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A Entrevista – Estacionamento Reservado

A Televisão
15 min leitura

Destaque2 Er A Entrevista - Estacionamento Reservado

Como o nome do talk show sugere, João Montez e Mélanie Santos reservam o estacionamento a famosos do panorama atual português, na garagem de sua casa. Basicamente é… um mata, o outro esfola. Ao longo da entrevista, os apresentadores mantêm uma atitude estranha e constrangedora com os seus convidados, onde por vezes acabam mesmo por ser os seus antagonistas. Eles estão a tentar fazer algo que ainda não foi muito explorado em Portugal – a entrevista baseada no awkward moment. Estacionamento Reservado não é, de todo, o típico talk show em que o convidado despeja episódios da sua vida pessoal/profissional.

1 A Entrevista - Estacionamento Reservado

Contem-me lá um bocadinho sobre a história do Estacionamento Reservado. Quem é que convenceu quem, quem é que empurrou quem?

Mélanie Santos: A ideia deste projeto surgiu de forma muito espontânea. Talvez seja clichê dizer que não estávamos à espera que tudo evoluísse tão rápido, mas é a mais pura das verdades! Já éramos colegas de faculdade e amigos há muito tempo. O João tinha acabado de finalizar a sua participação no CC Casting, na SIC Radical, tendo-se sagrado um dos dois finalistas. É muito comum acharmos que nestes momentos todas as portas estão fechadas, mas surpreendentemente, eis que nos chega sempre alguém com uma ideia original, ou um projeto aliciante e inovador.

João Montez: Foi este o caso! Em vez de lamentar a perda no concurso, a Mélanie propôs a criação de um projeto a dois. A ideia era sermos diretores de nós próprios, sem termos de dar satisfações a ninguém. Partimos de uma ideia inicial que nos pareceu interessante: um programa de entrevistas com a duração máxima de sete minutos, direcionado, numa fase inicial às redes sociais, nomeadamente, o YouTube. E nasce o Estacionamento Reservado,  que como o próprio nome sugere, acaba por ser um espaço reservado a caras conhecidas do panorama atual português, convidadas por nós. E são mesmo escolhidas a dedo!

Chama-se Estacionamento Reservado porque a série é filmada numa garagem (a garagem do João Montez).

MS: Conseguimos o impossível logo desde o início. Tínhamos uma tela em branco; alguns metros quadrados de garagem totalmente ao nosso dispor.

JM: O cenário foi construído com mobílias e adereços que estavam para lá esquecidos. É um décor low budget, mas que contou com a ajuda de um grande profissional e amigo, o cenógrafo Paulo Madureira.

Vocês vêem-se agora aqui no papel de produtores, realizadores, apresentadores… ou seja, fazem tudo. Como é que se gere todo esse esforço?

MS: Essa tem sido a parte mais difícil. Temos de nos organizar muito bem e saber gerir o tempo. Tem de existir uma certa consciência de quando é que é a altura certa de sermos os realizadores e produtores; e depois saber «desligar o chip», quando começamos a gravar, assumindo o papel de apresentadores do programa.

JM: Ainda assim, temos uma equipa técnica que, no fundo, é muito mais do que isso. São amigos nossos que nos ajudam e que também merecem todo o protagonismo neste Web Show. Sem eles, nada era possível, são incansáveis! Eles também são o Estacionamento Reservado.

«Essa tem sido a parte mais difícil». Portanto, dás por ti, estás ali e não estás a curtir aquilo que gostavas de estar a curtir.

MS: É de facto complicado, não pelo facto de dar trabalho, porque nós adoramos fazer isto, mas porque há sempre pormenores que nos escapam por termos de ser nós a tratar de tudo. Quando chega a altura de apresentar o programa, não curtimos a 100% essa parte porque estamos focados também nos outros pormenores mais técnicos, ou seja, estamos a apresentar e ao mesmo tempo a pensar se o plano está focado, ou se os microfones estão ligados. Mas acho que é uma questão de tempo até nos habituarmos e afinarmos tudo.

És a assistente do João. Tencionas roubar-lhe o protagonismo?

MS: [risos] Nada disso. Somos os dois protagonistas do programa, apresentamos à vez, e ninguém rouba o protagonismo a ninguém. Cada qual tem o seu estilo, cada qual tem as suas referências e acho que nos completamos e funcionamos bem, por isso é que desafiei o Montez.

Sentes que a Mélanie gostava de estar no teu lugar?

JM: Às vezes [risos]. Não, estou a brincar! Nunca senti tal coisa. Ela tem muito mais pinta que eu. A verdade é que estamos os dois aqui para o mesmo. Todas as decisões do Estacionamento Reservado são tomadas a dois.

A grande marca do Estacionamento Reservado é a entrevista baseada no awkward moment, creio eu.

JM: Sim, ainda que seja uma marca difícil de atingir, por vezes. Estamos a tentar fazer algo diferente, algo que ainda não foi muito explorado em Portugal – a entrevista baseada no awkward moment, onde os apresentadores funcionam quase como antagonistas do próprio convidado.

MS: A entrevista tradicional não é, de todo, o nosso objetivo. Queremos surpreender o convidado. No entanto, por vezes, somos nós que saímos dali surpreendidos. Não damos apenas o nosso cunho pessoal, o convidado também deixa sua marca e por vezes mostra uma parte da sua personalidade que era desconhecida pelo público, até então.

Basicamente, os convidados estão à espera de ter uma conversa normal, mas acaba por acontecer precisamente o contrário.

JM: Exatamente! Temos um guião com várias perguntas, sem respostas ensaiadas. Começamos a conversa de uma forma cordial e informal, e vamos vendo até onde podemos ir. Há perguntas com o seu quê de malícia engenhosa, e que criam momentos constrangedores ao longo da entrevista. Paira sempre um ambiente estranho e algo controverso entre nós e os convidados. Muitos deles saem dali surpreendidos e a pensar: «Mas o que é que aconteceu aqui?!». Se por sua vez o espetador também sentir este constrangimento, então, estamos lá! Era isso mesmo o pretendido.

MS: Ao contrário do que muitos pensaram após o primeiro ER, o formato que pensámos não almeja ser o típico talk show em que o convidado despeja episódios da sua vida pessoal/profissional. Embora também tenhamos curiosidade em desvendar alguns segredos bem guardados à nossa maneira.

No primeiro episódio, com o Diogo Faro [Sensivelmente Idiota], houve uma reportagem de rua. Vão continuar a apostar em extras para as entrevistas?

MS: Sim, é um dos nossos objetivos. Mas a gestão de tempo do programa tem que ser muito cuidada, de modo a garantir que não deixamos nenhuma pergunta importante (ou maliciosa!) para trás. Pelo que nem sempre é possível criar esse dinamismo.

Foto Er A Entrevista - Estacionamento Reservado

Sem medos: celebridades difíceis para o vosso sofá.

JM: Ui! Temos várias. Poderíamos até enumerar uma lista interminável de nomes nacionais e internacionais. Mas como o Estacionamento está apenas Reservado a celebridades portuguesas, seria um prazer receber no nosso sofá, o Rui Unas (esse Lorde da televisão portuguesa!), o José Castelo Branco (não sabemos bem porquê… mas gostávamos!), ou por exemplo, o Professor Aníbal Cavaco Silva (conta como celebridade?).

MS: As perguntas seriam tantas e tão boas que não temos a certeza se os sete minutos de entrevista iriam ser suficientes. Seriam entrevistas diferentes, certamente. Apostamos até que alguns dos entrevistados iriam sair dali mais cedo do que o previsto…

Para o YouTube, não há muito pessoal que queira ver muito mais do que cinco minutos. Têm noção disto? Se o vídeo não for dinâmico, é para esquecer.

JM: Sim, claro! Essa foi justamente uma das premissas de partida. Teria que ser uma entrevista de curta duração, mas suficientemente estranha (ou constrangedora) para que as pessoas não abandonassem o nosso canal/vídeo logo no primeiro minuto. Ainda assim, por vezes esticamo-nos…

Ultrapassar o Cristiano Ronaldo nas redes sociais… é um objetivo de vida?

MS: Não é um objetivo de vida, mas se acontecesse era bom [risos]!

JM: Criámos o Estacionamento Reservado e vamos continuar a fazê-lo tanto para mil como para dez mil espetadores. Os objetivos passam por crescer. Não vamos ser hipócritas, é claro que os nossos níveis de realização pessoal e profissional são diretamente proporcionais ao crescimento e sucesso do ER.

MS: E porque sonhar não faz mal a ninguém, seguramente uma meta a atingir, e que nos deixaria radiantes, seria fazer chegar o ER à televisão.

Passar do YouTube para a televisão…

MS: Sim, sem dúvida! Acreditamos que estamos a caminhar para esse objetivo. Ainda há bastante trabalho pela frente, mas com calma, vamos lá. Esperamos pacientemente por uma boa proposta, também [risos].

JM: No entanto, prognósticos, só depois do jogo. Agora é continuar a trabalhar para que o lugar de estacionamento continue a estar reservado por muitas mais semanas.

Planeiam substituir o Daniel Oliveira no Alta Definição? Realmente, a pergunta «O que dizem os teus olhos?» já está muito batida.

MS: O tipo de entrevista que o Daniel Oliveira faz é muito diferente, ele explora o lado sentimental do convidado a partir de memórias.

JM: Nós exploramos a reação do convidado quando este é confrontado com perguntas que o deixam desconfortável. Acabando por ser levado até ao limite (ou quase).

Como é que tem sido o feedback até agora?

MS: Temos recebido bom feedback, sim. Mas por norma, damos especial atenção às criticas construtivas por parte de amigos, conhecidos e pessoas que seguem o Estacionamento Reservado. São essas que nos permitem melhorar o nosso trabalho.

JM: Claro que estamos sempre atentos às criticas vindas do público em geral, e estamos muito agradecidos a todos aqueles que nos apoiam positivamente.

Mélanie, tu já fizeste várias coisas em televisão. Não caíste aqui de paraquedas…

MS: Não caí aqui de pára-quedas, já tinha experiências televisivas anteriores. Entrei na segunda série dos Morangos com Açúcar, onde fazia de Caty – namorada do Tójó [risos]; fiz vários castings; fui finalista do casting do Rock in Rio; apresentei o Auto Foco n’A Bola TV e trabalho para um site de after market automóvel, o Autoaftermarketnews.

João, chegaste à grande final do CC Casting, mas a vitória foi atribuída ao Idevor. O quão difícil é morrer na praia?

JM: Não vou mentir: é difícil! É sempre complicado pensar que estivemos tão perto de alcançar algo e que, de repente, deixámos escapar esse objetivo por entre os dedos. No entanto, diverti-me imenso durante os quatro (longos) meses do casting e os cerca de nove programas que apresentei. Aprendi bastante com a experiência. O CC é, de facto, uma escola. Só tenho a agradecer a toda a produção e a todas as pessoas que acompanharam o casting que, de uma forma ou de outra, iam deixando sempre uma palavra de apoio.

Mas agora estás ativo na televisão.

JM: Além de participações como ator em novelas como Bem-vindos a Beirais e Mar Salgado, o projeto que mais me preenche na atualidade é o Ora Acerta. Um programa das madrugadas da TVI que acabou de estrear. O programa é feito em direto a partir de Budapeste e tem tido muito sucesso desde a sua estreia. Estou a divertir-me bastante. É uma experiência totalmente diferente e espero evoluir enquanto profissional. Não apenas com este projeto, mas também com propostas futuras!

O mercado está saturado. Será que não há espaço para projetos diferentes, como o Estacionamento Reservado?

JM: É uma ideia empreendedora que poderia muito bem integrar um espaço cativo na televisão portuguesa. Assistimos a uma fragmentação do setor. O  aparecimento e proliferação dos canais por cabo veio transfigurar completamente a TV generalista que, dado o panorama nacional, se vê forçada a apostar naquilo que grande parte do seu público alvo prefere. Em vez de ter uma programação verdadeiramente generalista!

MS: O mercado está saturado, é uma realidade. Acaba por ser muito difícil dar a devida atenção a projetos mais pequenos. Infelizmente, hoje em dia, existe uma aposta recorrente aos mesmos formatos pois são os que geram mais buzz e lucro. Dado o período que atravessamos, consigo compreender este fenómeno. Mas sem dúvida que há falta de «frescura» na televisão portuguesa.

JM: O Estacionamento Reservado tem o seu espaço para já: a web. A ideia de começarmos este projeto foi exatamente lançar algo que fosse completamente nosso, e conseguimos! Se faria sentido ter espaço num canal da cabo dedicado ao entretenimento? Provavelmente teria, e nós gostavamos de eventualmente vir a dar esse passo!

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