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A Entrevista – Manuel Melo

A Televisão
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Como qualquer profissional do meio artístico, Manuel Melo também passou pela chamada «travessia do deserto». Viveu um período negro e acabou por se refugiar no consumo de drogas e álcool. «Não teve nada a ver com a fama. Foi uma causa pessoal», explicou ao A Televisão. Ultrapassado este contratempo, depois de ter estado internado numa clínica, voltou aos serões de domingo no enorme sucesso A Tua Cara Não Me É Estranha. Hoje em dia, Manuel está encarregue das reportagens do programa Somos Portugal da TVI, mas a ambição vai mais além. «Gostava de ser apresentador. Não tenho problemas em assumir isso».

2 A Entrevista - Manuel Melo

Ficaste conhecido pela tua participação no concurso da TVI Academia de Estrelas, em 2002. Fala-me sobre esta experiência.

A Academia de Estrelas foi extremamente marcante para mim. Marca o início da minha profissão, daquilo que eu realmente já andava a investir. Portanto, até aí já tinha tirado dois cursos de formação de atores… A Academia de Estrelas acaba por ser a resposta que estávamos todos à procura (eu e a minha família).

Não ganhaste, mas marcou o início de um percurso televisivo.

O programa serviu para que os profissionais ativos e os profissionais do mercado pudessem ou não validar o meu talento (ou suposto talento). Foi marcante na medida em que eu considerei que de facto teria sido uma boa aposta e que valia a pena continuar a apostar num sonho.

Logo a seguir aparece o inesquecível Girafa na novela Saber Amar. O que recordas com mais alegria dos tempos de gravação da novela?

O projeto Saber Amar é igualmente importante para mim, pelas pessoas que conheci (desde os atores à equipa técnica). Foi um bocado a minha introdução dentro do mundo profissional da televisão. Obviamente eu não me canso de referir o Ruy de Carvalho e a disponibilidade que ele teve para mim, porque a minha responsabilidade não era pouca.

O Ruy de Carvalho deu-te muitos conselhos?

Sim! Foram muitos conselhos que eu se calhar terei levado alguns anos a conseguir decifrá-los, porque não são fáceis. São aquelas coisas que os grandes senhores dizem que depois só a nossa experiência é que fará então conseguir decifrar os vários planos de entendimento sobre aquilo que nos foi transmitido. Ouvi muito, ouvi bastante de alguém que tinha vontade de me ensinar. E isso levou tempo.

Quem mais te ajudou nesta jornada?

A Sílvia Rizzo, a quem eu devo muito a espontaneidade e a forma de se estar todos os dias no trabalho, como se deve apresentar a uma equipa e como se deve tentar transmitir uma boa energia para que as coisas corram bem. E depois todos os outros profissionais: Lúcia Moniz, Ricardo Pereira… todos eles grandes artistas e com quem eu lidei. E eu acho que terá sido a escola mais importante depois de todas aquelas que eu tinha tido. O Saber Amar vem como que a formação final, ou pelo menos a formação necessária para começar a trabalhar.

Desde 2008 que os convites para regressares aos ecrãs nacionais começaram a escassear. Como reagiste a este esquecimento e como lidaste com ele?

Eu nunca considerei que tivesse sido um esquecimento.

Mas estiveste ausente da televisão.

Sim, foi uma ausência. Mas eu nunca desapareci muito, talvez não com tanto destaque. A profissão de ator é uma profissão que mexe com muitos sentimentos e com a maneira de estar. E quando o ator não o faz, sente que não o é. E isso não acontece só a mim, acontece a muitos. Há muitos atores que passam pela chamada «travessia do deserto». Enfrentei muito bem o que é que poderia fazer mais, para puder trabalhar, para puder ter mais oportunidades de trabalho. E depois toda a história que já é conhecida e que eu acho que não vale a pena estarmos a «picar» outra vez.

Era sobre essa história que eu ia falar agora. Não sei se estás muito à vontade…

[risos] Eu estou à vontadíssima! Tantas vezes que eu já falei… Mas podes ir por aí. Eu falo!

Depois do grande sucesso, viveste uma das fases menos boas da tua vida. Acabaste por te refugiar no consumo de drogas e álcool. O que é que motivou este período negro? Foi o facto de não teres sabido lidar com a fama?

Não! Essa é uma coisa que eu respondo e depois ninguém [imprensa] põe isto que eu vou acabar de dizer. E isso é triste para mim, porque não tem a ver (nem teve a ver) com nada da televisão. Ou seja, o que eu costumo dizer é que eu teria passado por esse lado negro na vida mesmo que não fosse ator. E se calhar se eu não fosse ator, ou se eu não fosse reconhecido publicamente, ninguém saberia e ninguém teria dado valor.

Foi uma causa mais pessoal do que profissional?

Será sempre uma causa pessoal. Nunca se pode sair de uma situação destas apontando o dedo seja a quem for, ou seja ao que for, a não ser a nós próprios. Obviamente que qualquer rapaz de 22 anos, que sonhava desde os seis ser ator e fazer rir as pessoas, epá… claro que estava demasiado contente. Mas não foi esse deslumbramento. O deslumbramento já tinha passado quando eu dei por mim a perder o controlo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A principal causa fui eu, fui eu comigo próprio. Fui eu a tentar encontrar-me a mim próprio.

Já ultrapassaste completamente esse período?

É um período que já é passado. São quase cinco anos de recuperação. Obviamente que a gente nunca sabe o dia de amanhã, mas espero que corra tão bem como este que corre hoje.

Ultrapassado este contratempo, depois de teres estado internado numa clínica, voltas aos serões de domingo no enorme sucesso A Tua Cara Não Me É Estranha 2. O que mais gostaste no concurso?

O que eu mais gostei n’A Tua Cara não Me É Estranha foi a consideração e a oportunidade que me deram.

Voltaste a sentir o carinho e a saudade que o público tinha de te ver no entretenimento?

Voltei. Mas há uma geração que nunca deixou de me reconhecer. O Girafa ficou mesmo marcado, de certa maneira. E mesmo dez anos depois, ainda me apelidam de Girafa. Mas obviamente que voltaram a abraçar-me, e isso é bom – quando nós percebemos que estamos no caminho certo, que vale a pena estar aqui e que vale a pena dar o litro. Há pessoas que gostam disso e que apoiam isso.

A Tua Cara Não Me É Estranha consegue ser uma porta aberta para os telespetadores ficarem a conhecer o trabalho de um artista?

É uma excelente porta, quanto mais não seja pelas audiências que tem. Aliás, qualquer programa no domingo à noite na TVI é um programa bombástico. A Tua Cara Não Me É Estranha deixou muitas saudades ao público, e eu sei porque vou ouvindo aqui e ali – como talvez «dos melhores programas de entretenimento». Eu lembro-me de pessoas que se calhar não viam tanto televisão ao domingo à noite, que passaram a ver. É um formato vencedor e cativa audiências, que de outra forma não estariam lá.

Não está prevista uma nova edição de A Tua Cara Não Me É Estranha para 2015. Foi um erro a TVI «engavetar» este formato?

Não sou a pessoa a quem se possa fazer esse tipo de pergunta. Eu gostava, mas não faço a mínima ideia.

Foste convidado para integrar a equipa do Somos Portugal, programa que ocupa a grelha de programação dos domingos à tarde da TVI. Como tem sido trabalhar na equipa de reportagens do Somos Portugal?

O Somos Portugal tem sido muito especial. Têm sido três anos maravilhosos a viajar por Portugal, a ver pontos fantásticos que de outra forma eu dificilmente iria conhecer, comer do bom e do melhor do que se faz em Portugal e a conhecer pessoas fantásticas e espíritos de sacrifício fantásticos. Eu posso afirmar que Portugal tem um potencial que ele próprio desconhece, ou que não acredita. Portugal tem tudo para não precisar de nada. E se calhar às vezes nós, portugueses, não acreditamos nisso, mas tem!

Como lidaste com esta mudança de planos que a vida te trouxe?

Eu sinto-me muito bem a fazer isto, se calhar mais do que seria suposto, dado a minha formação (que não é de apresentador). Mas não é propriamente uma coisa que se faça e se se fizer bem é-se aceite. Ser apresentador, as pessoas têm mesmo que se sentir à vontade e deixar aquela pessoa entrar em sua casa e dizer o que tem a dizer. E isso nem toda a gente consegue. É um trabalho lento, não é um trabalho para toda a gente. Mas eu não sou apresentador do Somos Portugal, sou repórter de exteriores. Eu sou mais um elo de ligação entre o palco e as pessoas.

Mas gostavas de ser apresentador?

Sim, gostava. Não tenho problemas nenhuns em assumir isso. Acho que é um desafio excelente. E eu tenho visto tão bons apresentadores, que acabo por ficar inspirado por eles. É uma responsabilidade enorme, tenho estado ao lado dos melhores!

Quem são os melhores?

O Nuno Eiró acho que, inequivocamente, é dos melhores apresentadores que temos. A Mónica Jardim também. A Iva Domingues transmite uma cumplicidade que só ela consegue transmitir. A Isabel Silva, de tão carismática que é, tem provas dadas e já não faz só o Somos Portugal. Obviamente que haverá melhores, na opinião de outras pessoas, mas para mim estes são de facto os mais carismáticos, os que atingem mais as pessoas, os que são mais acarinhados dentro da casa do telespetador.

Há muitas pessoas que se queixam que «a televisão portuguesa está cada vez mais pimba». Há fundamento nas críticas?

É uma pergunta delicada. Eu acho que cada um tem o seu próprio gosto musical. O facto de o formato ser um bocado mais ligeiro português pode ser uma coisa que alguns telespetadores não se sintam à vontade; toda a gente avalia isso com as audiências, mas nós continuamos nos lugares cimeiros. Não sendo modesto, estamos no quarto lugar a competir com programas do horário nobre, e não somos horário nobre. De certa maneira, há muita gente que gosta e que não se importa nada.

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Temos bons artistas de música ligeira popular portuguesa?

Acho que temos excelentes artistas de música ligeira popular portuguesa e que vão ao Somos Portugal, mas também que marcam o mundo inteiro a tocar as suas músicas nas comunidades portuguesas. E isso é um trabalho válido, que muitos artistas e cantores da música pop portuguesa não conseguem (não conseguem fazer esse trajeto). Portanto, de certa maneira acho que às vezes a música ligeira portuguesa faz mais serviço público que a música pop portuguesa. E daí se calhar o respeito. Pode não ser o meu gosto total pessoal, mas respeito a opinião dos telespetadores que acabam por dar os números na segunda-feira quando chegam as audiências.

E a «praga» do 760? O público é «bombardeado» com o 760 de dez em dez minutos. Não consideras isso um exagero?

Isso são políticas de quem produz o programa, são políticas do canal. Atenção, não falaremos só do Somos Portugal. A televisão portuguesa está repleta disso. Acho que isso passou a ser uma forma de chegar às pessoas, de puder ajudar na vida real ao mesmo tempo que também se ajuda ao próprio programa. Se calhar antigamente os programas limitavam-se a ser programas e não ajudavam… Bem, eu não entendo tanto de televisão para puder opinar como deve ser.

Recentemente, criticaste veemente a postura da Débora no reality show do canal temático +TVI. «Sra. Débora Picoito, tanto para aprender e tão poucas oportunidades…». Acreditas na máxima «Deus dá nozes a quem não tem dentes»?

A crítica dirigida à Débora foi pelo comportamento que estava explícito no vídeo com duas pessoas [CC e Paulo Jesus], das quais eu tenho uma admiração incrível. De resto, desejo-lhe o melhor.

Achas que estas atitudes da Débora podem ser o reflexo da nova geração (um geração sem sonhos, uma geração que não sabe aproveitar oportunidades)?

Não… Eu acho que em todas as gerações temos pessoas assim. São maneiras de estar. Uns concordam, outros nem por isso. Há tanta gente que tem tanto talento e consegue ser arrogante, mas consegue safar-se com isso e até lhe fica bem.

Vês a Casa dos Segredos?

Sim, costumo acompanhar.

Que opinião tens sobre o programa?

Acho este grupo, da quinta edição, o mais fantástico que houve até hoje. É o grupo mais participativo e mais dinâmico (para polémicas ou seja o que for) que eu já vi. Acompanho porque tenho mais pessoas em casa que gostam de ver e, portanto, às vezes é o que está a dar na televisão. Gosto muito! Considero que às vezes há expulsões que possam não ser aquelas que eu escolheria, e talvez por isso fique intrigado, mas continuo a ver com todo o gosto.

Até onde é que vai a tua ambição em televisão?

Eu, principalmente, gostava de continuar a trabalhar todos os dias. O que eu gostaria de fazer é um bocado aquilo que houver para fazer, é aquilo que as pessoas considerarem que eu estou apto para fazer.

Gostavas de voltar ao mundo das novelas?

Sim, era um prazer. Acho que era uma reconquista, saberia a reconquista se isso acontecesse.

E novos desafios na TVI, além do Somos Portugal?

Gostava. Pode ser que alguma coisa aconteça entretanto, mas estou bastante contente com aquilo que tenho. Que isto não soe a ingratidão! E a TVI está atenta. Obviamente se o trabalho for bom, não vejo porque razão não continuar a fazer, seja no Somos Portugal ou noutros capítulos. Logo se vê se haverá mais capítulos ou não. Eu espero bem que sim.

Apesar de tantos trabalhos, nunca deixaste a música de lado. Atualmente, como está a tua carreira na música?

A minha carreira na música não existe propriamente. Eu faço alguns temas originais, com a minha experiência, com o meu trabalho. Não há editoras por trás, não há uma máquina por trás a trabalhar. Sou eu que faço. A música sempre me acompanhou e eu adoro escrever, adoro conseguir «musicar» aquilo que escrevo e, de certa maneira, vou editando, masterizando e lançando as coisas que vou fazendo, de uma forma mais doméstica (e não só). O meu último tema, «Inquietação», foi gravado num estúdio profissional, com ajuda de profissionais. De resto, carreira no mundo da música… vou fazendo os meus concertos acústicos pelo país. Na passagem de ano estarei no Duecitânia, hotel em Penela, e vou tendo alguns eventos.

Sentes-te uma pessoa realizada com o que fazes de momento e com o que já fizeste?

Completamente. Sinto-me uma pessoa cada vez mais resolvida. Não me sinto totalmente resolvido, mas sou muito novo para isso. Sinto-me feliz, os meus pais estão contentes com o meu progresso e trabalho, e acho que isso é aquilo que realmente importa no final das contas. No final das contas todas o que importa é que a família esteja lá e que toda a gente esteja unida.

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