fbpx

A Entrevista – Leonardo Marques

A Televisão
15 min leitura

Destaque2 Leonardo%2520Marques A Entrevista - Leonardo Marques

Revelou-se em Morangos com Açúcar, mas foi na novela Mulheres que teve o seu grande desafio. O miúdo irrequieto da oitava temporada dos Morangos cresceu e está muito diferente. Agora com 19 anos, brilha novamente no ecrã da TVI com um papel dramático: de bom aluno a jovem problemático. No entanto, a vida de ator não é um mar de rosas… A chamada «travessia do deserto» também bateu à porta de Leonardo. «Sofri com o decréscimo de fama, mas a minha família apoiou-me muito nesse sentido», confessa.

1 A Entrevista - Leonardo Marques

Estreaste-te em 2010 como Chico, nos Morangos com Açúcar. Esta foi uma das personagens mais marcantes da tua carreira e certamente ainda hoje é relembrada por todos.

Foi uma oportunidade muito boa. Eu estava a ver a sétima temporada e apareceu no rodapé da televisão se queria ser a próxima estrela dos Morangos com Açúcar. Perguntei à minha mãe se ela me deixava concorrer e se me levava depois a Lisboa (porque eu sou de Aveiro). Ela disse-me que não. Então, tive que conseguir por outros meios e o meio primo lá me deixou concorrer.

E foste o escolhido.

Sim! O Chico foi uma ótima maneira de começar. Foi uma personagem muito boa de construir porque dava para fazer muitas coisas numa personagem só, o que é muito complicado em novela. E eu só tinha 14 anos, não tinha experiência nem formação. Era muito difícil mas era muito bom.

Na altura tinhas a noção de que aquele momento que estavas a viver não era para sempre, e que podias passar por altos e baixos na tua carreira?

Nós pensamos sempre nisso. Pensamos sempre que pode não correr bem e podemos não ser aceites. Há muitos bons atores e que não fazem televisão… Enfim, são vários fatores que não têm nada a ver com o ser bom ou o ser mau ator. O que eu sempre fiz e estou a tentar fazer é dar o meu melhor e esperar que seja o suficiente para que o público goste e para que as pessoas que trabalham comigo também gostem.

Eras muito novo. Ficaste deslumbrado com a fama?

O problema não é a fama. O problema é quando nós deixamos de aparecer e há um decréscimo, o que é muito complicado. A minha família apoiou-me muito nesse sentido. Mas sim, sofri alguma coisa com esse decréscimo de fama.

O que é que motivou esse período negro?

Era muito difícil porque a minha personalidade ainda não estava bem construída e claro que foi difícil eu com 14 anos, com uma personagem também muito marcante em termos de público. As pessoas gostavam muito e eu sentia isso na rua. Passado dois anos depois de ter acabado a novela, ainda havia pessoas a reconhecerem-me. Mas claro que há um decréscimo.

Ainda te abordam na rua como o Chico dos Morangos? Reconhecem-te desses tempos?

Sim! É muito fixe, porque há crianças que reconhecem-me daquela altura e eu estou muito, muito diferente. É impressionante como é que isto ainda acontece.

E o que pensas do fim da série, depois de nove temporadas, tendo a última sido um flop de audiências?

Todos os bons formatos têm um fim e temos que perceber qual é o melhor momento de acabar. Não sei se foi um bom ou mau momento, mas foi um projeto que eu sempre adorei, mesmo antes de o integrar. Houve muitos atores a crescer naquela série. Atualmente é mais difícil de entrar na televisão, porque antigamente havia os Morangos e era a porta de entrada dos mais novos.

Achas que faz falta programas direcionados para o público mais jovem?

Sim, pessoalmente gostava que houvesse alguma série diferente do que já houve. Era giro.

Em 2014 iniciaste um novo projeto na TVI, a novela Mulheres. Como reagiste ao convite?

Ligaram-me para eu fazer o casting e fiquei, claro, muito contente por acharem que eu era bom para a personagem, ou que me queriam ver novamente para ver como é que eu estava.

Foi muito difícil a passagem do Chico para o César?

Eu gostei muito de fazer o Chico, foi mais de brincadeira, e esta personagem é muito mais dramática. Sim, foi muito difícil, porque eu nunca tinha feito uma personagem dramática. E foi difícil porque tenho cenas em que choro (e nunca tinha feito em televisão).

As gravações terminaram em novembro. Que balanço fazes da novela?

Foi um projeto muito bom. Trabalhei com grandes atores, o elenco é fenomenal. É uma história muito simples, feita de sentimentos e das ligações entre as personagens. É uma novela diferente do que se tem feito.

Começaste um César e acabaste outro. De bom aluno a um jovem problemático. Foi bom para ti, enquanto ator, conseguir fazer esse crescimento de uma forma não muito brusca, ser uma coisa gradual?

É uma personagem modelada, que não é tão básica e tão plana. E é muito bom porque eu sabia que a personagem ia crescer. No início eu era muito calmo (e acho que continuo a ser muito calmo). Mas a partir do momento em que o pai sai de casa, ele (César) tem que assumir uma posição de ajudar a mãe. Não é um bom começo, mas ele quer dinheiro rápido, o que é um bocado mau para um adolescente daquela idade. Depois é muito bom porque ele sente o que fez mal, ou seja, quando existe a morte do Beto, ele sente alguma culpa naquela morte.

Houve uma cena que eu sei que foi muito complicada de gravar. Foi um assalto e tu tinhas que chorar muito, porque foi a primeira cena que tu tiveste que chorar. A nível emocional é muito desgastante?

Essa cena foi muito complicada de gravar, porque eu acho que o que me falta muito é a técnica. Mas o diretor de atores ajudou-me muito nesse sentido, deu-me algumas dicas. É difícil a nível emocional porque eu tenho que começar a chorar compulsivamente a partir do momento em que entro em casa. E é muito engraçado porque a personagem aguenta toda a pressão quando está com pessoas, e quando está sozinha liberta toda a emoção que tem. E eu acho que isso é o mais difícil, mas foi uma cena muito boa porque me deu para crescer.

2 A Entrevista - Leonardo Marques

A TVI promoveu a novela como sendo uma história em que as pessoas se vão identificar com as personagens, com as histórias reais. Achas que o sucesso de uma novela passa por retratar uma realidade, deixando de parte o típico bonzinho e vilão da história?

É mesmo isso. Naquela novela costumo dizer que não há bons nem maus, cada pessoa tem a sua perspetiva e claro que fazem coisas que são más, mas os bons também fazem coisas que são más. Em Mulheres vê-se pessoas e não bonecos. Quando eu entrei nesta novela, a primeira coisa que me disseram foi que nós não podíamos fazer bonecos, mas sim pessoas que realmente existissem. Aquela pessoa existe, aquela pessoa ri, aquela pessoa chora. O ponto chave desta novela é diferente de quase todas as outras que se fizeram até hoje. E o elenco também é um ponto forte da produção.

O elenco é composto maioritariamente por mulheres, atrizes de renome na ficção nacional. Como é estar num projeto onde o mundo feminino tem o pulso firme?

Eu gostei muito. As atrizes são todas muito boas. E nós sentimo-nos «pequeninos»! É engraçado porque pensamos «nós queremos chegar um dia e conseguir ser tão bons atores como estes atores que estão à nossa volta».

Aprendeste muito com a Maria Rueff, a tua mãe na novela?

Foi muito bom trabalhar com a Maria Rueff. Eu acho que é uma atriz que é da velha guarda ainda (e isto é um bom elogio). Acredita que nós temos que viver em verdade e não viver para a câmara, o que é uma coisa que não se faz muito nos Morangos – em que nós vivemos muito para a câmara. E é uma atriz que nos dá muito que fazer. Estamos numa cena, não está nada escrito (só temos o diálogo) e ela manda-me arrumar pratos e lavar loiça. Ou seja, cria muitas coisas que na realidade se faz nas casas portuguesas, o que dá muito mais verdade à cena.

Há alguns atores da novela que defendem que Mulheres seria um êxito de audiências se fosse transmitida mais cedo. És da mesma opinião?

É claro que nós, como atores, gostamos de ver a nossa produção num horário mais cedo, mas acho que não podemos ver as coisas assim. Eu gosto muito do pensamento em que as novelas deviam ser feitas por horários, assim o público do horário veria a novela do início ao fim. E foi isso que se tentou fazer. Mulheres foi uma novela feita para aquele horário. E temos tido boas audiências! O que interessa é a novela ser boa e nós termos orgulho daquilo que estamos a fazer. E depois o público tenho a certeza que também vai gostar.

Mulheres é uma adaptação do original colombiano El Último Matrimonio Feliz e há quem considere isso como um retrocesso à ficção nacional. Há fundamento no que se diz?

Acho que sempre houve adaptações de novas coisas. E pelo que eu sei a novela não foi totalmente reescrita, não foi traduzida. Foram feitas algumas alterações. E a minha personagem eu sei que é completamente diferente do original. Acho que não, não é um retrocesso.

Entretanto, entre os Morangos e as Mulheres também fizeste telefilmes.

Fiz dois telefilmes, para a Plural e para a RTP. Vidas a Crédito e O Marceneiro, que fiz com o Ruy de Carvalho, a Cucha Carvalheiro e a Henriqueta Maia. Este último ainda não passou, está «engavetado». Não sei o que é que aconteceu, mas é um filme que eu quero muito ver porque ainda é na altura que estou muito pequenino.

Não ficas triste com esse «engavetamento»?

Não, não fico triste. É claro que gostava muito de ver o projeto, mas cabe ao «cliente» o que fazer com o projeto. Eu tenho conversado com algumas pessoas que fizeram esse filme e o produto final parece-me que ficou bom. Para mim seria muito bom vê-lo, sim.

Que conselho darias a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?

Muitas pessoas fazem-me essa pergunta. Eu nunca sei muito bem o que é que posso responder.

Nem uma dica?

A minha mãe sempre me disse que é muito difícil e que eu devo apostar noutra alternativa. Sei que nós devemos fazer aquilo que mais gostamos. Se a pessoa quiser mesmo ser ator ou ser atriz, deve apostar tudo aquilo que tem nessa opção. É lutar por esse sonho e trabalhar, não basta ter uma cara bonita.

Tu lutaste muito para chegares onde estás hoje?

Eu tive sorte no aspeto em que consegui, no primeiro casting que fiz, entrar nos Morangos. Acho que foi muita sorte, mas é claro que também foi muito trabalho. Nos Morangos e nesta produção eu tentei dar o meu melhor. Sim, acho que lutei para conseguir fazer o que tenho feito.

Que personagem gostavas de dar vida?

Eu gosto muito de personagens que façam rir. Mas eu gostei muito desta oportunidade de uma personagem mais dramática. Para mim, como ator, desde que consiga crescer como ator, qualquer personagem é boa.

O que é que queres mesmo muito fazer em 2015?

Agora estou a estudar Gestão na Universidade Católica. Neste momento não tenho nenhuma perspetiva como ator, no sentido de novelas ou teatro. Acho que vou fazer Erasmus para Londres e vou tentar fazer também alguns workshops em Londres, ou seja, apostar mais um bocadinho na formação e na técnica como ator e também como gestor. Tentar juntar as duas coisas fora do país, durante seis meses.

4 A Entrevista - Leonardo Marques

Siga-me:
Redactor.