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A Entrevista – Joana Latino

A Televisão
19 min leitura

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A trabalhar na SIC desde o início da SIC Notícias, há 13 anos, Joana Latino deu agora que falar depois de se casar num festival de música. A irreverência da jornalista é bem conhecida, por isso ninguém (ou quase ninguém) estranhou que a cerimónia do seu casamento com Sérgio Rodrigues acontecesse em pleno Rock in Rio. «Tem que ser sempre uma coisa que é a minha cara. E aquilo fez sentido para mim», confessou a repórter da SIC, já de aliança no dedo.

Joana, como foi casar no Rock in Rio?

Foi muito cansativo. Por um lado, porque foram mais pessoas interessadas pelo assunto ali para o recinto do que eu estava à espera. E por outro lado, só podia ser assim. Eu não podia casar de outra maneira. Quer dizer, imagino que sim, que haveria outras formas de eu puder casar sem ser da forma tradicional. Tem que ser sempre uma coisa que é a minha cara. Tudo aquilo que eu escolho para mim eu quero lá saber se é moda, se não é. Eu tenho que fazer uma coisa que faça sentido para mim. E aquilo fez, e também fez para o Sérgio, que fez o favor de casar comigo [risos].

Tinhas que ter um casamento à altura, algo diferente e especial.

Sim. Eu acho que todos são especiais… Toda a gente acha que o seu casamento é o melhor casamento, e ainda bem. E o meu calhou assim. Eu estava no Rock in Rio Brasil no ano passado quando fiz a reportagem de um casamento, e tinha acabado de receber o pedido de casamento. De repente, percebi: é isto! Propus ao Rock in Rio, eles aceitaram de imediato (o Roberto e a Roberta). E liguei para o meu amor, eram 4h30 da manhã: «Amor, vamos casar no Rock in Rio». E ele disse «Está bem, mas deixa-me dormir». E pronto, romanticamente foi assim que a coisa se deu.

Os teus amigos e familiares reagiram bem a esta ideia?

A família e os amigos mesmo chegados riram-se imenso e acharam super natural, não estranharam minimamente. «É a tua cara. Só podia ser assim». As outras pessoas é que ainda hoje me dizem «Eu pensava que tu estavas a brincar» e há outras que dizem «Mas aquilo foi mesmo a sério?». Lamento, mas foi [risos].

Aos poucos, tens vindo a ganhar reconhecimento na SIC. O nome «Joana Latino» já não passa despercebido pela grande maioria do público…

Bom, eu não sei se o meu nome é reconhecido assim dessa forma. Feliz eu sinto-me todos os dias por fazer jornalismo. É óbvio que o objetivo é que isso chegue a alguém, não é? Se for uma pessoa, eu já me dou por contente. Se forem mais, melhor ainda para a SIC e melhor para mim. Mas eu não me dou muita importância, sabes? Eu sou só mais uma ali, e faço o trabalho da maneira como faço porque não podemos fazer todos igual. Eu escolhi o meu estilo, e se isso agrada, ainda bem. Dou muita importância ao feedback das pessoas, e por isso é que tenho o Facebook aberto, porque gosto muito de saber o que é que as pessoas pensam.

Na SIC consegues trabalhar da forma que queres? Tens liberdade para dares o teu toque de criatividade?

Sim, felizmente a SIC acarinha muito esta minha diferença, este meu lado totalmente irreverente, este meu pensar fora da caixa, a minha desformatação, o facto de eu ser despenteada. Tenho mesmo muita sorte de ter ali muito carinho. Eu imagino que isso também seria possível noutros sítios… Também trabalhei na RTP –  na Antena 1, na 2 e na 3. E aí também me acarinharam e incentivaram muito esta minha diferença. «Tu és tu, tens o teu estilo. O teu trabalho é como é». E a partir de determinada altura até me começaram a dar as reportagens a mim, ou noticiários a mim (na rádio) – com espaços para mim, sabendo que é para fazeres à tua maneira.

Como é que se explica o sucesso da SIC Notícias há tantos anos face aos rivais? É uma questão de ter sido a primeira a surgir e ter criado habituação? Pela qualidade? Ou pelas duas?

Isso também conta, sim. Depois é outro factor, que é a SIC (generalista), a marca mais importante que tem – embora tudo o resto também seja de grande qualidade –, é de facto a informação. E a informação da SIC é um bocadinho diferente da da RTP, que é menos arrojada, porque a SIC quando começou, marcou por isso mesmo, pelo arrojo, pela inovação. E a SIC é um bocadinho mais fundamentalista no que diz respeito ao jornalismo da TVI. Portanto, suponho que é uma imensa imagem de credibilidade que a SIC tem. E depois é também o trabalho que tem sido feito pelo próprio canal, do qual me orgulho muito de ser fundadora. É um canal que mantem os padrões de qualidade sempre ali em alta e tem uma oferta de programas também que é particularmente interessante.

Tu dás nas vistas. Por um lado é bom, por outro não. Sentes que há alguma rivalidade em relação a ti, entre colegas?

Nos meus colegas da SIC eu não sinto isso. Sinto que naquele famoso grupo dos jornalistas no Facebook (que é supostamente fechado, mas às vezes vêm coisas cá para fora) que há muita crítica. E às vezes eu peço a esses colegas que me criticam: «Aponta-me um sítio onde eu tenha falhado eticamente, que deontologicamente seja discutível, onde os factos estejam deturpados, onde a verdade não esteja». E eles não conseguem apontar isso. Logo, eu acho que é uma reação ao que é diferente. Talvez seja normal, porque quando as calças começaram a ser descaídas, toda a gente estranhou, agora toda a gente usa. Ou seja, é uma questão de falta de hábito. Às vezes perguntam-me se faço isso para abrir algum caminho (se eu o fizer, é totalmente inconsciente, porque eu faço apenas o que a minha essência manda fazer).

O que é que te tira do sério?

Pessoas que mentem. Não sou capaz de mentir, nunca fui capaz. Minto, já menti, óbvio. Não vou dizer «Ai, nunca menti na vida…». Ah! Push, ganda mentira, não é? Mas sou sempre apanhada na mentira, porque quando eu minto, é preciso uma elaboração mental tão grande… Dá tanto trabalho mentir. «Eu ontem fui ao cinema com não-sei-quem ver não-sei-o-quê». Não foste, e depois alguém pergunta-te pelo filme, e tu «Eu nunca vi!». «Então não foste ontem?!». Pronto, eu sou logo apanhada na mentira. Nem me dou muito ao trabalho de mentir, a não ser aquelas mentirinhas do «Estou quase a chegar» e ainda estás ali a 20 quilómetros.

Assim como fizeste hoje para esta entrevista, não é?

Não, por acaso com vocês não fiz. Até me despachei rapidinho! Mas essas mentiras são mais ou menos aceitáveis, pois o que tu queres é deixar as pessoas confortáveis, tranquilas. Agora, há pessoas que o fazem compulsivamente, para conseguir determinadas coisas, e para ultrapassar determinados obstáculos. Prefiro lixar-me com uma verdade do que beneficiar-me com uma mentira.

No verão de 2013, a SIC transmitiu Tá a Gravar, uma série de sete episódios sobre os bastidores de uma novela. Que balanço fazes desta aventura?

Foi um desafio do meu diretor de informação. Havia um problema porque nos meses de verão nós temos um jornal de 1h45, e às vezes é difícil encontrar conteúdos. Então, o meu diretor lembrou-se dos bastidores das novelas, porque estava quase a arrancar uma novela na SIC. E a nossa ideia era fazer as novelas todas (da SIC, da RTP, da TVI). Ora, a empresa que faz as novelas da TVI, por alguma razão achou que nós íamos para lá fazer espionagem industrial. Não sei o que é que pensaram, e não nos abriram as portas. Portanto, eu fiquei exclusivamente com a produtora que faz as novelas da SIC e da RTP (SP Televisão). Naquele momento, as gravações da RTP (Bem-vindos a Beirais) estavam já numa fase avançada, e era muito difícil entrar ali a meio. E na novela da SIC nós tínhamos tudo a começar desde o início – desde a construção dos cenários, a construção das personagens, os primeiros guiões… E focamo-nos só naquilo. Nunca falámos de que novela era, de que canal era. Nós fizemos os bastidores de uma novela.

Já começaram a matutar numa nova série?

Tens que perguntar ao meu diretor [risos]. Não sei. Eu sou mais uma executante do que uma idiota (de ter ideias), ou seja, eu lembrar-me de coisas para fazer… mal me lembro, porque eu ando sempre ocupada com as tarefas que me dão, que… venham elas. Desafiem-me que eu faço. E aquilo [Tá a Gravar] não foi uma proposta minha, foi uma ideia do Alcides Vieira, que é o meu diretor, que me deu toda a liberdade para fazer como eu quisesse. Foi uma experiência brutal e que eu gostava de repetir. Mas eu não posso fazer muitas coisas daquelas, porque é muito angustiante para mim. Eu sou mais do imediatismo: rebentam uns explosivos, eu estou lá. O stress é mais a minha coisa.

A tua reportagem com o David Hasselhoff, em março deste ano, gerou uma grande polémica. Apenas fizeste uma corrida na praia… Será que os portugueses não têm sentido de humor?

Os portugueses gostam muito de se rir dos outros, de uma forma má. E de dizer mal dos outros, de uma forma má também. Eu gosto acima de tudo de me rir primeiro de mim própria, e gosto de me rir com os outros. Não digo mal de ninguém. Se me perguntares se eu gosto dos teus ténis, se os detestar sou capaz de te chamar à parte, e não publicamente, e digo: «Eu não curto muito». Mas tranquilamente, com carinho. O português não é assim. Adora dizer mal de tudo e de todos, sobretudo sem conhecer. Adora não pensar nas circunstâncias dos outros, julgar e criticar gratuitamente. E eu não sou nada assim. Tive uma educação bastante diferente disso e a minha própria personalidade é completamente avessa a esse tipo de coisas. Está na minha natureza. Eu não pus ninguém a correr pela praia em câmara lenta, pus-me a mim própria! Não sou a Pamela Anderson, não tenho as medidas ideais. Sou uma rapariga gorduxa, normal. E pronto, fiz uma brincadeira.

És muito amiga da Rita Marrafa de Carvalho, jornalista da RTP. Sonhas um dia trabalhar com ela?

Não! Eu acho que ninguém está preparado para ter uma Joana e uma Rita, uma ao lado da outra. Era demais, era demais! Nós temos personalidades muito fortes, damo-nos muito bem. A nossa amizade não tem nada a ver com a profissão. Portanto, é-me indiferente trabalhar com ela ou não. Eu acho que ela diria exatamente o mesmo. Claro que diria, nós estamos sempre de acordo (somos tão enjoativas).

Se ligássemos agora à Rita, e pedíssemos para ela te descrever numa palavra, o que achas que diria?

Amor, acho eu. Acho que é a palavra que há entre nós, é amor. É uma coisa muito difícil de explicar, porque às vezes até brincamos… O que é que as pessoas pensam da nossa relação? Na volta acham que nós somos amantes, lésbicas, qualquer coisa. Não teria mal nenhum se fossemos, mas não é isso. É outra coisa. Por acaso até somos as duas heterossexuais, e podíamos não ser, mas não tem nada a ver. A nossa amizade é uma coisa que vai muito para além disso.

Gostavas de ter um programa teu?

Não, não. Toda a gente me pergunta isso. Não faço questão nenhuma. Eu sou muito mais de fazer, do que idealizar. Eu gosto é de: «É para fazer o quê?» e vou lá e faço. Detestaria ter um cargo de chefia, também. Detestaria ter um programa meu… para fazer o quê, para dizer o quê?

Assusta-te essa responsabilidade?

Não, acho é que não tenho capacidade para isso. Vamos fazer aqui uma analogia com o futebol: um gajo que é o melhor jogador de futebol do mundo não vai ser necessariamente o melhor treinador. Portanto, deixem-me lá jogar à bola! Deixem-me jogar à bola. Nisto eu sou fixe (aparentemente). Vá lá, vamos presumir que sim, que eu sou fixe. Se estou bem a jogar à bola, deixem-me jogar à bola. És bom aqui, deixa-te estar aqui. Porque é que vais subir patamares para depois chegares ali e seres a maior porcaria? Um programa… eu não sei o que é que acrescentaria. Achas que as pessoas têm vontade de um programa só da Joana?!

Acho que sim, quem sabe…

[risos] És um querido! Um programa para dizer parvoíces, não é?

Poderia ser algo ligado a outras áreas. Entretenimento, por exemplo.

Sim, toda a gente diz isso, que a minha desformatação poderia dar para o entretenimento. Mas eu não sei isso, não sei. Sinceramente, se alguém quiser fazer-me o desafio, eu vou lá e experimento.

Aqui a questão é: gostavas ou não gostavas?

Eu faço o que me pedirem para fazer! Se eu gostava ou não? Não sei, porque não fiz ainda. Não sou nada de criar expectativas, nem de imaginar cenários. Sou muito com os pés bem assentes na terra, apesar deste ar super áereo. Se alguém acreditar em mim e me ajudar a desenvolver um projeto, ok. Agora eu vir aqui: «Ai, vou ficar aqui meia hora a falar num programita»… Não.

Recentemente, dedicaste um post aos teus pais, que partiram muito cedo. Como é que geres este vazio na tua vida?

Eles partiram prematuramente, mas tive a sorte de me terem educado de forma muito pouco à portuguesa. Educaram-me muito para ser independente, para procurar o meu espaço. Apesar de eu os ter perdido cedo, estava preparada. O meu pai morreu muito depressa, a minha mãe morreu muito devagar. E o facto de o meu pai ter morrido muito depressa foi bom para ele, porque ele não queria ficar velhote e dependente. Ele tinha muito a necessidade de morrer de repente, portanto, seja lá o que for, isso foi-lhe permitido. A minha mãe tinha mais coisas para resolver na vida e morreu mais devagarinho. E foi possível resolver muita coisa com a minha mãe, e sobretudo permitiu-lhe a ela resolver-se muito bem, porque ter um cancro e saber que é terminal é uma coisa terrível. Isso fez-me perceber duas coisas muito importantes: uma é – nós sobrevivemos (temos capacidade para sobreviver à maior das dores), e a segunda coisa foi que, de facto, a alegria por estarmos vivos é uma coisa que muito poucos de nós damos valor.

Aprendeste a desvalorizar certas coisas que não têm muita importância?

Completamente, sobretudo as pessoas que adoram odiar, e que adoram estar deprimidas, e que adoram estar doentes, e que adoram estar mal com o mundo, e que adoram queixar-se, e que adoram achar que tudo é uma porcaria. Não consigo perceber isso. É-me… indiferente. Estou bem, estou aqui. Neste momento estou aqui sentada, não tenho fome, não tenho sede, não tenho frio. Neste momento não devo dinheiro a ninguém, não me falta nada.

És uma mulher feliz?

Sou, sou. Sou uma mulher muito feliz.

Realizada?

Sim… Mas ainda tenho muitas coisas para fazer.

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