é só meu), mas tenho plena consciência de que se tivesse alguém a ajudar-me nestas questões mais técnicas, teria ficado muito melhor.

Os aplausos vão quase sempre para os atores. A maioria das pessoas não tem noção do trabalho que é realizado por uma equipa técnica. Isso não é frustrante?

É e não é ao mesmo tempo. Se o objetivo dos realizadores, produtores, operadores de câmara, etc., fosse receber aplausos e aparecer nas revistas, então teriam escolhido a representação como carreira. Nós não nos sentimos realizados se nos aplaudirem. Sentimo-nos realizados se o filme tiver sucesso, e se as pessoas falarem dele, e o virem. Os atores sim, gostam de ser aplaudidos! No entanto, e falo por mim, eu sinto os aplausos que as pessoas podem dar aos atores, como se fossem para mim, e acho que qualquer equipa técnica deve sentir o mesmo. Ou seja, as pessoas, inconscientemente, estão também a aplaudir a equipa técnica, porque sem ela, o resultado final não seria assim.

Em 2013 produziste uma web-série de quatro episódios, Os Perfeitos. Que balanço fazes deste projeto?

Os Perfeitos foi o meu primeiro projeto «a sério». O primeiro em que tive patrocinadores, orçamento, calendário e horários de rodagem, edição à séria… enfim, a minha primeira experiência em vídeo, cinema e multimédia. Porém, e apesar desse valor que tem para mim, não consigo olhar para Os Perfeitos como mais que uma experiência, um teste. Em vésperas do lançamento de Os Perfeitos 2, sinto que Os Perfeitos foi um mero ensaio para o que se segue. Foi também uma forma de evoluir. Não gosto muito de olhar para trás. Hoje, Os Perfeitos 2 são o meu auge; daqui a uns meses, provavelmente, serão a minha lição para o futuro.

Como foi a passagem da curta para a longa?

Honestamente, até chegar à parte da pós-produção, não senti grande diferença, a não ser na quantidade de atores. Diria que essa é a grande diferença: muitos atores e muito mais tempo de montagem e edição. A passagem foi quase que natural. Eu sabia que era capaz de fazer mais e senti que era quase «obrigatório» dar esse salto, ainda que fosse mais complicado chegar ao fim do projeto.

O filme Os Perfeitos 2 é a continuação da web-série. O que conta a história?

A história levou um abalo. Esse foi um dos grandes defeitos de Os Perfeitos: falta de enredo. Por isso, desta vez, investi nisso a sério, desenvolvi os personagens existentes, criei novos personagens, cheios de carácter e personalidades fortes, e esculpi camadas e camadas de história. Para quem viu, sabe que o enredo da primeira temporada se resume à captura do Gustavo (jovem com poderes especiais) pela Divisão, e ao sucesso da sua fuga da mesma, juntamente com todos os outros miúdos capturados, e a filha do diretor da Divisão. A história deste filme retoma quatro meses após a fuga do Gustavo e dos amigos. Tem mais ação, mais efeitos especiais, mais momentos cómicos, mais tudo!

Em que é que te inspiraste para criar Os Perfeitos 2?

Eu acho que Os Perfeitos 2 são uma mistura de muitos filmes e muitas séries que eu vi, reunidas num só projeto. Posso dizer que a ideia base original para estes dois projetos foi o videoclip «Midnight City» dos M83. Depois disso, foi juntar coisas e reciclar à minha maneira. Heroes, Misfits, X-Men, Push, Jumper, entre tantas outras coisas! A lista alonga-se praticamente a tudo o que eu alguma vez vi e gostei.

Sentes que o resultado final do filme corresponde à visão inicial da tua história?

Não. Nem pouco mais ou menos. Mas isto tanto é positivo como negativo. Enquanto que há certas cenas que não ficaram tão bem como eu queria que ficassem, outras há, que me surpreenderam por completo, precisamente por não esperar nada de mais delas. Às vezes são as cenas mais simples e pacatas que acabam por vingar, ao invés das grandes cenas com grande aparato e grandes efeitos.

Mas é o resultado de muito suor, esforço e dedicação da tua parte.

Pode dizer-se que sim. É um trabalho de meses, desde as primeiras ideias para a história, o escrever do guião, casting, filmagens, e claro, a edição. No entanto, não considero isto um trabalho, ou um peso que carrego aos ombros. Amo o que estou a fazer, e por isso não me custa nada. Quer dizer… se chego à cama ao final de um dia de rodagens e caio redondo morto de cansaço, caio. Essa parte custa. Mas é um cansaço que me sabe bem. Porque sei que dele vai resultar algo de que me vou orgulhar.

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Paulo Soares nas gravações de «Os Perfeitos 2»

Como é que correram as gravações?

As gravações correram na perfeição, e tudo graças ao empenho de todos os que participaram no projeto. Os atores chegaram todos os dias ao set às 9h e ficavam até às 18h (por vezes até mais tarde), e tinham uma hora de almoço (às vezes). Isto, durante duas semanas consecutivas, incluindo sábados e domingos! Algumas atrizes faziam a maquilhagem aos restantes, e tinha duas pessoas para me assistirem na rodagem (por exemplo, ficarem na máquina de fumo, etc.).

Não deve ser fácil dirigir os atores e manter a ordem…

Sim, foi difícil dirigi-los e manter a ordem. Como já disse, sou apenas um a fazer tudo, e eles são quase 20. Manter 20 adolescentes calados para que eu possa explicar o que quero da cena, e depois gravá-la cinco ou seis vezes é uma missão quase impossível. Foi possível apenas porque todos os que me rodeavam eram realmente meus amigos. Eles permitiram-me gritar com eles e ter os meus momentos, porque sabiam que no fim das gravações já estava tudo bem outra vez, e que eu refilo apenas para manter a ordem. As pessoas estão a trabalhar à borla, a pagar alimentação e transporte, e ainda têm de levar com os gritos de um miúdo com uma câmara na mão? Nem todos estariam para isso. Só mesmo os meus amigos para me aturarem durante duas semanas!

Houve alguma peripécia ou episódio hilariante, em particular, que nos possas contar?

As filmagens na Baixa foram muito engraçadas! Foi um dia em cheio, em que andámos por Lisboa, no Chiado, e as pessoas vinham meter-se connosco, e queria envolver-se e saber o que estávamos a fazer. Por exemplo, estávamos em plenas gravações, literalmente a meio de um take, quando apareceu um chinês, a falar inglês, claro, a querer saber o que se estava a passar e o porquê de estar tudo aos gritos e aflito. Mais tarde, quando viu a câmara, percebeu…

Portanto, o chinês pensou que estava em plena terceira guerra mundial.

Sinceramente, não faço ideia do que passou pela cabeça do chinês. Ele acabou por perceber e até quis tirar uma fotografia com o elenco todo, e pediu o link do canal do YouTube para puder ver do que se tratava. Infelizmente, assim que dei conta que o take tinha sido interrompido, parei a gravação, e por isso não está nos bloopers. Contudo, também os bloopers este ano estão qualquer coisa! São cinco minutos e meio dos melhores momentos vividos nas duas semanas de gravações, que vão fazer qualquer um rir!

A antestreia do filme é já no próximo dia 8 de novembro. Como é que estão a correr os preparativos para o grande dia?

Este ano vamos fazer a antestreia nos Cinemas NOS Alvaláxia. Isto é também uma prova da evolução: estamos a falar de uma sala de cinema. É outra escala. Os preparativos estão a correr bem. A ideia de antestreia é um pouco influenciada pelo meu lado Hollywood. Isto é, sou da opinião de que estando no mundo do espetáculo, é isso que tenho de fazer: dar um show a quem vem assistir. Por isso, para Os Perfeitos 2, não quis nada menos que uma sala de cinema com quase 400 lugares, passadeira vermelha e fotógrafos!

Sentes-te um caso raro da tua geração?

Não. Não gosto de pensar dessa forma. Pode parecer falsa modéstia, mas é o que sinto: estou apenas a fazer algo que gosto, e que me parece tão simples. Talvez seja impressionante dizer «um puto de 18 anos fez um filme e chegou a uma sala de cinema». Dito assim até eu me sinto tentado a arregalar os olhos, e consigo perceber o porquê de muitos o fazerem. E talvez seja mesmo verdade. Talvez nunca antes um miúdo de 18 anos tenha mesmo feito isto, pelo menos em Portugal, mas não creio que isso seja motivo para me sentir «um caso raro da minha geração». Posso sim, considerar-me um sortudo da minha geração, por ter a possibilidade de, tão cedo, puder ver um projeto feito inteiramente por mim, exibido no mesmo sítio onde são exibidos blockbusters internacionais.

De que forma é que vês os obstáculos na tua vida?

Aqui vai uma resposta nada cliché: eu vejo os meus obstáculos como desafios. Uma forma que a vida tem de nos desafiar e dizer «vamos ver do que és capaz». É por isso que consegui chegar até aqui hoje, e que espero chegar mais longe no futuro. Quem disse que eu não posso filmar umas coisas e passá-las onde eu quiser? Exato: ninguém disse. Eu filmo o que eu quiser e passo onde eu quiser. Surgem obstáculos? Ótimo, estou aqui para os destruir.

O mundo onde tu queres entrar é bastante «agressivo». Não basta ser bom, é preciso ser ainda melhor. Estás preparado para isso?

Não sei se estou preparado. Acho que só o vou saber quando entrar de facto no dito mundo. No entanto, tenho consciência disso: é agressivo e difícil. Só há lugar para a excelência e para os melhores dos melhores. E é isso que eu quero. Não quero ser o melhor. Há sempre alguém melhor que nós. Mas quero, sem dúvida, estar entre os melhores e ser excelente naquilo que faço.

Já percebi que és muito perfecionista. Quando não atinges o resultado pretendido, qual é a sensação?

Frustração, claro. Acho que é isso que todos sentimos quando não «chegamos lá». E, como já disse, ao ser apenas um a fazer tudo, este sentimento repete-se várias vezes, porque quando estou a ver o resultado final, há uma pequena (grande) voz na minha cabeça a dizer «isto podia estar tão melhor…».

Recebes muitas críticas de pessoas da área do cinema?

Sim, e são todas bem-vindas porque só me ajudam a melhorar. Aliás, estou mais que ansioso para que os meus professores vejam o meu filme e me apontem tudo aquilo que fiz mal. Provavelmente, antes de eles próprios apontarem, eu já saberei o que eles vão dizer, porque eu sou o primeiro a pôr defeitos no que faço, e a autocriticar-me. Contudo, neste «mundo agressivo» há muitas pessoas que se esquecem do que significa «crítica construtiva». Mas nada a fazer acerca disso, não é verdade?

Projetos para novas produções, já existem?

Tenho algumas ideias na gaveta, não vou mentir. Mas por agora, elas vão manter-se lá. Nos três anos que se seguem, quero concentrar-me nos estudos, porque, afinal, estou a aprender a melhor forma de realizar essas mesmas ideias. Assim, quando a gaveta se abrir, abre-se em grande!

5 A Entrevista - Paulo Soares

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